diário de james: a desconhecida

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Apesar dos acontecimentos de ontem, hoje consegui acordar novamente cedo. Fui até à casa de vidro cuidar das plantas e acabei por ter uma conversa com Flora. Anna felizmente estava a ter o seu sono de beleza então pude conversar sem pressão. Contei para ela que havia encontrado a caixa que elas tinham escondido à muito, e que ultimamente tinha acontecido algumas coisas estanhas. Flora falou que podia ser um sinal, um bom sinal. Obviamente disse que tal coisa não podia acontecer, mas ela insistiu e disse que coisas boas estão destinadas para todos, mesmo que eu não acredite.

Mesmo que elas tenham a mesma idade, parecem distantes. De acordo com os seus pensamentos, Flora parece ser mais nova, uma alma pura e sonhadora, sempre animada. Já a Anna é mais responsável, até em demasia, e persiste em querer ser sempre a que manda. Lamento teres de ouvir as minhas reclamações, no céu não devias ouvir estas coisas.

Enfim, decidi escrever hoje na rua. Deitei-me no relvado e fiquei a ouvir o vento a bater nas folhas das árvores. É tão confortante, faz me lembrar dos dias em que ficava na rua a fazer as plantas crescer e tu a observares-me com atenção. "Magia és tu filho", dizias sempre. Por momentos fazias-me sentir menos culpado.

Estranho, acabei de ouvir uns gritos. É estranho porque nunca anda muitas pessoas por aqui. Já volto e te conto, sei que és curioso.





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Fui atrás do som. Acabei por encontrar uma rapariga e um cão a correr. No momento em que ia-me virar a mesma caí no meio do campo de trigo. Vou até ela e fico a olhar-lhe por uns segundos. Seus cabelos eram compridos e loiros, e com algumas ondulações nas pontas. Não parecia ser mais alta que eu, e o seu corpo aparentava ser delicado. Tinha uma expressão de confusa, mas seus lábios eram o que mais me chamavam à atenção.

Perguntei-lhe se estava tudo bem, e ela respondeu sim, mas seguidamente calou-se.

Por momentos pensei em ir embora, pois ela estava bem. Mas algo fez me querer ficar.

Sentei-me do seu lado e ambos ficamos em silencio. A única coisa que podia ouvir era o vento e o trigo, mais uma vez, confortante.

Sentia-me bem, ela parecia não queria saber de mim, talvez nem soube-se quem eu era. Que para mim era um alivio.

Perguntei se ela procurava algo, e ela contou-me uma história de quando era criança. Dizia que corria pelos campos de trigo para se libertar dos seus medos. Mas que num dia triste, caiu. Disse não recordar dos motivos que a fizeram chorar. Isso fez-me sentir em comum, às vezes a natureza parece que resolve os nossos problemas.

No segundo seguinte ela perguntou se acreditava em magia. Fiquei um pouco espantado de primeira, mas existem dois tipos de magia. A sentimental e a física. A sentimental é mais para as emoções, o que a natureza nos faz sentir, que era onde ela queria chegar. Quanto à física é ter o poder de fazer a magia, como eu. Mas receio que ela falasse nessa, mas talvez ela acredite nisso também.

Depois ela simplesmente saiu com um sorriso na cara. Não sei o seu nome, não sei onde mora, mas espero voltar a vê-la. Não tinha uma conversa tão estranhamente confortante à bastante tempo, ainda por cima vinda de uma desconhecida.

Voltei para casa mas continuei sempre a pensar nela. Tão bela, o seu sorriso por momentos lembro-me da minha mãe. Pelo menos daquilo que via nas fotos.

Talvez ela é o sinal. Será que ela é a positividade que a Flora falava.

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