O Sol Dentro de Nós

3.2K 268 393
                                    


Pensar que há algumas horas estava sentada no chão de seu banheiro, logo após de ter uma crise - que não foi por conta da doença. Largada no frio do piso, segurando cápsulas de remédio que outrora era para ser um mecanismo de escape, e sua outra mão com sangue pelo ferimento que ela mesma causou em sua costela. Era surreal.

Agora, sentada no conforto de seu sofá depois de uma ótima refeição de sanduíches. Um desenho aleatório passava na TV, o ambiente estava aconchegante com a fraca luz vindo da cozinha. Não era mais a escuridão que tinha antes.

A paz em que ela se encontrava não seria alcançada sem ajuda da pessoa que estava com a cabeça repousada em seu colo, assistindo com fascinação o desenho.

Catra aproveitou o raro momento de Adora estar com os cabelos louros soltos e passou a mão neles, começando uma carícia leve.

A felina se lembrou da conversa mais profunda que tiveram. Se analisasse tudo com mais atenção fazia sentido da Adora ser desse jeito: ansiosa; auto-sabotagem e se algo der errado, mesmo não sendo a responsável, ela se culpa.

A infância de Adora foi regada de maus momentos. A pressão que ela deve ter sentido, e ainda sente, corroeu sua saúde mental. Mas vendo a loira tão em paz, rindo das bobagens que os personagens do desenho falavam, nem parecia que teve sequer um momento ruim em sua vida.

Catra admirava muito isso em Adora que, mesmo passando por vários momentos ruins, ela não os deixou vencer. Continuou em frente, continuou vivendo, para estar ali. A morena sabia que Adora tinha suas recaídas, como no dia em que "dormiu" e viu a maior se remexendo na cama, por causa de um pesadelo.

Naquele momento, vendo o desenho bobo com Adora, Catra fez uma promessa para si mesma: que sempre que Adora ter uma recaída, ela estará lá.

A felina sabia como era passar anos se escondendo atrás de suas muralhas, tentando se proteger de qualquer um. Ela mesma passou tempo demais com essas muralhas, mas desceu uma ponte para uma pessoa entrar. E, talvez, no futuro não haverá tantas muralhas.

E se ela quisesse melhorar para que isso acontecesse, tinha que se abrir. Ser mais comunicativa e atenciosa. Claro que não será assim com todos, apenas com aqueles que ela considerava próximos. Uma lista pequena de cinco pessoas mais precisamente, mas já era algo.

E como ela era uma gata que agia por impulso na maioria das vezes, Catra não ia deixar essa pequena coragem passar. Tinha que começar a ser mais comunicativa e atenciosa, nada melhor do que fazer com a pessoa que ama.

Dizer para alguém que a amava não era um passo aos olhos da felina, era um salto. Digno de um canguru. Ainda mais quando você nunca disse tais palavras para ninguém em sua vida. Seria a primeira vez que Catra iria dizer, a frase toda e com sentimento.

A morena respirou fundo, olhou para janela onde a luz do Sol passava entre a pequena fresta da cortina. Sentia seu nervosismo crescer conforme imaginava mil cenários do que poderia acontecer depois de dizer.

Respirou fundo mais uma vez.

Era agora ou nunca.

Para alguém que passou a vida tentando não ser vulnerável, o "nunca" era tentador. Mas se ela queria mudar, tinha que escolher a primeira opção.

Catra desceu sua mão, saindo dos cachos louros para o rosto de Adora. Percebeu a loira virar o rosto para a encarar, mas ela não conseguiu olhar nos azuis serenos daqueles olhos.

Catra, ou você fala ou eu te bato aqui mesmo, a felina entrou em uma briga interna consigo mesma.

Por tudo que é mais sagrado, OLHA NOS OLHOS DELA, a parte emocional gritou em sua mente.

Salvação - Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora