diário de james: april

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Levantei-me cedo como havia comentando ontem, pois teria de ir ao centro da cidade arranjar o gira discos e comprar uma suculenta para a Flora. As manhãs tem sempre o seus caminhos agitados porém as lojas ainda vazias.

Assim que peguei na maleta segui ate à primeira loja que encontrei de música, talvez lá alguém saberia qual seria o possível arranjo.

Fechei a porta e mal me virei cruzei olhares com a rapariga que tinha conhecido à uns dias atrás. Fiquei sem poder falar por um segundo, parecia estar selado de pensamentos.

Ela ofereceu-se a me ajudar e durante o processo nem me questionou um pouco. Apenas sorria e dizia poucas palavras simpáticas. Até não me deixou pagar por tal arranjo, sendo que eu sou "rico", de acordo como eles me chamam por essas bandas.

Parece estranho ouvir-me dizer isto, mas começo a ficar incomodado. Primeiro ela me conta sobre si e foge sem se explicar. Agora age naturalmente como se não me conhece-se, e ainda sê amável sem pedir nada de mim.

Achava-a interessante por não me encher de perguntas, porém agora sinto comichão do seu silêncio.

Admito que não tentei puxar conversa, apenas disse o meu nome e ela disse o seu. April.

Soa a algo que a minha mãe daria caso tivesse uma outra irmã. Ela gosta desse tipo de nomes.

Após ter saído da loja dirigir-me ao florista que ficava na rua a seguir.

Arthur, a única pessoa da cidade que me dou bem, talvez por ser seu amigo, ele diz sentir muito a tua falta. Mas ainda assim as nossas conversas só acontecem quando preciso de plantas. E meritoriamente são sobre as mesmas, ele consegue sempre arranjar algo novo para me mostrar.

Mal pus os pés na loja pude ver um grande sorriso na sua cara. Ele tem um sério problema em esconder emoções.

Disse-lhe que procurava a planta Faucaria e no mesmo instante ele pegou num pequeno vaso que estava atrás de si.

Explicou que tinha plantado à um tempo mas ainda faltava alguns dias até à flor amarela florescer.

Sem pensar muito disse que queria levar e de seguida a paguei.

Ele me emprestou uma pequena corda e eu prendi o vaso na maleta enquanto ele me falava.

Perguntou se os meus livros estavam cansados de me ver, o que me fez rir. Respondi que eles têm se escondido nas prateleiras mais velas, mas que os apanhei no escuro.

Suas perguntas são sempre vagas e sem sentido, ela sabe que detesto que se preocupem comigo, então apenas mete outro tipo de conversa. Por isso que gosto dele.

Ele riu ao ver-me sorrir por um momento, e depois tirou um pequeno vaso com uma flor que aparentava ser uma margarida porém as bordas das suas pétalas estavam revestidas da cor preta.

Ele explicou que encontrou no meio do seu jardim e que achou curioso pois não existem margaridas dessa cor, então decidiu me oferecer.

É praticamente uma flor rara, algo nunca visto, diria que seria o melhor presente.

Assim que pus os pés em casa, Flora voou até meu ombro repetindo o nome da flor. Parecia bastante ansiosa.

Mostrei-lhe e a mesma ficou muito satisfeita.

Ela fez um movimento com a mão e a flor que antes estava fechada cresceu e abriu-se. Era tão amarela quanto o sol.

Flora deu conta da margarida de tons pretos e ficou extremamente curiosa, disse que de todos as flores e plantas que já havia salvado que nunca vira uma como aquela.

Sentou-se na beira do vaso e fez uma pose como a da escultura "o pensador".

"O meio seria o deus e as pétalas as almas do bem, que aparentam estar a ser sugadas pelo mal aos poucos. Talvez um dia ficaram totalmente rodeadas pela escuridão", disse ela.

Gostava de saber onde ela vai buscar tais ideias.

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