Como Eu Era Antes de Você

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Cinco meses atrás.


Adora acordou no mesmo horário de sempre, 5:30h da manhã. Seu corpo, no automático, já se preparava para a rotina já monótona que tinha. Acordar, se arrumar, comer, ir para a faculdade, voltar, estudar e dormir.

Ela gostaria de dizer que se tornou vazia por causa da pressão escolar e do futuro. Ia ser mais aceitável, já que era algo constante. Mas era por causa da perda de suas mães há anos atrás. Uma mãe morreu de câncer, a outra morreu por dentro.

A pressão escolar e do futuro só pioraram toda a situação de uma adolescente quebrada.

Para não remoer as dolorosas lembranças de sua mãe querida, Adora desligava sua mente. E estava fazendo isso enquanto comia seu café da manhã.

O silêncio do apartamento não a incomodava como antes, até cogitou meditar antes de ir, o que não iria acontecer. Mas o que a incomodava, era não sentir nada. Um vazio dentro de si, que fez moradia em sua alma há anos.

E Adora aceitou esse sentimento.

Já não ia fazer diferença ele estando ali ou não. Ela não sentia tristeza, não sentia felicidade, não sentia nada. Colocava um sorriso no rosto só para não esquecer como é fazer tal ato.

Assim que terminou de comer, ela foi escovar os dentes e, então, foi para a faculdade. Com quase meia hora de antecedência. Não por ansiedade, apenas para sair de um apartamento solitário.

Se Adora demorasse mais vinte minutos para sair, ela teria encontrado sua vizinha no caminho.

Catra acordou 2:13h da madrugada e não tentou voltar a dormir, ela sabia que não ia funcionar. Ligou o aparelho de música que tinha. Ela não gostava do silêncio constante, ficou anos demais em uma casa silenciosa.

Passou quase duas horas revisando o conteúdo das aulas passadas e uma hora praticando em seu amado violão. Ela só começou a se arrumar para a faculdade faltando meia hora para começar a aula.

Foi até o banheiro de seu quarto para tomar os remédios. Todos os dias, ela se perguntava como seria sua vida sem a doença que tinha. Talvez ela sorriria, ou teria amigos. Talvez seu pai ia querer ela de volta.

Talvez a vida seria melhor.

Talvez...

Sem perceber, uma lágrima escorria pelo seu rosto.

Mas não houve outras.

Raiva.

Era o sentimento constante que sentia. Mas não raiva de outras pessoas. De si mesma. De ser tão fraca, tão errada.

Ela tentou ser boa em tudo o que fazia. Tentou até se exercitar para mostrar ao seu pai que conseguia correr uma maratona se quisesse. Ela não conseguia nem correr.

O único momento em que viu os olhos de seu pai brilharem, foi em duas ocasiões: enquanto tocava violão e no dia em que o chamou de pai.

Se tivesse como erradicar a doença antes de tudo, mesmo sabendo que era incurável. Se fosse mais cautelosa. Se não fosse um erro ambulante.

Se…

Catra bufou. Ficar imaginando coisas impossíveis não iam a levar a nada.

Tomou os remédios na força do ódio, pegou sua mochila e saiu do apartamento sem comer nada. Seu corpo já estava destruído mesmo, o que era pular uma refeição perto de anos de sofrimento.


[...]


Catra voltava para seu apartamento. As aulas tinham sido até interessantes. Isso fez o sentimento de raiva diminuir. Agora, ela queria descansar um pouco antes de mergulhar no mais novo conteúdo.

Salvação - Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora