Capítulo 63

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Capítulo 63

Pelos corredores do orfanato era possível ouvir os gritos das crianças, que brincavam no pátio.
Ivan olhava o relógio no pulso a cada minuto. Estava ansioso a espera de Victor, que estava atrasado. O loiro mandou uma mensagem via Whatsapp, informando que estava dentro do UBER, preso num engarrafamento.
A assistente social se aproximou, caminhando nos seus saltos pretos scarpin e vestida com o seu terno preto de listras finas e brancas. Era uma mulher negra, esbelta e tinha os cabelos curtos e alisados. Sorria tentando ser simpática.
_Boa tarde,  Ivan? Como está?
_ Boa tarde, Marisia. Tudo bem.
_ E o seu companheiro?
_ Ele está chegando. Acabou de mandar uma mensagem, dizendo que está num engarrafamento.
_ Sei bem como é. A esta hora o trânsito desta cidade é uma loucura. Você  pode ir vendo a menina, ou prefere esperar pelo seu companheiro?
_ Eu estou tão ansioso, que acho que não vou conseguir esperar._ Ivan disse sorrindo.
_ Eu entendo.
O empresário não dormira bem desde que recebeu a ligação de Víctor falando sobre o caso da menina. Assim que desligou o telefone, pesquisou sobre o caso na internet e ficou chocado com as crueldades que a menina sofreu.
Não conseguia entender a si mesmo por se ver chorando lendo as notícias. Ivan nunca foi uma pessoa empática, mas por aquela menina, que ele nunca havia visto o rostinho e nem sabia o nome, sentiu uma dó imensa pelo  seu sofrimento.
Imediatamente, entrou em contato com a sua equipe jurídica para entrar com o pedido de adoção da menina. Não se conteve em usar os seus conhecimentos para furar a fila de espera de adoção para conseguir levar a sua filha para casa.
Sim. Ivan já a considerava sua filha. Sentiu que era a ela que daria o seu amor, carinho, proteção e sobrenome. Não sabia o porquê a escolheu. Apenas sentiu e seguiu o seu instinto paternal, assim como Víctor.
Marcaram para ir conhecê-la naquela tarde chuvosa de dezembro. Como era próximo do Natal, Ivan decidiu levar um presente para ela e para as outras crianças do local. Walace e os seus outros seguranças ficaram encarregados de levar os presentes e os funcionários do orfanato de fazer a distribuição para as crianças.
Dentro de poucos dias a menina já estaria em sua casa, o que incentivou Ivan a apressar os decoradores com a organização da casa nova. Pediu para que Victor o ajudasse nas escolhas dos móveis e decoração.
A princípio, o loiro se recusou. Dizendo que não teria sentido ele opinar sobre uma casa que não moraria. No entanto, Ivan insistiu, usando como argumento o fato que estaria ajudando a construir o lar da também sua filha, o que foi o suficiente para convencer o loiro.
Há uma semana, a assistente social visitou a casa dos Matarazzo. Víctor fingiu morar lá e estava um pouco tenso por causa da mentira. Ao contrário de Ivan, que agia com naturalidade e ainda se aproveitava da situação para dar uns beijinhos em Víctor, dizendo para o loiro que precisavam manter o teatro.
Ivan e a assistente se aproximaram da porta do quarto, onde a pequena estava.
_ Por que ela não está brincando com as outras crianças?
_ Ela está muito traumatizada por tudo que a aconteceu. Sempre sofreu maus tratos. Ela não fala com as pessoas. Tem medo de tudo e todos. Vive reclusa. Nunca recebeu afeto, só agressões. Será muito complicado o processo de socialização.
_ Que monstro miserável! Como alguém pode ter coragem de fazer isso a uma criança? Espero que essa vadia morra na cadeia. Como ela se chama?
Marisia respirou fundo antes de responder. Sentia repulsa em ter que relatar mais uma crueldade.
_ A desgraçada a chamava de peste. A menina não conhece o próprio nome. Para ela o seu nome é peste.
Ivan ficou tão revoltado, que sentiu vontade de matar a torturadora da criança.
_ A mãe não a registrou antes de morrer. Mas, segundos testemunhas, a chamava de Marinalva.
_ Marinalva?! Mas, isso não é um nome, é um castigo! Nem pensar. Vamos ter que escolher outro nome pra ela.
Marisia abriu a porta e Ivan ficou perplexo diante da imagem daquela magra menininha de cabelos loiros e cacheados, que se encolheu na cama ao vê-los.
O empresário sentiu algo tão bom dentro do coração que expressou com um sorriso.
Ela o olhava com os seus olhinhos verdes e assustados, querendo chorar.
Ivan nunca recebera o amor paternal, mas naquele momento, pode sentí-lo.
Tentou se aproximar, mas a menina se encolhia ainda mais no cantinho da cama, próximo a parede. Ela abraçava as perninhas finas.
Ele recuou para não assustá-la.
_ Está tudo bem, meu amor. Eu sou o seu papai. Vou te levar comigo daqui a alguns dias e você será muito feliz na nossa casa.
A menina tremia assustada, deixando Ivan compadecido.
_ Peço que o senhor tenha um pouco de paciência. Ela ainda vai se acostumar com a nova situação.
Víctor chegou afobado. Estava ainda mais ansioso que Ivan. Sentia dentro de si um chamado forte. Como se necessitasse ver a menina o mais rápido possível.
Optou por não informar a ninguém da família sobre a adoção. Não estava com paciência para aturar os julgamentos da família a respeito da sua decisão.
Foi informado por uma funcionária do orfanato, que Ivan e Marisia já estavam no quarto com a menina e foi conduzido até lá.
Na soleira da porta sentiu o coração bater mais forte, as mãos tremeram e algo bom surgir dentro de si.
Ao entrar e ver a sua pequena encolhida na cama, foi tomado por forte golpe de amor. Um sorriso iluminou o seu belo rosto e não via nada da sua frente a não ser o seu anjinho indefeso o olhando.
Pai e filha se olharam por alguns segundos. O medo da menina se dissipou como névoa no ar. Ao ver Víctor com os braços abertos, segurando um coelhinho rosa de pelúcia, ela sentiu que aqueles braços eram o seu abrigo e que ali estaria segura.
Sorriu mostrando os seus pequeninos e arredondados dentinhos de leite, abrindo os bracinhos. Víctor foi ao seu encontro e os dois se encontraram num abraço caloroso e a beijava no rostinho.
O loiro não conseguia conter as emoções e deixava as lágrimas rolarem pela sua face.
Abrigava-a em seus braços, prometendo em pensamento que a protegeria e a amaria para o resto da vida.
Ivan sorria apaixonado pela imagem do seu marido e filha se encontrando pela primeira vez.
_ Eu amo vocês. _ disse o empresário admirando a família.

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