Capítulo 9

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Capítulo 9


_ Para nós da MV publicidade é muito prazeroso fechar um contrato com uma empresa tão importante como a sua, senhor Matarazzo._ dizia Augusto sorrindo como uma criança num parque de diversões.
Ele apertava a mão de Ivan com alegria. Pela primeira vez a sua empresa mediana trabalharia na campanha publicitária de uma grande empresa como a construtora Matarazzo. O empresário, ficou muito surpreso quando foi procurado por Ivan e convidado por ele a ir ao seu escritório para fechar negócios.
Estranhou ser recebido pelo presidente  da construtora, já que havia um setor específico da empresa que negociava a publicidade.
Acreditou que recebeu uma dádiva divina.
_ A nossa equipe trabalhará com esmero para oferecer ao senhor a melhor campanha publicitária da história da MV publicidade.
_ Disso eu não tenho dúvidas. Mas antes precisamos acertar alguns pontos. Como sabe, te fiz uma proposta financeira muito generosa, mas tenho uma exigência.
_ O senhor é quem manda. Pode pedir o que quiser.
_ Para que fechamos contratos, eu quero que você demita um funcionário. Trata-se de Gael Mattos Louzada.
Augusto ficou surpreso com a exigência de Ivan.
_ Mas senhor Matarazzo, o Gael é o nosso melhor publicitário. Inclusive, graças a ele fizemos campanhas bem sucedidas e ganhamos alguns prêmios.
_ É pegar ou largar. O senhor escolhe, ou o nosso negócio, ou o seu funcionário.
Não há dúvidas que  Augusto preferiu o contrato com Ivan ao invés do funcionário, que tanto tinha apreço.
Não quis relatar para Gael o motivo da sua demissão. Mentiu que a empresa estava fazendo cortes de funcionários por problemas financeiros. A única pessoa com quem falou sobre o verdadeiro motivo da demissão de Gael foi para a sua secretária.
Como a mulher era amiga do publicitário, ela contou a ele sobre a exigência de Ivan.
Mesmo possuindo uma boa quantia de dinheiro guardado na sua conta bancária, Gael ficou preocupado com a sua família, que agora dependia dele e com os estudos da irmã.
Nunca sentiu tanto ódio do primo como naquele momento.
Na mesa do jantar, relatou para  a sua família o acontecido.
_ Ivan é um desgraçado! Ele não tem o direito de te perseguir desta forma._ Disse Luíza batendo na mesa.
_ A culpa é sua!_ disse Fernanda._ Nós estamos na merda porque você é um egoísta, Gael. Transa com vários homens por aí, o que custa ficar com o seu primo? Pense em mim e na sua irmã!
_ Mãe, você perdeu o juízo? O Gael não é obrigado a ficar com o nojento do Ivan por dinheiro.
_ E com quem o seu irmão deve ficar? Com o loirinho suburbano? Um pé rapado, que nem tem onde cair morto.
_ Já chega, mãe! Eu não vou ficar com o Ivan.
_ E o que você vai fazer? O nojento do Raúl nos deixou sem nada,  você está desempregado. Ah, pelo amor de deus, Gael! Use o cérebro.
_ Eu vou dar um jeito. Posso conseguir outro emprego.
_ Mãe, eu não gosto que você fala assim do meu pai.
_Luiza, deixe de ser idiota. O seu pai nos deixou na merda.
_ Eu não acredito que o meu pai tenha feito isso. Ele estava doente. Eu tenho certeza que o Ivan armou alguma coisa...sei lá, fez ele assinar sem ler. E eu não engoli a morte do meu pai. Muito estranho o Ivan ter dispensado todos os empregados justamente na noite em  que o meu pai morreu. Tem caroço debaixo desse angu.
_ O jeito será o Ivan morrer.
Luíza e Gael olharam para a mãe surpresos.
_ O que foi? Estão com peninha do desgraçado do Ivan depois de tudo que ele fez? Se ele morrer será um alívio para todos nós. O Gael deixa de ser perseguido e você Luíza, como irmã, passa a ser uma das herdeiras, junto com a desgraçada da  minha irmã, é claro.  E ninguém vai sentir falta daquele embuste. Nem a mãe gosta dele.
_ Mãe, eu não sou um assassino e não vou me tornar um ou cúmplice de uma.
_ Gael, meu filho. Eu não disse que vamos matar o Ivan. Deus me livre cometer uma barbaridade dessas, mas acidentes acontecem.
Fernanda levou o garfo à boca e saboreou o pedaço de carne.
_ Hum, isto aqui está uma delícia. Me passe o sal, querido.

