versão de april: o mundo das fadas

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Sentei-me no pequeno banco de madeira atrás do balcão com o meu chá de camomila nas mãos. Eram dez e pouco da manhã e não havia sinal de clientes. Podia considerar estranho se não fosse uma segunda-feira, ninguém vem aqui numa segunda-feira.

Finalizei o meu chá e atirei para o balde do lixo. Bateu sobre um monte de papéis e caiu no chão. Tinha esquecido de o despejar sábado.

Levantei-me e fiz pressão sobre os papeis para ter espaço suficiente para o copo de papel. Em seguida fechei o saco e saí pelas portas da traseira da loja. Aproximei-me dos contentores e atirei o saco para dentro.

Ao virar-me reparei num pequeno brilho vindo dos arbustos. Curiosa, aproximei-me. Afastei algumas folhas e vi algo familiar.

-Anna? – ela escondeu-se nas folhas – o que fazes aqui? – perguntei-lhe.

Saiu do seu esconderijo, envergonhada e talvez um pouco de coração aos saltos.

-April... – sorriu – estava só... só aqui a ver.

-A ver? Recordo de ver estas folhas secas sábado, parece-me que as reviveste – apontei.

-Não contes ao James por favor!! – implorou.

Suspirei um pouco preocupada. Olhei à volta e avistei algumas pessoas. Estendi a mão e ela saltou. Entrei na loja onde poderíamos conversar a sós.

-Não quero ser intrometida no teu assunto mas, porque estás na cidade? Sei que é proibido para as fadas da tua idade.

Anna baixou a cabeça. Parecia sentir-se culpada.

-Estou farta de ser aprendiz. Farta de ouvir os meus familiares do mundo das fadas a falar dos seus grandes feitos. Não quero ser como a Flora que passa o dia com James e a criar imensas plantas na estufa para se entreter, e depois sair de noite para crescer simples plantas. Eu quero movimentar as nuvens, quero cuidar dos lagos, quero crescer um campo num toque de passagem. Eu quero ser útil! – disse de peito cheio de ar, e depois o abaixou, deixando todo o ar sair.

-Tudo é importante, mesmo as pequenas flores, estejam elas no jardim de James ou fora dele. Não digas que não és útil, porque és. Fazes a tua parte como as fadas adultas. Não importa a quantidade mas sim o bom trabalho – sorriu-lhe e ela contribuiu – não ficas cansada de trabalhar de dia e noite?

-Fico – baixou novamente a cabeça – sei que a minha energia não devia ser gasta assim... mas necessito de fazer algo. Até quando disse às fadas adultas que estava a cuidar da cidade ficaram impressionadas. Vês como resultou?

-Pois, elas viram o que tanto desejavas. Mas esse resultado faz-te feliz?

Anna ficou pensativa.

-Faz...

-Acho que desvias esperar para cresceres, não há problema nisso. Sabes porquê? Talvez essas fadas adultas depois de se gabarem do quanto trabalham de dia e noite, depois pensam no passado, quando tinham mais tempo para descansar e para se estar à vontade. Queres mesmo perder esse tempo? Porque não o aproveitas enquanto o tens? Podes sempre te juntar à Flora e cuidar do jardim de James, de certeza que te fará feliz ter algo para cuidar durante o dia.

Anna levantou-se e ficou no ar.

-Talvez tenhas razão... brincou com as mãos.

-E porque não ponderas em arranjar amigas aprendizes? Terão mais coisas em comum do que as adultas.

Anna sorriu.

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