Capítulo 18

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Capítulo 18

Renato falava sobre os novos clientes da construtora Matarazzo. Sentado enfrente a Ivan, gesticula com as mãos tentando ser o mais convincente possível, mas para a sua surpresa, percebeu que Ivan mirava a parede de vidro, com o olhar distante.
Tinha no rosto uma expressão de felicidade serena, os olhos brilhavam e nos lábios um leve sorrisinho.
_ Pelo visto você não está prestando atenção em nada do que eu estou falando.
Ivan o olhou sorrindo, girando a cadeira.
O seu corpo estava no escritório, mas a mente estava  no quarto do hospital. Lembrava com felicidade  do sabor do beijo de Victor e do cheiro do menino.
_ Renato, eu nem sei o que está acontecendo  comigo. Nunca na minha vida tinha experimentado algo tão bom.
_ Pelo brilho nos olhos e esse sorriso bobo, já sei que está apaixonado.
_ Eu não sei descrever exatamente o que é. Só sei que é bom. Que aquece o coração, que transborda. É leve! Diferente de tudo que senti na vida. Antes eu era apaixonado de uma forma doentia e destrutiva. E agora não...é uma coisa boa de sentir.
_ Eu sei bem o que é. Eu sentia isso pela minha falecida esposa. O nome disso é amor.
_ Amor?! Não pode ser. Eu o conheço há  tão pouco tempo.
_ O amor tem dessas coisas. É imprevisível. E quem é  a felizarda?
Ivan o olhou arqueando a sobrancelha e mordendo o lábio inferior.
Ambos olharam para frente para ver quem entrava no escritório sem ser anunciado.
Para a irritação de Ivan era Sônia com o seu ar de superioridade, que ele tanto odiava.
_ Bom dia, queridos.
_ Bom dia, dona Sônia.
_ O que você está fazendo aqui? Quem te deixou entrar?
_ E eu lá preciso de autorização para entrar? Eu sou a senhora Matarazzo. Ou por acaso você se esqueceu disso? Eu sou a rainha mãe.
_ Você é rainha de coisa nenhuma. Eu não quero que entre na minha sala sem ser solicitada. Isso também vale para a minha casa.
_ Você está vendo, Renato, o quanto  esses filhos são ingratos? A gente carrega no ventre por nove meses, amamenta, educa,  dar amor e carinho e somos tratadas desse jeito.
_ Pare com o seu teatrinho que o Renato, além de  trabalhar há muitos anos para a nossa família  é nosso amigo pessoal, ele sabe muito bem que de mãe amorosa você não tem nada. Fale logo o que você quer e pode ir embora.
_ Muito bem, serei direta.
Sônia põe a bolsa sobre a mesa de vidro e senta enfrente ao filho e ao lado de Renato.
_ Eu estou cansada. A morte do seu pai, o seu segredinho._ Nessa hora, Ivan a olhou com fúria. _ Enfim, tudo isso me deixou exausta. Eu preciso transparecer. Penso em viajar. Quero ir à Nova York, fazer umas comprinhas, respirar ares de primeiro mundo. E para isso preciso que do meu cartão ilimitado de volta.
Ivan já havia cedido as chantagens de Sônia comprando a cobertura e depositando os primeiros seiscentos mil reais na conta bancária dela, mas não pensava em devolver o cartão de crédito, pois temia que a mãe fizesse extravagâncias.
_ Com seiscentos mil reais dá muito bem para você brincar de madame em Nova York. Ou isso, ou nada.
_ Você não está na posição de impor nada, Ivan.
_ Está é a minha última palavra.
_ Eu vou deixar vocês dois conversarem. Pelo visto é assunto familiar._ Renato disse saindo.
_ Espere, Renato.
Sônia disse olhando nos olhos de Ivan.
_ Você mora em Niterói não é mesmo?
_ Sim, dona Sônia.
_ Eu vou dar uma passadinha por lá. Você poderia me fazer companhia já que vamos para o mesmo lado. Vou visitar um amigo que acabou de sair do hospital. Se chama Victor Oliveira Castro.
Ivan arregalou os olhos surpreendido.
_ É um menino adorável. Namorou ou namora o meu sobrinho Gael. Ele foi vítima de uma agressão tão cruel. Foi encontrado desacordado na rua, com a cabeça aberta jorrando sangue. Eu fiquei tão comovida que pesquisei tudo sobre ele. Sei onde mora, com quem mora, onde estuda e...
_ Renato, pode ir para o seu escritório, que eu preciso conversar com a Sônia.
Renato saiu da sala. Ivan levantou da cadeira e segurou com força no braço da mãe.
_ Você não se atreva a perturbar o Victor. Fique longe dele ou...
Sônia puxou o próprio braço.
_ Ou o quê? Vai me acertar com um taco de beisebol? Eu não estou de brincadeira. Não se esqueça que além do vídeo, eu tenho o taco sujo de sangue e com suas impressões digitais. Agora seja um bom menino e obedeça a sua mãe.
Ivan ficou desesperado com a possibilidade de Victor saber a verdade. Temia perder a amizade do menino, de ter o seu ódio.
_ Tudo bem. Eu libero a merda do seu cartão e te dou mais dinheiro para você ir embora do Brasil de vez. Que você nunca mais volte.
_ Agora sim. Eu quero o meu cartão liberado em vinte e quatro horas, ou vou fazer uma visita à sua vítima suburbana.
Sônia se aproximou de Ivan e beijou o seu rosto. Irritado, Ivan a afastou e limpou a face com a mão.
_ Tchau, meu amor. Mamãe vai, mas mamãe volta.
Sônia saiu do escritório rebolativa, com seus passos sonoros nos saltos altos.
Ivan pôs as mãos no rosto,  em seguida socou a mesa.
_ Desgraçada!

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