Capítulo 53

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Capítulo 53

O sorriso de Ivan surtia nele um efeito de um  encantamento, uma transmissão de paz e ternura. Os olhos semicerrados ao sorrir, destacando os longos cílios negros era para Victor era  de uma beleza esplêndida.
Tocou com as pontos dos dedos na pequena pinta próxima ao olho direito e foi explorando a sua face, acariciando o rosto do homem amado, que tinha sobre ele um olhar penetrante.
_ Bom dia, Solzinho.
Ouvir a voz do marido dava-o a sensação de aconchego. Sorriu retribuindo o sorriso que recebia de Ivan e o beijou.
_ Bom dia, meu amor.
Pensou em se aconchegar em seus braços para desfrutar do calor do seu corpo e da proteção que Ivan o oferecia. Contudo, despertou antes de concluir o ato.
Victor ficou por alguns segundos olhando para o teto, em silêncio mental, tentando manter em sua mente a imagem do sonho que acabava de sonhar.
Aos poucos, a imagem da expressão serena e amorosa de Ivan foi dando lugar ao seu rosto magro e abatido, os belos olhos vivos e acolhedores se transformaram na visão de um triste e confuso olhar contornado por olheiras profundas.
Preocupou-se com o estado de saúde do marido. Concluiu que Ivan não se alimentava e nem dormia bem. Sempre odiou o seu mau hábito de fumar e agora com tudo isso, deveria está fumando mais do que de costume, o que seria prejudicial aos seus pulmões.
Imaginou que Ivan adoeceria e para o aumento do seu desespero, cogitou que o marido morreria. Imaginou-o triste em seu quarto, escuro, solitário e enfermo. Victor não conseguiu conter as lágrimas.
Era certo que estava magoado, decepcionado e com raiva de Ivan, mas não desejava a sua morte e o seu sofrimento.
Contudo, lhe veio a mente a imagem da sua família e amigos chamando-o de "burro", "estúpido "  e "tolo" por se preocupar com o homem que tentou contra a sua própria vida.
Lembrou-se do fato e sentiu-se desesperado em imaginar Ivan o odiando ao ponto de tentar matá-lo. As mãos tremiam, o peito doía muito.
Sentou na cama sentindo um nó na garganta e respirava com dificuldades. Um pânico se apoderou sobre si quando visualizou, mentalmente, Ivan adoecido.
Correu para a sala com a intenção de pedir ajuda. Encontrou Andréia sentada no sofá assistindo TV.
A mulher ficou desesperada ao ver o filho com os olhos arregalados, apavorado, tentando pronunciar algo que não conseguia dizer, puxando um ar para respirar. Levantou a mão trêmula e com muita dificuldade conseguiu dizer:
_ Eu...não...que...que..quero que ele morra! Eu...não...quero...me ... aju...ajude...mãe!
Andréia concluiu que Víctor estava tendo um ataque de pânico e correu para abraçá -lo.
_ Calma, meu amor! Calma!
Ela foi ao quarto às pressas e voltou com a bombinha de ar do menino. Fez-o sentar no sofá e o deu um copo com água e o comprimido do calmante que o médico havia receitado.
Medo, angústia, compaixão, raiva e tristeza misturavam-se dentro do menino, fazendo o seu coração bater mais forte.
Chorou desesperado, gritava e soluçava, deixando a mãe preocupada.
Aos poucos, ele foi se acalmando nos braços da mãe, sentindo-se acolhido sob o carinho e amor materno.
No dia seguinte, ela levou o filho ao médico que o encaminhou a um psiquiatra por desconfiar que o menino sofreu um ataque de pânico ou uma crise de ansiedade.
Quando esteve só em seu quarto, ligou para Maria, que o atendeu feliz por falar com ele.
A empregada disse que sentia saudades e que queria muito vê-lo. Perguntou se ele voltaria para a casa e obteve um não como resposta. Ele contou a ela o motivo pelo qual foi embora, o que a deixou horrizada.
Maria não esperava essa atitude vindo do patrão. Ela sabia que ele amava o loiro e jamais poderia imaginar que chegaria ao extremo.
_ Menino, o que ele fez foi horrível! Você tem toda razão em se afastar, e de se  sentir magoado. Mas, uma coisa eu posso te garantir: seu Ivan está muito arrependido. Ele está amargando o peso do remorso. Nunca vi esse homem sofrer tanto como  está sofrendo agora. Eu acho que se continuar assim, vai entrar em depressão. Ele está pagando muito caro pelo que te fez.
Victor sentiu-se mal pelo estado emocional do marido. Mas, ao mesmo tempo se sentiu tolo por se preocupar.
_ Maria, não diga ao Ivan que eu te liguei e nem o que eu vou dizer agora, mas cuide bem dele. Não o deixe que se mate sem comer direito.
_ Você também o ama? Isso é lindo demais. O amor de vocês é muito lindo mesmo. Chega me emocionar. Há alguma chance de você o perdoar?
_ Não! O que ele fez me machucou muito. Eu não consigo.
_ Eu entendo. Mas, dê tempo ao tempo, menino. Eu tenho fé que vocês ainda vão se  acertar. Vocês dois são lindos juntos.
Maria torcia pela reconciliação do casal. Religiosa, acendia velas e pedia aos santos que rogassem pelo casal, que amor fosse mais forte do que a mágoa e o perdão acontecesse para que ambos pudessem voltar a ser felizes.
Na hora do jantar, preparou, por sugestão de Víctor,  uma sopa de legumes batida no liquidificador e levou para Ivan em seu escritório, numa caneca.
_ Com licença, seu Ivan. Eu trouxe para o senhor.
_ O que raio é isso?
_ É uma sopa batida no liquidificador. O senhor não está  se alimentado bem e eu trouxe algo nutritivo e fácil de digerir.
_ Eu não vou tomar isso.
_ O sabor está ótimo, senhor.
_ Isso é comida de doente.
_ O senhor quer algo sólido? Eu posso preparar.
_ Eu não quero nada. Pode ir.
_ Mas, o senhor precisa comer! Não se alimenta direito há dias.
_ E por acaso você se tornou fiscal da minha alimentação?
_ Não, senhor. Eu só estou preocupada com o senhor.
_ Obrigado pela preocupação, mas não quero.
_ Na verdade, eu não deveria dizer, mas vou dizer mesmo assim.
_ Maria, com todo respeito, mas eu não ouvir sermão de empregada.
_ Não é isso, seu Ivan. É que na verdade, o Vitinho me ligou. Ele está preocupado com o senhor, com a sua saúde e me sugeriu preparar esta sopa. Mas, ele não quer que o senhor saiba.
_ Você está falando sério?_ Ivan perguntou sorrindo.
_ Sim. Ele o ama, seu Ivan. Desculpe o meu atrevimento, mas eu peço que não se entregue a tristeza, que lute pelo seu casamento. Há amor entre vocês dois. Eu tenho fé que o Vitinho há de te perdoar. O senhor só precisa se esforçar para conquistá-lo. E para isso precisará de forças físicas.
Ivan sorriu olhando para a caneca. Seu coração se encheu de esperanças ao saber que Victor se preocupava com ele.
_ O meu Solzinho é mesmo um anjo. Como pode ainda se preocupar comigo depois de tudo que fiz? Como eu pude perder um homem desses? Eu o quero de volta. Eu vou lutar por ele, Maria.
Maria sorriu satisfeita com a perseverança do patrão, vendo nele se acender a chama da esperança. A face ficou iluminada com um sorriso.
Pegou a caneca e bebeu com vontade.
_ Hum! Até que tá bom!
_ Receita do Vitinho.
Ambos sorriram.


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