diário de james: a voz dela

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Ouvi um bater à porta e causou-me arrepios. Já se foram os anos que as pessoas batiam à porta. O Arthur era o único que nos visitava, mas após a tua morte, disse-lhe para não o fazer mais. Sei que ele se sentiu um pouco magoado, mas eu queria estar casualmente na minha casa sem ser incomodado.

Abri a porta e vi April, estava de cabelos amarrados num lenço amarelo que já havia visto antes. Fica-lhe bem, o amarelo.

Deixei-a entrar, estava acompanhada de um disco de vinil de baixo do seu braço. Ela disse que uma das suas inspirações vinham de uma "Clairo", então veio mostrar-me as tais músicas que a tanto dominam os ouvidos.

Ambos sentámos-mos no chão à volta do gira discos, como havíamos feito no outro dia. Parece que foi ontem na verdade, mas foi à uns dias mais que isso. Três. Há três dias que não a via, não seria bem a minha culpa, já que não sei onde ela mora, e ela sabe onde eu moro. Quer dizer, sei onde trabalha, mas esqueci desse detalhe. Porque me questiono quanto este assunto? Não sei.

As músicas eram de estilos distantes das que eu costumo ouvir, um pouco mais electropop e indie, afirmou ela. Ouvir um estilo de música diferente fez-me sentir incomodado, mas depois ela começou a cantar e ficou-me na cabeça, a sua voz, mais precisamente. Parece que ela fica ecoando, não me sai da memória. Sei que tenho uma boa memória, mas às vezes custa lembrar das vozes. Lembro das tuas falas de uma ponta à outra, mas todas elas saem sobre a minha voz. As falas de April, saem na voz dela. É estranho, diria estar loco, pois eu admito que devo estar a inventar coisas. Estou? Espera, dizem que os loucos nunca iriam admitir estar loucos, e duvido ter um transtorno esquizoafetivo ou delirante, logo, eu não devo estar louco. Apenas a disparatar um pouco.

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