Pesadelo

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Eu não acredito. Eu não acredito.

Eu. Não. Acredito.

Essa frase passava repetidas vezes na mente de Catra. Ela simplesmente não acreditava no que havia acontecido. Ela tinha, finalmente, beijado Adora. Parecia mais um sonho, um sonho realizado.

Para aquietar sua mente, a morena desceu um pouco a cabeça, repousando um pouco acima do peito de Adora para ouvir os batimentos de seu coração. O coração de Adora estava fazendo inveja a uma aula de samba, de tão rápido que batia. Isso, de algum modo, acalmou a felina. Ouvir os batimentos acelerados foi uma confirmação de tudo o que aconteceu. E o que foi dito uma para a outra. Catra enrolou sua cauda em volta da perna de Adora, enquanto se lembrava, com clareza, de tudo o que aconteceu depois que passou pela porta.

Adora abraçava Catra, e não iria parar de abraçá-la tão cedo. A loira tinha um sorriso enorme no rosto, e estava se controlando para não ficar muito emocionada e acabar chorando. Mas estava sendo difícil. Ela sentia a vibração que vinha do corpo de Catra, um ronronar contínuo.

— Sabe, eu sempre amei ouvir esse som. O seu ronronar me acalma.

Por mais que o momento seja fofo, Catra não conseguia ficar muito tempo sem provocar a maior.

— Te acalma? - Adora respondeu com um som nasal. - Seu coração diz o contrário. - A felina sorriu, ainda com a orelha encostada no peito de Adora, ouvindo as batidas ficarem mais fortes.

— Ele é um traidor.

Catra riu levemente, se aconchegando mais no corpo de Adora. Se ela passasse mais alguns minutos nos braços de Adora, iria acabar dormindo e não era uma má ideia. Ela fechou os olhos, sentindo o cansaço do corpo e as pálpebras pesarem. Consequências da crise e dos remédios. Sendo metade felino, ela já passava longas horas dormindo, tendo várias sonecas durante o dia - o que a deixava com atividades pendentes. Agora com a doença, em qualquer lugar confortável e seguro, ela dormia. Como um verdadeiro gato.

— Desde quando... você soube o que sentia? - A pergunta de Adora fez Catra continuar acordada, mas ainda assim a felina estava grogue.

Ainda por estar com o pé no mundo dos sonhos e o outro na realidade, Catra respondeu sem filtro algum.

— Na primeira vez que vi você, eu acho.

Adora ficou surpresa com a revelação. Ela esperava ter sido durante as suas tentativas de aproximação, mas foi bem antes. Ok, todas as tentativas dela foram sutis demais. O único momento em que quase se beijaram foram interrompidas por uma torradeira. E nem era uma de suas tentativas.

— Na faculdade? - Se fosse antes, seria na faculdade. Não tinha como ser...

— No elevador... - Catra respondeu com a voz baixa e rouca. O outro pé quase indo para o mundo dos sonhos também. A mente de Catra mal processava direito aquela conversa, ela escutava e respondia. Não sabia ao certo se foi a crise, os remédios ou os vários copos de chá que estavam derrubando ela. Talvez a soma dos três.

Adora ficou quieta, sua mente relembrando todos os momentos delas depois do encontro no elevador. Ela começou a amaldiçoar sua lerdeza. Se prestasse mais atenção no comportamento de Catra, ela teria notado. Não é à toa que seus amigos perceberam antes dela. Ainda mais depois da noite que tiveram no bar, toda a química delas. Mas a sua mente não aceitava. A mente pode ser uma grande vilã às vezes.

Catra se remexeu, passando seus braços pelo pescoço de Adora. Agora sim, ela estava pronta para dormir. A última imagem que passou em sua cabeça, foi da expressão de desconfiança de Adora no elevador. Catra sorriu, totalmente sem filtro, falou o que pensou.

Salvação - Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora