Capítulo 11

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Capítulo 11

Igreja não era um ambiente em que Ivan apreciasse, pelo contrário,  as lembranças que tinha dos templos religiosos eram de padres afirmando que gays e lésbicas queimariam no fogo do inferno e isso o irritava profundamente. 
Contudo, não poderia faltar a missa de um mês de falecimento do seu pai. Não que Ivan queria prestar algum tipo de homenagem a Raúl, ou estivesse preocupado com o rumo que sua teria, Ivan estava ali para manter a boa aparência diante da alta sociedade.
Surpreendeu-se ao ver Gael entrando na igreja vestindo terno e gravata pretos. O publicitário se aproximou do primo e apertou a sua mão.
_ Eu gostaria de falar com você hoje a noite no sítio da família. Estarei de aguardando às oito da noite._ dito isso Gael se distanciou de Ivan para sentar ao lado da irmã.
A missa seguia monótona para Ivan. O empresário não prestava atenção nas palavras do padre, e sim, apenas pensava no que Gael poderia querer falar com ele.
Para a sua surpresa, viu uma bela jovem de cabelos curtos negros e olhos azuis que caminhava em sua direção. Ela sorriu ao vê e o abraçou.
_ Sinto muito, meu amor.
_ Carla! O que faz aqui? Não me disse que viria.
_ Eu não tinha nada programado. Mas percebi que seria egoísmo da minha parte te deixar só neste momento tão difícil. A descoberta da traição da sua mãe, a morte do seu pai...tudo isso está afetando o seu psicológico.
_ Você poderia ter me avisado que viria.
_ Eu conversei com o seu primo Gael. Ele me disse que você precisava de mim e me convenceu a vim ficar do seu lado. Nós dois achamos melhor fazer uma surpresa.
_ E desde quando você e o Gael são amiguinhos?
_ Eu já te disse que o conheci no Instagram. Ivan, você não gostou que eu vim?
Carla esperava ser recebida com abraços e alegria. Imaginava que Ivan sentia a sua falta e precisava dela, mas ao vê-lo frio e não feliz a deixou decepcionada.
Gael acenou para Carla sorrindo e a moça retribuiu.
No final da missa, Gael se aproximou do casal Carla e Ivan, abraçando a jovem, num abraço giratório. Ele demonstrava tanta satisfação em vê-la que ela lamentou mentalmente por Ivan não ter tido a mesma reação.
_ Que bom te conhecer pessoalmente, Gael.
_ O prazer é todo meu. Você é muito mais bonita pessoalmente do que nas fotos. O meu primo é um homem de sorte.
_ Sim. Eu sou._ Ivan respondeu com um falso sorriso e uma vontade imensa de agredir Gael por ter convidado Carla para voltar ao Brasil.
_ Obrigada, Gael. Você é muito gentil. E o seu namorado? Ele é muito bonito e pelo o quão bem você fala nele já me deixou louca para conhecer o Victor. Seria ótimo se nós quatro fizéssemos algum programa juntos, não acha amor?
Ivan estava com tanto ódio que não conseguiu responder.
_ Eu adoraria, mas estou desempregado graças a um idiota que me persegue. Aí você sabe, né...tenho que economizar dinheiro. Mas o meu querido primo tem uma piscina tão grande, bem que poderia nos convidar para um churrasco na sua casa. Assim, Carla, você teria uma ótima oportunidade de conhecer o meu amorzinho.
_ Nossa! Seria massa. Não é mesmo, amor?
_ Com certeza será um prazer receber o meu priminho e o lindo namoradinho dele na minha casa, mas podemos falar sobre isso outro dia? Eu estou um pouco emocionado com a morte do meu pai.
_ Tudo bem, primo. Eu sei o quanto a morte do tio Raúl te afetou. Pelas suas lágrimas no funeral, vi o quanto o amava._ Gael dizia olhando no fundo dos olhos de Ivan. _ Aliás, Carla,  pretende ficar muito tempo aqui no Rio?
_ Eu estava pensando em ficar um pouquinho. Eu quero ir à Porto Alegre ver a minha família. Se o Ivan me acompanhar, é claro.
_ Vamos, amor? Eu estou cansado.
