Capítulo 58

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Capítulo 58

Os hematomas sobre a face eram nítidos. Os belos olhos azuis, que outrora eram delineados pela maquiagem, estavam contornados pelo inchaço e uma coloração arroxeada.
Sônia se via solitária sentada no pátio da penitenciária olhando para as outras presidiárias.
Para o seu azar, a sua pior inimiga era Maria Quitéria, uma nordestina de baixa estatura, pele morena e uma longa cabeleira de cachos rebeldes. Ela era a líder do local. A que todos respeitavam e temiam.
Quando contrariada, despejava a sua raiva por tapas sonoros nos rostos das sauditas, ou às vezes, fazia por prazer e reafirmar o seu poder.
Ela era respeitada até mesmo pelas carcereiras e pelo diretor do presídio, o qual tinha um tórrido caso amoroso.
Marção era o seu braço direito no presídio. A lésbica comia nas suas mãos, pés e onde Quitéria desejava.
Os motivos da sua prisão foram os assassinatos em séries que cometeu contra os seus quinze maridos.
Desde jovem, a assassina gostava de seduzir homens alcoólatras e solitários, vivia com eles em suas casas e os matavam com várias tesouradas. Quitéria mentiu em júri, alegando que cometeu os assassinatos por legítima defesa, o que não foi credibilizado pelo júri, já que a mulher foi diagnosticada com um alto grau de sociopatia e demonstrava prazer quando relatava os crimes.
Apesar de respeitá-la, as detentas a odiavam internamente pelos abusos cometidos pela assassina. Contudo, nenhuma tinha coragem de revelar o seu ódio e se rebelar contra a chefona.
A primeira visão que teve de Sônia não a agradou. Viu nela uma ameaça. E o seu ar de superioridade não a agradava.
Como não ficaram na mesma sela, Sônia pode dormir tranquilamente nos primeiros dias na prisão.
Contudo, a antipatia de Quitéria por Sônia se converteu em raiva, quando soube que o diretor do presídio tinha uma atração pela bela loira. Atração essa que ele não fazia questão nenhuma de esconder, já que sempre olhava para ela com desejo e a tratava com carinho.
Sônia o achou feio e desinteressante sexualmente por ser baixinho, gordinho e calvo. No entanto, concluiu que faria o sacrifício de suportar ter uma relação com ele para obter vantagens.
A mulher o tratava de um jeito carinhoso,  falando com ele sempre com a voz aveludada. Sentava em seu colo, se fazendo de mulher carente e solitária que precisava da proteção de um homem másculo como ele.
Narrou a sua história a sua maneira, dizendo-se vítima do filho psicopata. Dizia que apesar de tudo o amava e que sempre foi uma boa mãe. Ele acreditou nela de primeira. Juntando o seu desejo sexual com compaixão, se ofereceu para pagar um bom advogado para Sônia, já que ela alegou não ter mais dinheiro e não confiar no advogado que a prestava serviços.
Como Quitéria era muito influente na prisão, soube dos jogos de redução de Sônia com o seu homem e não quis deixar barato.
A bela loira foi despertada às seis da manhã pela carcereira, que a chacoalhava com brutalidade.
_ Acorda, princesa! Bora mover essa bunda da cama e trabalhar. Hoje é dia de lavar o banheiro.
Sônia ainda sonolenta disse:
_ Ainda bem mesmo. Aquela privada tá um nojo. Espero que não usem aquele desinfetante horroroso com cheiro de banheiro de buteco.
A carcereira gargalhou e jogou os materias de limpeza em cima da mulher.
_ Você quem vai lavar, madame.
_ Eu?! Nem morta! Não nasci pra isso! Nunca peguei numa vassoura. Tá cheio de pobretonas acostumadas com esse tipo de serviço.
_ Abusada você, hein! Tá se garantindo em que?
_ No meu belo sorriso e no meu delicioso corpo.
Sônia se referia a relação que mantia com o diretor.
A carcereira respirou fundo e olhou para outra sela, onde Quitéria olhava encostada nas grades. Impaciente, a mulher puxou Sônia pelo braço e a jogou no chão.
_ Pode baixando a bola, Madame. Você é muito nariz em pé. Anda por aí toda se querendo. Pensando que é melhor que todo mundo. Cuidado. Você tá marcada.
_ Marcada pra quê?_ Sônia perguntou preocupada.
A carcereira deu uma gargalhada.
No banheiro, Sônia olhou enojada para a privada extremamente suja de excrementos e urina.
_ Que nojo!
Ela demonstrou ânsia de vômito.
_ Se vomitar será pior. Terá que limpar além de toda essa merda o seu vômito também.
Ela engoliu o refluxo e respirou fundo.
_Olha aqui, eu tenho grana. Eu posso te pagar para me liberar. Pago bem.
_ É mesmo? Rica você né? Cala a boca e limpa essa porra!
_ Como eu vou limpar isso? Essa privada é muito baixa.
_ Se ajoelha, caralho!
_ Neste chão imundo?!
_ Na hora de se ajoelhar para chupar uma pica você não reclama, né? Limpa logo!
Sentindo-se humilhada e com muito nojo, Sônia começa a limpar retorcendo o rosto.
_ Que sina! Maldita hora que eu não usei o anticoncepcional. Que merda!
A carcereira sorria ao vê-la abaixada limpando.
_ Que nojo! Hum! Essas bandidas só podem estar podres por dentro para cagar tão mal assim.

Mais tarde, na hora do banho de sol, Sônia foi abordada por Quitéria e o sua corte.
_ Oh, lora, quero levar um papo reto contigo.
Sônia a olhou com desdém e continuou andando, ignorando a serial killer.
Inesperadamente, sentiu os seus belos cabelos loiros serem puxados para trás e um tapa sonoro na sua face.
As outras mulheres gargalhavam, enquanto Sônia segurava o rosto que ardia, se sentindo assustada.
_ Olha aqui, lixo. Quando eu falar contigo, tu tem que me respeitar, ouviu? Quando Maria Quitéria fala, a burra baixa as orelha.
'Tu vai parar de piranhagem com o meu homem. É melhor sossegar a piriquita ou tu vai amanhecer toda lascada. '
_ Eu não sei do que você está falando.
_ Ah, você não sabe?_ Quitéria disse com voz infantil._ Olha, gente, ela não sabe. Vou ter que fazer ela saber.
Quitéria piscou para as outras, que sorriram.
A nordestina deu dois socos no rosto de Sônia. Um no olho e o outro no nariz, fazendo-o sangrar. Marção deu uma ajoelhada na barriga dela.
Com dor, Sônia caiu no chão e todas elas avançaram sobre ela como cães ferozes.
Por mais que ela gritasse pedindo ajuda, as carcereiras fingiam não ouvir.
Depois de terminar a sessão de porrada. Quitéria olhou para Sônia ferida no chão e disse:
_ Isso é para você deixar de ser puta e parar de dá em cima do homem alheio, vagabunda.
A assassina encheu a boca de saliva e cospiu  em cima da loura.
Daquele dia em diante, Sônia passou a ser perseguida prisão. Levava cotoveladas e socos quando passava no corredor. Era xingada diariamente e foi apelidada de verme por Quitéria. Tinha a sua comida jogada no chão e foi obrigada a comer de quatro e com a mão.
Quitéria fez questão de transformar a vida de Sônia num inferno.
Ainda sentada, Sônia  observava a chefona e as suas suditas som seriedade. Pensou consigo que não poderia continuar vivendo sob as perseguições de Quitéria.
Olhava para a bandida com nojo e pensou: "O seu reinado vai acabar, baranga! Você está com os dias contados."

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