Capítulo 65
Virgínia revirava os olhos para cima, chateada por ter que trabalhar no último dia do ano.
_ Daqui a pouco a loja vai fechar. Vamos trabalhar até meio dia._ respondeu Víctor, tentando animar a amiga.
_ Mesmo assim. Foi sacanagem do Renato abrir a loja hoje. Quem compra carros no dia trinta e um de dezembro? Ele mesmo está em casa de boa.
_ Ele pode. É o patrão._ Víctor disse encolhendo os ombros e erguendo a cabeça para o lado.
_ Você vai comigo, a Lu e o Gael para a praia de Icaraí hoje, né?
_ Eu ainda não sei. A minha mãe e Renato vão à praia de Copacabana e me convidaram. O meu avô vai dá um churrasco na casa dele. Eu nem sei para aonde vou.
_ Você vai conosco para Icaraí. É pertinho da sua casa e você já passou o natal com a sua família. É justo que passe o réveillon com os seus amigos.
_ É. Pode ser. É pertinho da minha casa mesmo. Quando me der sono é só subir para o apartamento.
_ E o filho da puta do Ítalo? Te deixou em paz?
_ Que nada. Ainda fica me ligando e mandando mensagens. Você acredita que ele disse que iria se matar se eu não falasse com ele?
_ Que moleque ridículo! Isso é draminha. Chantagem emocional da mais baixa.
_ A minha mãe e o Renato disseram a mesma coisa. Tomara que seja mesmo. Eu não quero que ninguém se mate por minha causa.
_ E você acha que o Ítalo tem perfil de suicida? O cara vive na farra e pega geral. Isso aí é tortura psicológica contigo.
Helena se aproximou dos dois dizendo para Víctor que Renato havia ligado, o liberando do trabalho.
_ Por quê? Aconteceu alguma coisa com a minha mãe?
_ Não. Ele disse que um tal de Ivan Matarazzo vai mandar um motorista te buscar.
_ O Ivan?!
_ Uh,é! O que aquele louco quer contigo, Vitinho?_ quis saber Virgínia.
_ Eu não faço a mínima ideia.
Walace chegou alguns minutos depois. Cumprimentou Víctor sorrindo.
_ Bom dia, seu Víctor. Quanto tempo! Como o senhor está?
_ Bom dia, Walace. Eu estou bem e você?
_ Ótimo.
_ Aconteceu alguma coisa com o Ivan? É estranho ele pedir para que você me busque assim do nada.
_ Aconteceu sim. Eu tenho certeza que o senhor vai adorar a surpresa.
Victor seguiu todo o trajeto aflito de curiosidade.
Ao chegar no portão da casa, um sorriso espontâneo iluminou o seu rosto e os seus olhos brilharam ao ver Ivan o aguardando na porta de casa, com Alice no colo.
A menina estava muito diferente do dia em que a viu pela primeira vez. Como Víctor e Ivan a visitavam quase todos os dias, ela já havia se acostumado com eles. Estava mais desinibida e falante com os pais.
Aos poucos, os hematomas no corpinho estavam cicatrizando e uns sumindo. Ela também ganhou um pouco mais de peso. Os seus cabelinhos estavam penteado em forma de Maria-chiquinha, usava um vestidinho azul claro, com um avental branco, modelo que Ivan mandou fazer inspirado no longa da Disney de Alice no país das maravilhas. Era uma forma de impressionar Víctor, e o objetivo foi atingido com sucesso.
Ivan apontava para o carro.
_ Olha lá o outro papai.
_ Papaizinho loiro!_ A menina dizia sorrindo, apertando as próprias bochechinhas.
Victor saiu do carro correndo em direção a eles. Tomou a menina nos braços e a abraçou girando-a, dando muitos beijos no seu rostinho.
_ Meu amor! Você está aqui!
_ Olha o meu vestido, papai! Eu tô "munita"?
_ Você tá linda! Caramba! É o vestido da Alice no país das maravilhas!
_ Não dela não! É meu. Papai Ivan que me deu.
Todos gargalhavam com a ingenuidade da menina.
_ Mas não era só na próxima semana que ela viria?
_ Sim. Mas, eu dei me jeitinho brasileiro.
_ Você e esse seu jeitinho brasileiro.
_ Desta vez foi por uma boa causa. _ Ivan disse piscando o olho.
_ Sou obrigado a concordar.
Ivan o beijou na testa.
Ao pôr a menina no chão, ela o puxou para dentro da casa.
_ Vem, papai. Vem ver o meu "carto ". Tem um monte assim ó de "binquedo".
A menina mostrava tudo deslumbrada. Nunca havia tido uma boneca na vida e agora possuía tantos brinquedos, que o seu quarto e brinquedoteca pareciam uma loja.