O sol surgia entre as nuvens cinzentas. Havia chovido há alguns minutos atrás e temendo que a chuva retornasse, Victor caminhava com o guarda-chuva na mão.
Naquele dia, Virgínia havia matado aula e Victor lamentou de ter que ir para a casa sozinho.
Temeu ao ver uma BMW preta seguindo-o e apartou o passo para chegar mais rápido ao ponto de ônibus.
Através do vídeo fumê, Ivan observava o jovem vestido com uma calça jeans azul escura, um moletom preto e a mochila nas costas.
Apesar de ser bonito e rico, Ivan sentiu-se inferior diante de Victor, pois reparou o quanto o garoto era bonito e muito mais jovem que ele, atributos que o davam vantagens para competir por Gael. Seu ódio pelo menino aumentou ainda mais.
Victor andava assustado por ser seguido por um carro, cujo o motorista era um desconhecido.
Ivan parou ao lado de Victor e abaixou o vidro do carro. Sorriu para Victor, mostrando pela primeira a sua face simpática.
_ Oi, Victor. Lembra de mim?
Victor não se sentia confortável perto de Ivan. Temia-o mesmo sem entender o motivo.
_ Lembro sim. Você é o primo do meu namorado.
Ouvir Victor chamar Gael de "meu namorado" deixou Ivan ainda mais revoltado. Todavia, manteve a máscara da falsidade.
_ Você quer uma carona?
_ Não precisa se incomodar. Obrigado.
_ Imagina, cara. Eu tô de bobeira mesmo. Entre aí.
_ Valeu mesmo. Mas onde eu moro não é um lugar que pessoas como você costumam ir.
_ Por que pessoas como eu?
_ Ah...bom... você sabe né? Ricas._ Victor dizia desconfortável.
_ Que bobagem! Por acaso você acha que sou algum play boy esnobe?
_ Não! De jeito nenhum. Eu não quis te ofender. Só que...
_ Tudo bem, cara. Eu não fiquei ofendido. Entre aí. Agora somos praticamente da mesma família. Assim pode ser uma oportunidade para nos conhecermos melhor.
Victor queria rejeitar a carona, mas ficou sem jeito para isso e decidiu entrar no carro.
Ivan perguntou qual era o endereço do garoto e depois de obter a resposta, ambos permaneceram em silêncio durante o percurso. Ivan mudou a expressão facial simpática para a séria.
Perto de uma sorveteria, Ivan estacionou o carro.
_ Vou ir direto ao ponto. Te dou cinco mil reais para sumir da vida do Gael.
_ O quê?!
_ É isso mesmo, garoto. Cinco mil reais agora na sua conta. É só me dizer qual é o número que eu deposito. A única coisa que tem que fazer é dar um fora no Gael.
_ Você tá maluco? Eu não vou fazer isso.
_ Dez mil.
_ Por que você quer que eu termine com o Gael?
_ O motivo não é da sua conta. E aí? Fale logo o número da sua conta. Ou você prefere um cheque?
_ Você só pode tá brincando, né? Eu não quero a porra do seu dinheiro. Quem você pensa que eu sou?
_ Você é um suburbano,  filho de uma vendedora e de um pai desconhecido. Os seus avós possuem uma pensão pé de chinelo e, como todos os pobres, com certeza a sua família deve ter dívidas e você pode ajudá-los com essa grana. Ou, pode gastar com qualquer outra coisa, isso não me importa. Vamos fechar negócios?
_ Como sabe tanta coisa sobre mim? Andou me espionando?
_ Sim... na verdade, eu não perdi o meu tempo, paguei alguém para fazer isso por mim.
_ Você é louco!
Victor pôs a na porta do carro para sair, mas foi detido por Ivan.
_ Quinze mil. Pense bem. Você nunca terá uma oportunidade como essa.
_ Eu não quero a merda do seu dinheiro. Eu amo o Gael e ele também me ama.
Ivan deu uma gargalhada.
_ O que você tem de bonito, tem de burro. Meu anjo, o Gael não te ama. Ele só tá te usando para me provocar. Vamos, encerrar esse assunto de uma vez. Você me diz quanto quer e eu te pago. Faz o seu preço.
_ Eu não tenho preço! Você tá pensando que só porque sou pobre sou um interesseiro? Agora, me deixe em paz.
_É sério que você bancar a mocinha burra das novelas mexicanas? Oh, imbecil, isto aqui é vida real. Vai perder a oportunidade de ganhar uma boa grana, por causa de um cara que está te usando e ainda vai encher a sua linda cabecinha de chifres?
_ Você é louco e arrogante!
Victor saiu do carro enfurecido. Correu para dentro da sorveteria com medo de Ivan tentar fazer algo ruim com ele.
Ivan socou o volante.
_ Puta que pariu! 