_ Tudo bem. Tchau, Gael. Vamos marcar sim. Eu estou louca para conhecer o Victor.
Carla se despediu de Gael dando três beijos nas faces dele.
Ela se sentiu incomodada com o silêncio de Ivan durante o percurso para casa, mas achou que era por causa da morte do seu pai.
_ A sua casa é incrível! Pena que não vim aqui antes quando os seus pais viviam nela.
Ivan se aproximou de Carla com um copo de Uísque na mão. Abraçou-a e beijou a sua boca com desejo, enquanto acariciava os seios rígidos e fartos da namorada.
Ele sentia o pênis rígido. Sentia saudades de se deliciar com o corpo da namorada.
Carla desceu a mão para sentir o pau do namorado.
O momento de carícias do casal foi interrompido com a entrada de Sônia.
Carla ficou envergonhada de ser flagrada.
_ O que você está fazendo aqui? Como entrou?
_ Eu ainda tenho as chaves da casa.
_ Boa tarde, dona Sônia. _ Carla esticou a mão para cumprimentar a sogra, que retribuiu beijando o rosto da moça.
_ Que bom te conhecer pessoalmente, Carla. Pena que não estamos numa situação muito comemorativa.
_ Eu lamento muito pela morte do seu Raúl.
_ Sim, minha querida. Foi uma perda irreparável.  Mas eu tenho certeza que o meu querido Raúl está descansando num lugar muito melhor.
_Mãe, o que você veio fazer aqui?_ perguntou Ivan impaciente.
_ Eu preciso muito falar com você, meu filho. Carla querida, você se importa de nos deixar um momento a sos?
_ Não. De jeito nenhum. Fique à vontade.
_ Obrigada. Você é um amor.
Sônia sorria para Carla fingindo ter alguma simpatia com a moça, enquanto na verdade não tinha nenhuma simpatia por ela ser classe média. Julgava Carla como uma oportunista.
A jovem se retirou da sala, indo para o quarto de Ivan.
_ Agora pode tirar a máscara de mãe simpática e me diz o que você quer, Sônia. Mas seja breve, porque tenho mais o que fazer.
Ivan sentou numa poltrona, com a perna cruzada sobre a outra formando um quatro, bebendo o Uísque.
Sônia parecia triste e preocupada. Usou da sua expressão mais comovente e sentou no sofá.
_ Eu sei que errei. Errei feio em trair o seu pai. Fui fraca. Desvalorezei o que tinha de mais importante, que era a minha família, por causa de um casinho qualquer. Mas estou tão arrependida, meu filho. Todas as noites eu choro amargamente.
Ivan revirou os olhos para cima.
_ Se você tivesse dado alguma utilidade a sua vida, garanto que seria uma ótima atriz. Sem palhaçadas, Sônia. Me diz logo o que você quer.
_ Eu preciso de ajuda. Estou sem casa, sem dinheiro e  sem ter o que comer. Ivan, eu sou a mãe! Se você quis me ensinar alguma lição, eu já aprendi. Mas não me deixe na sarjeta.
_ Eu não sabia que um hotel de luxo no Leblon agora mudou o nome para sarjeta. Mãe,  eu sei muito bem onde você está, porque sou eu que estou pagando. Esqueceu que a fatura do seu cartão chega para mim?
_ E por que você cancelou o meu cartão?
_ Porque dinheiro não dá em árvores. Você está se excedendo. Mil reais numa garrafa de vinho! Vinte e cinco mil num vestido!
_ E como eu vou viver agora? Como vou pagar as diárias do Hotel sem o cartão de crédito? Você vai ter coragem de deixar a sua mãe na miséria?
_ Claro que não. Eu já resolvi tudo para você, mamãe.
Sônia sorriu.
_ Sério, meu amor? Eu sabia que você não me decepcionaria.
_ Então, lembra daquele apartamento lá de Santa Rosa que era da vovó e ela vendeu para a tia Carmen? Então, eu comprei de volta e ele é todinho seu.
O sorriso de Sônia se desfez. Ela detestava o apartamento simples em que crescera.
_ Você só pode está de brincadeira.
_ Não, mamãe. Nada melhor do que voltar as raízes. Vai te dar um sentimento gostoso de nostalgia._ Ivan sorria debochado.