Víctor achou que Ivan exagerou nas compras.
_ Não exagerei não. Tem até poucos.
_ Poucos! Você tá brincando né?
_ Eu tive muito mais brinquedos quando era criança!
_ E virou um playboyzinho mimado.
Ivan mostrou a língua para Víctor e o beijou no rosto.
_ Papai Ivan disse que a gente vai pra Disney. Eu, "mocê" e ele. E a gente vai vê o Mickey, o pateta e pato Donald. _ A menina falava contando nos dedinhos.
_ Ah, quer dizer que o papai Ivan está fazendo planos para nós três sem me consultar?
_ É pedagógico que a primeira viagem internacional da Alice os pais estejam presentes.
_ Agora o senhor entende de pedagogia, Ivan Matarazzo?
_ Eu sou especialista no assunto.
Víctor sorriu com a cara de pau de Ivan.
_ Você vai almoçar conosco? Por favor, é o primeiro almoço da Alice conosco.
_ Almoça com a gente, papai? O papai Ivan fez batatinhas.
Víctor olhou espantado para Ivan.
_ Você fez batatas?!
Ivan o olhou de um jeito misterioso.
O moreno pediu para que Víctor sentasse à mesa com Alice, que sentou na sua cadeirinha especial para crianças pequenas.
O loiro ficou surpreendido ao ver que Ivan trazia os alimentos para a mesa.
_ É isso mesmo? Você que está servindo?
_ Não só servindo, como fui eu quem cozinhei tudo.
_ Você tá de brincadeira, né?
_ E por acaso pareço estar brincando? Não há nenhuma empregada aqui.
Victor deu uma gargalhada batendo palmas.
_ Eu não acredito que vivi pra vê Ivan Matarazzo cozinhando! Vai cair uma tempestade devastadora em Niterói.
_ Olha só, como você faz mau juízo de mim. Que injustiça!
_ Vamos ver se está bom!
Víctor ergueu o cloche e ficou surpreendida com a boa aparência do estrogonofe de frango. Fechou os olhos para sentir o bom aroma do prato.
_ Parece está delicioso! Você fez estrogonofe de frango!
_ Fiz porque é o seu prato favorito!
Víctor sorriu com o coração cheio de ternura e carinho por Ivan.
Ivan Matarazzo sempre foi um homem determinado tantos nos negócios, quanto na vida pessoal. Sempre que almejava algo, lutava com afinco até obtê-lo. Dedicou-se com muito esmero para preparar o melhor almoço que poderia fazer e conseguiu. O estrogonofe estava delicioso, o arroz soltinho e as batatas fritas estavam crocantes por fora e macias por dentro.
_ Nossa! Isto aqui tá muito bom! Nunca imaginei que você pudesse cozinhar! E muito bem. Esse é um dos seus segredos?
_ Até ontem eu não sabia ligar o fogão. A Maria me ensinou. Passei a tarde inteira treinando até chegar neste resultado. Eu faço tudo para te agradar.
Víctor sorriu, fechando os olhos, deixando Ivan encantado.
_ A sobremesa ficou por conta da Maria. Ela fez aquele pudim de leite condensado que você adora!
_ Hum! Isso é covardia! Eu vou sair daqui gordo!
Após descansarem o almoço, Ivan os convidou para irem à piscina.
_ Você me chamou de surpresa, eu nem tive tempo de trazer roupas de banho.
_ Todas as suas sungas e outras roupas estão no closet do meu quarto. Você levou poucas roupas quando foi embora.
_ Você as guardou por todo esse tempo?!
_ Sim. Elas são suas. Eu tenho esperança que volte para casa.
_ Ivan, vamos com calma!
_ Eu tenho toda paciência do mundo.
Eles passaram o dia se divertindo na piscina e brincando com Alice no parquinho que Ivan mandou instalar no quintal: com escorrego, balanço e um pequeno carrocel.
Víctor assistia satisfeito a felicidade do marido brincando com a filha. Pela primeira vez, Ivan estava tendo um momento feliz famíliar. A paternidade o fez sentir o sabor da felicidade.
No final da tarde, Ivan os convidou para tomar sorvete perto da praia.
Ao ver o mar pela primeira vez, os olhinhos de Alice brilharam e ela pulou de alegria.
Víctor e Ivan a levaram na praia pequena de itaotiacara, onde ela brincou até cansar e voltou para a casa adormecida no banco de trás do carro.
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Verdades secretas
RomanceEm meio a hipocrisia, preconceito, ódio e rancor, Ivan encontra o grande amor da sua vida. Alguém capaz de despertar o melhor de si e o torná-lo bom, que fará a felicidade reinar sobre os seus dias. No entanto, um segredo obscuro e cruel poderá por...