Victor sentia-se tão ofendido com a proposta de Ivan, que não conseguiu esperar para falar com Gael. Ligou para o namorado.
_ Fala, meu gostosinho.
_ Eu preciso falar contigo. Mas tem que ser pessoalmente.
_ Aconteceu alguma coisa?
_ Sim. Quando podemos nos ver?
Gael estava curioso demais para saber o que havia acontecido. Disse para Victor ir à sua casa naquele momento.
O garoto chegou nervoso na casa do namorado. Fernanda o recebeu com desdém, pois via Victor como um empecilho para Gael se aproximar do dinheiro de Ivan.
Mesmo desconcertado com os olhares da sogra, Victor beijou o namorado.
_ Fale o que aconteceu?
_ Podemos conversar em particular?
_ Venha.
Gael o conduziu até o seu quarto e fechou a porta.
_ O seu primo me procurou.
Gael suspirou fundo, ficando com ódio.
_ Ele me ofereceu uma carona na porta da escola. Eu acabei aceitando. Aí ele me ofereceu dinheiro para eu terminar contigo. Foi uma situação horrível. Eu me senti tão ofendido.
_ Ivan está louco.
_ Por que ele fez isso?
_ Porque o meu primo é obsecado por mim.
_ Vocês dois têm um caso?
_ Claro que não! Nós tivemos um namorico há muito anos. Mas não foi nada importante. Agora o Ivan cismou que quer ficar comigo. Como eu disse não, ele está me infernizando.
Gael contou para Victor sobre a história deles quando eram crianças, sobre Ivan ter prejudicado a sua família e o seu emprego.
Victor sentiu dó no namorado e o abraçou e o beijou.  Prometendo permanecer ao seu lado mesmo com as perseguições de Ivan.

À noite, Virgínia foi à casa de Victor para jogar vídeo game e o garoto contou para a amiga sobre a proposta de Ivan e a perseguição a Gael.
O que Victor não imaginava é que a sua mãe ouvia a conversa atrás da porta.
_ Como você é burro,  Victor. Deveria ter aceitado a grana. Meu, eu nos cinco mil já tinha aceitado.
_ Você tá louca, né? Eu não sou um vendido. Tenho os meus princípios.
_ Não é nobreza nenhuma em ser um pobre orgulhoso. Porra, há muitos caras por aí. Gael é a só a primeira pica que você sentou, haverão muitos outros. Já uma proposta dessa, você nunca mais terá.
_ Eu não sei por que perco o meu tempo contigo.
_ Já disse. É porque você me ama.
Andréia entrou no quarto séria.
_ Virgínia, eu quero falar com o meu filho a sos.
Pela expressou de Andréia, os jovens suspeitaram que ela ouviu a conversa. Victor ficou irritado com a invasão de privacidade.
Virgínia saiu em silêncio.
_ Victor, que história é essa do primo louco do Gael?
_ É falta de educação ouvir a conversa alheia por trás da porta.
_ Não seja malcriado e me responda.
_ A senhora já ouviu tudo.
_ Então,  o Gael tem um primo rico e obsecado que te seguiu, investigou a vida de todos aqui de casa e ainda te ofereceu dinheiro para terminar o namoro?
Victor abaixou a cabeça.
_ Menino, você tem noção do perigo que está correndo? Esse tal de Ivan é um homem rico e poderoso, pelo visto é um doente. Ele pode te fazer muito mal, meu filho!
"Desde a primeira vez que pus os olhos no Gael eu já sabia que ele não era adequado pra você. Além de ser  mais velho que você, tem um primo maluco na cola.
"Eu não quero mais que você namore o Gael. Esse Ivan é problema dele. Você não vai pôr a sua cabeça em risco."
_ Desculpe, mãe, mas sou eu quem devo decidir se fico ou não com o Gael. Eu não vou terminar com ele, nem por sua causa e muito menos por causa do maluco do Ivan. Eu amo o Gael.
_ Você não conhece essa homem, Victor! Ele é um tubarão e você uma sardinha! Eu não admito que você ponha a sua vida em risco.
_ Deixe de ser exagerada, mãe!
_ Esse homem prejudicou a própria irmã e tia, fez o Gael perder o emprego, ou seja, é uma pessoa sem escrúpulos. Ele está te vendo como um obstáculo. Você tá na mira dele. Essa gente rica pode te prejudicar, sem sujar as mãos e ainda sair impune.
_ Eu não tenho medo dele! Eu já tô de saco cheio de tudo isso. O Gael me escolheu e vocês terão que aceitar isso.
_ Eu não vou ficar parada te assistindo caminhar para ser devorado pelos lobos. É muita irresponsabilidade do Gael te pôr no meio dessa loucura toda.
_ Ele não tem culpa, mãe! O Ivan que não aceita um não. Ele é doente!
_ Eu não quero que você continue namorando o Gael.
_ Você não pode me impedir.
_ Veremos se não posso.
Andréia saiu do quarto batendo a porta com força.
Uma das condições que impôs para Victor frequentar a casa de Gael, era que ambos fornecessem o endereço do publicitário.
Naquela mesma noite, Andréia foi na casa de Gael.
Luíza atendeu a loira, que mandou chamar por Gael dizendo que não entraria na casa.
_ Sogrinha, que bom te ver. Entre.
_ Eu não vou entrar, porque serei breve. Eu soube que o seu primo abordou o meu filho e sei de tudo que ele aprontou. Eu não quero que você continue vendo o meu filho. Esse namoro de vocês dois acaba por aqui.


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