versão april: discussão

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Encarei a janela enquanto sentia aquele peso no coração. Tinha de falar com James. Tinha de lhe dizer o que sinto e pôr esta situação resolvida. Queria saltar para a parte em que nos beijamos e o amor floresce novamente, mas pela primeira vez em muito tempo, tenho medo, um medo tão grande que me impede de pôr os pés fora daquela porta. Não quero ouvir as palavras erradas. Quero que ele diga que ainda me ama.

Levantei-me fui até à porta.

-Vá April. Foste positiva a tua vida toda e logo agora resolves ser negativa? – disse para comigo.

Inspirei fundo e abri a porta. E lá estava ele, sem precisar de dar mais um único passo.

-James?

-Eu preciso falar contigo – disse aflito. Pareceu ter vindo a correr até aqui.

Senti um calor no coração. Ele vinha-me dizer. Ele iria abrir-se sobre o assunto e não precisei de o pedir.

-Entra – recuei de sorriso na cara.

Ele sentou-se no sofá ao lado do Beethoven. E eu ao lado dele, mas deixando um espaço entre nós.

-Diz – pedi.

-Não sei como começar, estou confuso... é sobre o jantar de outro dia.

-Do jantar? – o pequeno sorriso desfez.

-Sim... – olhou para mim – estás bem?

A esperança que acabará de receber, foi-se.

Ele aproximou a sua mão da minha para a agarrar. Num ato involuntário desviei.

-Pensei que irias falar algo mais importante – disse abalada.

-Isto é importante...

-Vais dizer que não gostaste dos meus pais? É isso a importância? Que não queres fazer parte da minha família.

-Não – disse de olhos arregalados – nada disso, pelo o contrário... April, não é sobre esse assunto. Estou preocupada comigo.

-Talvez devesse eu falar primeiro – interrompi-o.

-Espera, deixa-me só acabar...

-Estou farta de esperar que te expliques, preciso de uma resposta. Porque estás a fazer-me isto? – comecei a chorar. Estava esgotada.

-Talvez não estejas a perceber April...

-Não James! Eu percebo-te, e esse é o problema, porque faz com que me impeça de falar contigo. Mas eu preciso, desta vez tenho de quebrar o teu espaço porque está a quebrar o meu – a voz saiu-me rouca.

Ele parecia magoado. Não necessariamente como se eu tivesse o feito, mas por perceber que tinha magoado a mim.

-Sou tão estupido.

-Não... – contradizi. Fui demasiado bruta. Estraguei tudo.

-Sim, April, sou tudo isso e muito mais. Peço-te tantas desculpas. Nunca teria a intenção de te magoar seja de que maneira for – refletiu por uns segundos – não pensei que nesta questão o problema fosse eu, não relacionei. Na verdade, ainda não consigo relacionar.

-Como não? – comecei a tossir – foste tu que te afastas-te.

Ele pareceu ficar confuso com aquela afirmação.

-Talvez não estamos a falar a mesma coisa – afirmou – estou a falar da tua recaída na hora da sobremesa.

-O quê? – a minha respiração parecia pesada.

-Eu senti a tua angústia quando negaste a comida, foi intensa para um assunto comum. Não é normal... e sobre o que estavas a te referir, sim, eu sei que errei quando me afastei de ti. Desculpas não bastam, e eu odeio ter de te as dizer porque não devia ter errado e ponto. Mas neste momento, só preciso de saber uma coisa, o que se passa contigo?

-Eu não sei... estou cansada.

-Cansada de quê? – perguntou James quase de lágrimas nos olhos.

Ia abrir a boca para responder mas sentia que restavam-me poucas palavras.

-Eu só quero que me digas... – comecei a tossir, e a tossir. Mas não era apenas tosse. Nela saiu sangue.

-April?! – aproximou-se de mim – estás bem? O que se passa?

Tinha dificuldade para respirar. Não conseguia falar.

Beethoven ficou exaltado. Não parava de ladrar.

-Eu levou-te para o hospital – pegou-me ao colo.

James não sabia conduzir.

-Eu estou... – tentei falar.

-Vais ficar bem. Vais ficar bem – repetiu a caminho do meu carro. Posou-me no banco de trás e avançou para a frente.

-Beethoven, salta – mandou e ele deitou-se ao meu lado.

-James...

-Respira fundo. E não... não adormeças por favor.

Olhou-me no fundo dos meus olhos.

Ligou o carro e mexeu nos pedais como se tivesse a brincar com eles. Mas segundos depois, caminhava na estrada como se fosse habito.

Em sete minutos chegamos ao hospital. Comecei a ver médicos, pessoas em cadeiras ligadas a soro e outros pacientes com ligaduras. E com aquela imagem que já não via há muito por detestar hospitais, desmaiei.

A última coisa que lembro de ter visto fora as mãos de James a segurar-me. E depois, tudo se escureceu. Até mais nada ouvir.

amor nos campos de trigo Onde histórias criam vida. Descubra agora