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Sexo sem compromisso tem muitas vantagens. Nenhuma obrigação, nenhuma
expectativa e nenhuma decepção. Só preciso lembrar o nome delas. Quem foi a
última? Jojo? Jeanne? Jody? Tanto faz. Foi uma foda anonima que gemia para
caramba, tanto na cama quanto fora dela.

Fico deitado observando os reflexos
ondulantes do rio Tâmisa no teto, sem conseguir dormir. Inquieto demais para
Isso.

Hoje à noite é Caroline. Ela não se encaixa na categoria "toda anônima".
Nunca vai se encaixar. Onde eu estava com a cabeça? Fechando os olhos, tento
calar a vozinha que questiona constantemente a decisão de ir para a cama com minha melhor amiga... de novo.

Ela está dormindo ao meu lado, seu corpo
esguio banhado pela luz prateada da lua de janeiro, suas pernas compridas
entrelaçadas às minhas, sua cabeça no meu peito.

Isso é errado, muito errado. Estrego o rosto, tentando afastar o desprezo que
sinto por mim mesno, e ela se remexe, mudando de posição, acordando do
cochilo. Uma unha pintada percorre minha barriga, alcançando os músculos do
abdômen, então contorna meu umbigo. Sinto seu sorriso sonolento à medida
que desliza os dedos em direção aos meus pelos pubianos. Segurando a mão
dela, trago-a até os meus lábios.

-Não foi estrago suficiente para uma noite, Caro?

Beijo um dedo de cada vez para que a rejeição não doa. Estou cansado e
abatido por causa da culpa insistente e intrometida que me corrói por dentro. E
Caroline, pelo amor de Deus, minha melhor amiga e mulher do meu irmão.
Ex-mulher.

Não. Ex-mulher, nāo. Viúva dele.
E uma palavra triste e solitária para uma circunstância triste e solitária.

- Ah, Cole, por favor. Me faça esquecer - sussura ela, dando um beijo
morno e molhado no meu peito.

Afastando o cabelo claro do rosto, ela me olha por trás dos cílios longos, os
olhos brilhando de desejoe sofrimento.
Seguro seu lindo rosto com as mãos e balanço a cabeça.

-Não devíamos.
-Não.- Ela leva os dedos aos meus lábios, me calando. - Por favor. Eu preciso.

Solto um gemido. Vou para o inferno.
- Por favor - implora ela.
Merda, isso aqui é o inferno.
E como também estou sofrendo porque também sinto falta do meu irmão
- e Caroline é minha única ligação com ele, meus lábios encontram os dela e eu a deito de costas.

Quando acordo, estreito os olhos porque o quarto está inundado pela luz clara do sol de inverno. Ao me virar de lado, fico aliviado ao ver que Caroline foi embora, deixando para trás um rastro de arrependimento... e um bilhete em
meu travesseiro:


"Jantar hoje a noite com papai e o enteadinho?


Venha. Por favor.
Eles também estão sofrendo.
Bjs.
Te amo.

Merda.

Não é isso que eu quero. Fecho os olhos, grato por estar sozinho em minha
cama e, apesar de nossas atividades noturnas, satisteito por termos decidido
voltar a Londres dois dias depois do funeral.
Como foi que perdi tanto o controle da situação?

Só uma saideira, ela tinha dito, e eu encarei seus grandes olhos azuis
transbordando mágoa e soubeo que ela queria. Era o mesmo olhar que me
lançara na noite em que soubemos do acidente de Kit e de sua morte
rematura.

Um olhar ao qual não pude resistir. Já havíamos quase partido para ação muitas vezes, mas naquela noite eu me entreguei ao destino e, com uma inevitabilidade infalível, trepei com a esposa do meu irmão.
E agora nós havíamos feito aquilo de novo, apenas dois dias depois do
enterro dele.

Mister | SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora