versão de april: corre april!

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Abri cuidadosamente a porta de entrada do teatro e deixei o Beethoven entrar antes de mim. Talvez cães não pudessem entrar ali, porém, não vi nenhum sinal a impedir-me, então deixe-o entrar já que ele não iria fazer grandes estragos. Era um cão maluco, diria, ás vezes lembra-se de correr pela sala a abanar a cauda a uma velocidade inédita. Outros dias fica a dormir no sofá ou seguir-me para todos os cantos possíveis, mas nunca partiu coisas, apenas esmaga o seu peluche e o arrasta pelo pavimento.

Andei um pouco e pude ouvir uma voz atrás de outra porta. Empurrei-a.

-Jamais deixarei entrar tais indevidos nos meus aposentos! – gritou um rapaz que desconhecia. Usava roupas normais apesar da sua maneira de falar antiga.

-Mas pai! – protestou Sofia sentada de pernas cruzadas no palco em frente do rapaz – eles jamais lhe trairão!

-Odeio repetir palavras – comentou ele.

-Pois... – Sofia riscou o papel que tinha nas mãos.

Sem fazer qualquer barulho, sentei-me num dos bancos que estavam perto das portas. Beethoven saltou para o meu colo, e apesar de ainda ser pequeno estava a ficar pesado.

-Não faças barulho, está bem? – pedi-lhe e depois fiz carinho na sua cabeça.

-Que tal – Sofia coçou a garganta – Pai! Vós prometestes que nunca ireis duvidar das minhas palavras. Onde estarão os seus modos?

-Melhor, melhor – sorriu ele e depois olhou-me – desculpe! O teatro está fechado hoje! – gritou na minha direção.

Sofia virou a cabeça e levantou-se – é a minha amiga, April – saltou do palco e correu as escadas até onde eu me apresentava.

-Sempre conseguiram escolher um titulo? – perguntei.

-Sim, chama-se "o temporal" – arregalou os olhos e baixou-se – Beethoven! Estás tão lindo! Cresceste um pouco.

-Sério? Parece-me igual – ri-me – talvez essa é a razão de ele parecer mais pesado.

-Eles crescem tão rápido – Sofia fez-lhes festas na cabeça.

-O nome soa-me poético de acordo com a história que me contas-te – comentei – está a correr bem?

-Tudo! Trabalhar com aquele chato é divertido.

-Eu ouvi! – gritou ele.

-Eu sei Louis!! – deu uma gargalhada – estamos a ter muitos progressos porque as nossas ideias encaixam-se. Significa que estamos perto de fazer ensaios gerais que significa mais perto de atuar! – falou num tom agitado.

-Ainda bem, estou curiosa para ver. Na primeira fila de preferência.

-Sim senhora. Conta-me coisas – pediu-me sorridente.

Quando afastei-me da casa de James outro dia, fiquei horas a pensar o quanto ele não me saía da cabeça. As nossas conversas se repetiam numa mistura da minha voz com a sua, via o seu sorriso e as suas maçãs do rosto coradas, até um pouco da sala no fundo quase desfocada. Fechava os olhos na tentativa de pensar em outras coisas, porque estaria eu a remoer uma conversa tão vulgar?

Perguntei-me se estaria louca ou... apaixonada. Passei anos a escrever canções de encorajamento, sonhos e por vezes inventava histórias com personagens e sentimentos inventados. Agora que sinto coisas, não sei se são reais ou invenções.

Mas e depois de confirmar que essas emoções estranhas resumem a palavra amor, o que fazemos com elas? Guardamos numa caixa ou abrimos para todos a verem?

-Achas que gosto de James? – perguntei-lhe.

Ela deu um doce sorriso – não posso afirmar aquilo que tu sentes, mas talvez...

-Sofia! Uma ajuda aqui! – interrompeu o Louis aos gritos enquanto mexia nas coisas do cenário.

-Estou a ir! – pôs-se de pé.

-Vejo que tens muito trabalho, então boa sorte – peguei no Beethoven e levantei-me.

-A nossa conversa sobre o James ainda não acabou está bem?! – amaçou ela – como estava a dizer - sorriu calma - pelo teu sorrisinho tolo que ficas quando falas dele, tu gostas dele.

Sorri-lhe e olhei para o lado tímida.

-SOFIA!!! – berrou.

-UMA PESSOA NÃO PODE TER DESCANSO! – respondeu ela um pouco enervada. Acenou-me e desceu as escadas numa correria – não tens força nesses braços Louis?!

Ri-me e dei meia volta para sair do teatro.

Beethoven saltou para o chão e abriu a porta num impulso.

-HAA! – gritou o Noah assustado – Beethoven! Onde está a tua dona?

-Aqui.

-Boas – sorriu-me envergonhado quando sai pela porta.

-Boas.

Ficámos em silêncio.

-Vieste ver a sofia? – perguntou-me Noah.

-Vim, e tu?

Ele olhou para a porta e desviou olhar – não... vim fazer umas compras.

Ficámos novamente em silêncio.

Será que vou parecer obsessiva se lhe perguntar de quem ele gosta? Ele é meu amigo, mas como o meu nome pode estar presente nesta situação ele pode nem vir-me a responder.

Ele mexeu nas suas chaves e deu um sorriso atrapalhado.

-Posso te fazer uma pergunta? – solicitei.

-Sim.

-Gostas de mim? – podia ter sido mais discreta, podia, mas não fui.

-Não – respondeu num tom de voz fraco. Notava-se que estava nervoso – talvez. Não sei – passou a mão na cara que agora estava toda corada.

Ficámos no silencio novamente.

-Noah. Isto está a ficar estranho... – comentei.

-Sim! Pensei que esses sentimentos eram só do passado mas depois estavas tu ali a falar comigo depois de tantos anos e eu caí. Fiquei confuso. Estava a gostar de uma pessoa e depois tudo tornou-se tão confuso.

-Outra pessoa? – sorri.

-Sim, não importa quem seja...

-A Sofia? Diz-me que é a Sofia.

Ele olhou para mim como se tivesse visto um fantasma – como sabes?

-Sim! – disse entusiasmada e ele pareceu ficar confuso com a minha felicidade – eu sabia que o cupido estava certo!!!

-Cupido? Perdi-me.

-Eu sou como o teu peluche favorito que adoravas tanto abraçar em criança, mas não tem mal deixá-lo ir e comprar novos brinquedos – disse-lhe.

-April, português.

-Ela gosta de ti e tu gostas dela! Eu sou apenas uma chatice na tua cabeça. De uma vez por todas Noah vai ter com ela!

-Mas eu.. o que eu..?! – ficou paralisado.

-Diz-lhe: Eu gosto de ti Sofia – ele continuou parado – meus deus Noah Vai! Ela está no teatro – gritei e ele pareceu sair do seu transe.

-Claro, claro – disse desorientado – obrigada April.

-E cuidado com o Louis. Acho que ele não está bem disposto hoje.

Ele sorriu e correu para dentro do teatro.

Andei pelo passeio enquanto admirava as grandes árvores que estavam na mesma direção do bosque.

-Às vezes as pessoas estão na nossa frente e nós as perdemos por pensar em vez de perguntar – ri-me e depois parei – tenho de dizer ao James.

amor nos campos de trigo Onde histórias criam vida. Descubra agora