_ Você não pode fazer isso comigo. Não pode me jogar na miséria.
_ Ah, deixe de ser exagerada,  Sônia. O apartamento é ótimo. Apesar de simples, é bonitinho e confortável. Bem estilo classe média brasileira. Olha que consciência ,agora você pertence a mesma classe social que a Carla. Não é lindo sogra e nora tendo algo em comum?
"Ah, o seu cartão será cancelado, mas não se preocupe, que todo mês depositerei uma mesa de cinco mil reais na sua conta. Assim você poderá comprar as suas coisinhas."
_ Mas isso é uma miséria! Cinco mil reais não paga nem o meu cabelereiro!
_ Pois é, mamãe, terá que se adaptar a sua nova vida.
Sônia sentiu uma raiva tão intensa do filho, que não conseguiu manter a sua postura falsa. Entre os dentes disse:
_ Eu não fiquei anos aturando o nojento do Raúl para terminar num morando num bairro chinfrim e vivendo a minguas.
Ivan levantou da poltrona e foi até o bar, reabastecer o copo com Uísque.
_ Você deveria ter sido mais esperta, Sônia.
O ódio da mulher dominava cada fibra do seu corpo. Os seus olhar era raivoso e fatal como de uma leão querendo atacar a presa. Sônia não conseguiu se conter e gritou:
_ Você é uma coisa maligna! Você é cruel, Ivan! Eu te odeiooooo!
_ Deixando cair a máscara, mamãe?
_ Não me chame de mamãe. Eu não sou a mamãe. Filho nem um na natureza é desnaturado com a sua genitora como você está sendo comigo! Maldito dia em que eu te dei a merda da sua vida! Eu deveria ter te afogado naquela banheira quando você me irritou com o seu marido choro! Mas, não. Eu fui burra de ter só te jogado no chão.
Ivan arregalou os olhos surpreendido com a revelação da mãe.
_ Eu nunca te quis. Só engravidei para garantir a minha boa vida, mas foi a pior coisa que eu fiz na vida! Te suportei por todos esses anos,por nada! Maldito avião que não caiu quando você foi enviado para à Suiça.
Ivan sentia as palavras da mãe baterem na sua alma como navalhas cortando a carne. Sempre soube que nunca tivera o amor da mãe e sempre a odiou por isso.
Sônia nunca foi capaz de expressar um gesto de carinho. Sempre que podia o ofendia com palavras que destruía a sua autoestima. Apesar de tudo isso, ele sempre desejou o amor da mãe e por não tê-lo criou um ódio dentro de si.
_ Espero que o seu showzinho tenha acabado. A minha proposta é essa: o apartamento em Santa Rosa e a mesada de cinco mil. Se não quiser aceitar, vá para o raio que a parta.
_ Eu não consigo entender como o Raúl deixou tudo pra você, se sempre teve vergonha de ter um filho veado. Porque é isso que você é. Ou você tá pensando que me engana com esse namoro de fechada com essa garota sem sal? Será que ela sabe que não tem um homem ao lado, que na verdade está levando uma bicha? Ou ela é uma prostituta que você contratou para enganar o seu pai?
_ Já chega! Fora daqui! Nunca mais apareça na minha casa, sua vadia!
_ Você me paga, seu veadinho. Eu vou acabar com você.
Sônia se retirou enfurecida.
Carla, que ouvia tudo nas escadas, sentiu pena de Ivan e correu para abraça-lo.
_ Meu amor, eu sinto muito. Eu não fazia ideia que a sua família era assim.
Ivan se afastou da namorada.
_ Se você não se importa. Eu gostaria de ficar sozinho.
_ Tudo bem. Se precisar de mim é só chamar. Estarei no quarto.
Carla retornou ao quarto, deixando Ivan na sala mirando a piscina com o seu olhar enigmático  através da parede de vidro.

"Quero te ver, gatinho. Tô com saudades." Victor sorriu ao ler essa mensagem que Gael o enviou via Whatsapp. O garoto estava com muita saudades do namorado. Como fazia dias que Gael não atendia as suas ligações e nem mandava mensagem, Victor acreditava que o seu namoro havia acabado por culpa de Andréia.
