versão de april: palavras por contar

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Os ponteiros do meu relógio marcavam sete horas. O sol ainda rachava o céu e as nuvens haviam poucas.
-Estás bonita – James contemplou o meu vestido branco rendado.
Expressei um sorriso. Observei-o e percebi que vestia umas novas calças castanhas acompanhadas pelo mesmo camiseiro do dia do teatro. Talvez só o vestia em circunstâncias importantes. Notei ainda que os seus brancos sapatos não estavam sujos como sempre os deixava, haviam sido limpos.
-Diz-me lá a surpresa que trouxe-me aqui.
James corou de ambas as bochechas e guiou-me silenciosamente até às traseiras da casa, onde nunca tinha ido.
Esbocei uma feição de surpresa.
-James... isto é tão lindo.
Todo este tempo, a casa tapou um segredo. Uma grande árvore recheada de folhas verdes tão alta que parecia impossível alcançar os ramos. Um pouco mais ao lado, tinha um pequeno lago e atrás de sim um vale de pinheiros.
-Tens um lago – disse.
Ele assentiu com a cabeça. Deu uma rápida corrida até uma mesa redonda e puxou uma cadeira. Fez um gesto com a mão direita como se tivesse a convidar para me sentar e assim o fiz.
-Obrigada.
Estava decorada com uma rosa no meio, pratos e talheres elegantes.
Ele sentou-se na cadeira à minha frente e encarou a mesa por uns segundos como se tivesse a pensar nas palavras que iria escolher.
-Estás confortável? – perguntou-me.
-Estou James.
Peguei no guardanapo feito de tecido e depois de o abrir, deitei-o sobre o vestido para caso me viesse a sujar.
-Pus-me a pensar. Nunca tivemos aqueles encontros, então, fiz-te um – sorriu – e outra coisa – voltou a olhar para a mesa – peço-te desculpa se andei-te a evitar durante as horas de jantar e almoço... é estranho explicar... não te quero preocupar. Ainda estou à procura das termos certos... nem sei bem. Mas, garanto-te que não tem haver contigo, é uma coisa minha.
Eram realmente estranhas as suas desculpas, mas nunca as questionei porque devia ter os seus motivos, sejam eles tolos ou sérios. E se fosse sério, haveria de me contar quando achasse melhor. Talvez seja algo do jeitinho dele e da sua maneira de viver. Todos somos diferentes e temos os nossos hábitos.
-Tudo bem – afirmei. James olhou-me – quando arranjares a altura certa, dizes-me. Eu aguardo.
Sorri-lhe.
-Sim.
Olhei para o grande tacho de metal que se apresentava no centro da mesa.
-Qual é o menu?
-Bem – coçou a garganta – como não sei cozinhar muito e não havia calculado este plano a tempo certo – riu envergonhado – fiz, uns, hambúrgueres.
Abriu-o afastando a tampa e pude contemplar dois hambúrgueres num espaço vazio.
Ri-me e James olhou-me embaraçado.
-Vou admitir que têm um melhor aspeto comparado aos meus – ele sorriu agora mais calmo – não te preocupes que todos os teus atos são apreciados por mim. Podiam até ser umas simples tostas que eu iria adorar.
Ele riu.
Peguei no meu hambúrguer e pus no prato. Mal o mordi James esperou pela minha aprovação, e ficou satisfeito quando o assenti com a cabeça. Estava realmente delicioso. Todos os ingredientes pareciam bastante frescos.
James pegou no seu hambúrguer e mordeu-o esfomeado como se não tivesse comido o dia inteiro.
Enquanto a comida nos enchia a barriga, conversávamos sobre tópicos aleatórios.
-Alguma vez saíste daqui de Greenwood? – perguntei-lhe.
-Nunca.
-Não tens interesse?
-Tenho, mas essas cidades todas apressadas e cheias de prédios grandes não me atraem.
-Concordo. Quando vivi em Ottawa durante o meu estudo de universidade, de inicio era tudo bonito por ser novo, mas depois, sentia-me saturada com aquelas grandes dimensões e pessoas que nunca havia visto. Aqui é tão mais acolhedor, calmo e parece que todos me são família, apesar de não conhecer metade da cidade.
-Não eras então do tipo de jovens que sai para festas universitárias e bebia a noite toda?
Ri-me e quase me engasguei com o tomate.
-James, James. Não me conheces?
-Sei que não bebes e que és responsável o suficiente para não ir a festas todas as noites. Mas isso é a April do presente. Eu não conheço a April do passado.
-Sou meramente a mesma. Digo, como uma borboleta. Criaram-me no casulo e quando abri as asas não mudei uma única cor.
James sorriu-me.
-E para te ser sincera – continuei – não tinha amigos e nem pensei muito em os ter, logo, passava todo o meu tempo a estudar e a criar os meus próprios projetos.
-Antissocial April. Quem diria que uma rapariga de grande sorrido e de grandes palavras evitava falar.
-Ás vezes pergunto-me o mesmo.
Arregalei os olhos por um momento ao me lembrar de uma coisa.
-Uma vez fizemos uma viajem de turma a Toronto e visitamos um enorme jardim botânico. Havia tantas floras novas. Parecia a tua casa multiplicada por mil.
-Estou interessado.
-Sabes como se chamava o Jardim? James.
-Como haveria de saber? Diz-me - pediu entusiasmado.
-James.
-April.
Ri-me – chama-se James Gardens.
Ele abriu a boca e esboçou um sorriso.
-James? – inclinou a cabeça, confuso.
Peguei no meu telemóvel – se procurar devo encontrar algumas fotografias.
Ele continuou com o sorriso estampado no rosto.
Deslizei até ao fim da galeria.
-Um parque com o meu nome – disse James ainda abismado.
Comecei a ver fotos tiradas em Toronto e depois deparei-me com várias de flores.
-Aqui – mostrei-lhe. Tinha tantas cores e flores que parecia uma pintura.
-Que lindo – disse ele sem tocar no telemóvel como se tivesse medo de o fazer.
-Podíamos ir lá um dia – sugeri.
-Pois podíamos.

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