Uma Garota Discriminada [COMPLETO]

14.2

Eu não quero me perder em todas minhas inseguranças. Se eu contasse todas elas para você, a quem machucaria mais, você ou eu? 

- Wallows

O que Jacob revelou me deixou pensativa por horas. Todas as provas apontam para que Lisa seja a assassina de Courtney e suas últimas falas comprovaram bem isso.

Aprendi uma lição importante nesses meses estudando no Red: Nunca confie cegamente em nenhum grupo que você venha fazer parte. Tanto em quesito escolar, como em social ou formal. Sempre acabará mal de alguma forma e só contribuirá para mais traumas, assim como vem acontecendo.

São muitas informações para processar, muitas hipóteses para refletir. E se Lisa realmente matou Courtney? Para isso ela teria que ter motivos plausíveis. Talvez tenha sido por vingança, já que desconfiávamos que Evangeline fosse a culpada pelo assassinato de Beatrice e Henry...

Estávamos seguindo um plano, que foi arquitetado por ela e por Tom. O quadro de suspeitos, o diário de Beatrice, as investigações à parte. E se ela estava nos manipulando durante todo esse tempo? E se fomos apenas peças em seu jogo, para que chegasse ao real objetivo?

Porém, que objetivo seria esse?

— Não gosto nada dessa sua cara — Jacob avisa, mordendo sua rosquinha.

— Estava pensando no que você me contou e nas razões que Lisa deve ter.

— Minha cabeça vai explodir a qualquer momento de tanto pensar nisso.

Foco em seus olhos cansados, com olheiras profundas os emoldurando. Desde a festa de ano novo ele não está bem, percebi isso há dias, mas resolvi dar um tempo. Ele parece estar carregando muito mais fardos do que deveria, podendo surtar a qualquer momento.

A verdade é que Jacob ainda é uma incógnita para mim, porque nunca me contou sobre sua vida e o que se passa desde o dia em que seu pai fez o que fez. Aliás, tudo o que descobri ao seu respeito foi através dos outros, não dele. Como seu relacionamento com Jullie, por exemplo. Não faço ideia do que aconteceu entre eles, mas sei que terminaram semanas depois que Beatrice morreu e a garota se mudou para a Austrália com os pais.

Às vezes quero questioná-lo, pedir para abrir o jogo, para me deixar ajudar, mas me lembro do que a minha psicóloga me disse sobre pressionar outros. As sessões começaram há meses, bem depois da minha crise em que meu pai me ajudou. Está ajudando, mas não como imaginei.

— Por que está me olhando assim, Ana?

Ele solta a rosquinha com cobertura de limão e limpa as mãos com o guardanapo, dando-me toda a sua atenção.

Umedeço os lábios, fitando seus olhos outra vez. São os únicos pares de olhos que eu posso encarar sempre que quiser, porque neles não haverão repulsa, nojo, superioridade. Haverá apenas carinho e afeto, pelo menos até hoje.