diario de james: corre james!

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Numa conversa sobre plantas com a Flora, caiu de súbito o nome da April. Contei-lhe que era estranho puder ouvir a sua voz na minha cabeça como se fosse real. Os olhos de Flora já são de si grandes, mas ficaram o dobro do tamanho, ela saltou da mesa e deu um rodopio no ar enquanto um pouco de brilho ficou a pairar. Ela abriu um enorme sorriso e disse: <<Quando uma fada se apaixona é como se uma parte dessa pessoa se conecta-se com ela. Podes ouvir a sua voz, sentir o seu estado emocional sem lhe pôr os olhos em cima, e dar-lhe energia. Ex: se ela estiver a sentir-se desgostosa ao ponto de sentir dores físicas derivadas à culpa, solidão ou ansiedade, tu podes dar-lhe um pouco da tua energia e fazê-la desaparecer. Como o sol dá vida às flores. Estás apaixonado!>>

Estou apaixonado, assim tão fácil de se dizer. Não quero negar já que parece ser um facto e não uma suposição de Flora. Porém, é bizarro quando encontramos uma palavra para sentimentos perdidos.

Estou apaixonado, é um verbo, mas não como o verbo cantar ou andar, esses são momentâneos, paixão é duradoura, terei de cuidar bem dela então. Tu sempre me disseste que achar amor pode ser raro tal como se acha ouro numa terra vulgar, nesse caso não vou largar esta oportunidade. Posso chamar-lhe de oportunidade?

Contudo, estou um pouco incomodado por nunca me teres falado de tal coisa sobre a mãe ouvir a tua voz. Ela ouvia certo? Assim espero e acredito, mas podias-me ter contado. De tantas coisas que sei de fadas em momento algum falaram-me de amor, além da vossa história, mas nela não tinha vozes. Nela não haviam sentimentos sem palavras, só houve "eu gosto de ti" e "eu também gosto de ti" e pronto, vocês sabiam. Na minha situação com a April como poderia eu saber? Nunca dissemos tais coisas. Talvez ela sabia já... espera, jamais poderei deduzir que ela sente o mesmo, talvez não sente.

Odeio isto, Flora pôs-me estes pensamentos alegres na cabeça e agora desmoronei-me. Senti o meu coração aos saltos e precipitei-me para acontecimentos futuros com a April que poderão nunca vir a existir.

(James riscou a sua página do diário e ficou especado a olhar para a mesma)

Riscar este caderno não me irá desfazer os meus medos ou pensamentos. Pergunto-me se devo arriscar, se ser rejeitado é tão mau quanto contam nos livros e se vai doer. Já tanta coisa me doeu.

Há dias atrás, pedi um sinal vindo de alguma parte deste mundo e talvez seja isto. Enfim, sem mais questionamentos. Vou dizer-lhe.

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