_ Eu também estou com saudades, meu amor. Você sumiu.
_ Eu quero te ver agora. Estou na esquina da sua rua te esperando.
_ Não vai dar. A minha mãe está em casa. Ela tá na minha cola.
_ Sai escondido. Põe almofadas debaixo dos lençóis para ela pensar que você está dormindo.
Mesmo não sendo acostumado a cometer esse tipo de travessuras, Victor não resistiu as insistências de Gael e seguiu o seu conselho.
Pôs os travesseiros debaixo dos lençóis e saiu pela porta dos fundos com cuidado para não ser visto pela família.
Quando viu Gael encostado com as costas no carro, Victor se atirou nos seus braços e o beijou com desejo.
_ Você não sabe como é bom te ver. Eu tava morrendo de saudades. Pensei que não quisesse mais  saber  de mim.
_ Eu não sou louco de perder uma coisinha linda como você.
Gael beijou o pescoço de Victor pondo a mão por dentro da sua blusa.
_ Vamos dar uma voltinha?
_ Bom ... a minha mãe não sabe que estou aqui e...
_ Xiii. Se quiser que ficamos juntos você terá que ser mais corajoso. Eu prometo que você vai adorar o nosso passeio.
_ Aonde vamos?
_ A um lugar muito especial.

Ivan ainda estava atordoado com as palavras da mãe. Sentia uma tristeza torturante que não o permitia chorar. O fato de não ter o amor da sua mãe sempre o fez sentir-se um lixo humano.
Todavia, foi ao encontro de Gael. Tinha esperanças de se reconciliar com o primo. Pensou em pedir desculpas a Gael e oferecer de volta o apartamento a Luíza e doar para ela uma bom quantia em dinheiro. Também planejava oferecer a Gael dinheiro para que ele abrisse a sua própria agência de publicidade, a  fim de se redimir por fazê-lo perder o emprego.
O motivo da mudança de atitude de Ivan foi o fato de repensar o porquê não conseguia o amor das pessoas. Talvez seria as suas atitudes? Pensou que sim.
Cogitou se tivesse dado mais espaço para Gael, sido mais compreensivo quando ele disse não querer ter um relacionamento sério as coisas poderiam ter dado certo entre eles.
Ivan acreditou  que poderia ter aproveitado bons momentos com Gael aceitando um relacionamento aberto. Quem sabe assim, com o tempo,  Gael mudasse de opinião e eles poderiam ter uma relação mais sólida?
Como viu que as luzes da casa do sítio estavam acesas, Ivan presumiu que Gael já estivesse no local. Já que os caseiros só iam na casa principal durante o dia para fazer a limpeza.
O moreno entrou na sala arrasado. Suspirava fundo e estava cabisbaixo.
Para o seu espanto ouviu gemidos vindo do segundo andar.
Subiu as escadas lentamente para que a sua presença não chamasse a atenção.
Ao se aproximar do quarto que fora da sua avó,  Ivan abriu a porta devagar.
Por mais que a realidade cruel  estava diante dos seus olhos, Ivan se recusava a acreditar que Gael estava transando com Victor no lugar que deveria ter sido a primeira vez deles. Um lugar que Ivan guardava com todo carinho nas lembranças.
Completamente nu,  Victor rebolava na pica de Gael, gemendo alto em êxtase. Como estava de costa para a porta não viu a presença de Ivan. Contudo, Gael olhou para o rosto do primo sorrindo. Soado, beijava o ombro de Victor enquanto metia com força, sentindo ainda mais prazer por ser observado por Ivan e provocando-o dor. Essa era a vingança de Gael por Ivan ter feito perder o emprego.
Ivan saiu da soleira da porta do quarto da sua avó e foi para o seu antigo quarto.
Sentou na cama, com os cotovelos apoiados nas pernas, segurando a cabeça.
Naquele momento foi dominado por um ódio intenso. As palavras de Sônia e ver o homem amado com outro naquele sítio  feriam os seus sentimentos.
Ao olhar para frente avistou um taco de beisebol que havia ganhado de presente de natal e nunca usou. Levantou num rompante apanhando o objeto e caminhou enfurecido em direção ao quarto onde Gael e Victor faziam de ninho de amor.

***

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