diário de james: chuva de pensamentos

17 4 8
                                    


Hoje é um belo dia para morrer, as árvores estão secas, o sol se esconde atrás das nuvens, e até mesmo a chuva cai lentamente no chão com as suas grandes gotas de tristeza.

Foi num dia como este que te levaram, mas está tudo bem eu não fico totalmente triste por pensar nisso, sei que tens a boa companhia da mãe, coisa que sempre quis. Sei que isto deve soar horrível, obviamente que não queria o meu pai morto, mas também não queria a minha mãe e infelizmente por minha culpa ela se foi.

Mas agora creio que ambos estão felizes, lado a lado. Só de imaginar fico com um pequeno sorriso na cara, coisa que perdi ultimamente, o sorriso. Só apareceu quando encontrei o meu gato Ginger. Ele é muito parecido comigo, gosta de ficar sossegado ao som do silencio e olhar a natureza. A única coisa de diferente é o facto que ele não lê, que é o resumo dos meus dias, ler sem parar.

Fico feliz de ter alguém ao meu lado. Eu tenho as minhas irmãs, claro, mas às vezes quero alguém para estar, e não para falar. Elas não apreciam o silencio, gostam de andar em constante movimento com o barulho. Isso deixa-me um pouco incomodado, por isso prefiro o meu gato, ele pouco mia.

Enfim, não tenho mais coisas para falar por agora.

Pensando, estes dois últimos dias têm sido estranhos para mim. Primeiro choveu, e por conta disso achei um gato, e agora a chuva voltou na mesma forma, e trouxe-me uns pensamentos do passado. Vocês.

Será que alguém quer dar-me um sinal?





                                ★     ★     ★





Agora que refleti um pouco, agrada-me ver a chuva a cair. O seu som conforta-me, e faz-me querer pensar em coisas boas, por mais que ela tenha um aspeto melancólico.

Vim então para a casa de vidro cuidar das plantas, e depois ficar somente sentado a observar a chuva.

Por momentos voltei a lembrar de coisas do passado, memórias nossas. Aquelas em que fazíamos coisas juntos, e riamos dos desastres que eu fazia. Aquelas em que eu passava a tarde a ler para ti, e tu escutavas cada palavra, e quando parava, dizias para continuar porque gostavas de me ouvir. Para ti o tema não interessava, mas sim quem o dizia.

Infelizmente, fui interrompido pela Anna. Ela ultimamente só diz as mesmas coisas, parece um papagaio a gritar o tempo todo. Não para de dizer para eu sorrir, e que passo o dia caminhando como um morto vivo perdido nos seus próprios pensamentos. Ela até tem a sua razão, por vezes esqueço de ser feliz, sinto que já não estou nesse estado há algum tempo.

Mesmo assim dispenso ouvir isso todos os dias, já basta ouvir as preocupações de desconhecidos no qual não foram pedidas, não preciso de ouvir de alguém que nem tem o meu tamanho.

Tu bem sabes como ela é, quer ser a adulta. Eu gosto dela, porem ás vezes nem apareço na casa de vidro para evitar contacto com a mesma.

Já a Flora é o contrário, é a única pessoa que gosto de conversar neste momento, ela leva sempre a minha mente para lugares bons, lugares que talvez nunca vou alcançar, mas pelo menos são lugares onde pessoas não me questionam.

Foi ela que teve a ideia de começar a escrever para ti. No inicio achei patético, mas agora agrada-me. Ando com este caderno para todo o lado, e assim que tenho um tempinho, escrevo.

Lembrei agora da reação dela ao conhecer o Ginger, ficou mais feliz que eu para ser sincero. Notou-se nos seus olhos como ela estava apaixonada pelo animal, e ficou mais emocionada quando o mesmo a correspondeu. Ela sempre sonhou em ter um, e agora sente-se realizada.

Acho que agora vou acabar de ler o tal livro das borboletas, estou a chegar ao fim e está a parecer interessante. Se isto for real, espero te ver nas borboletas.

amor nos campos de trigo Onde histórias criam vida. Descubra agora