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Maratona 2/7

- Quem era aquele homem? - pergunta Michal, a voz fria e dura, olhando
feio para o carro. Ele só tem quatorze anos, mas é bem mais alto que Lili, com o cabelo
preto despenteado e braços e pernas finos e desengonçados.

- Meu patrão - responde ela, enquanto espia da entrada da casa e observa o carro se afastar.

Ela fecha a porta atrás de si é, incapaz de conter a alegria, dá um abraço
rápido e espontâneo em Michal.

-Tudo bem.
Michal se desvencillha do abraço, com o rosto corado, mas os olhos castanhos
brilhando com uma alegria constrangida.

Lili sorri para o rapaz, que, a o
retribuir timidamente o gesto, revela sua paixonite. Ela dá um passo para trás,
tomando cuidado para não ser carinhosa demais com ele. Não quuer magoá-lo.
Afinal, ele e a mãe têm sido tão generosos com ela.

- Cadê Magda?

- Na cozinha. - A expressäo de Michal muda para o desânimo. O mesmo
acontece com o tom de voz. -Tem alguma coisa errada. Ela não para de fumar.

-Ah, não.
Com um pressentimento, Lili sente o pulso acelerar. Tira o casaco, pendura-o em um dos ganchos na entrada e se dirige à cozinha. Magda está
sentada junto à minúíscula mesa de tórmica, segurando um cigarro. A fumaça
sobe em circulos, formando uma nuvem. Apesar de pequena, a cozinha está
organizada e limpa como de costume, e o rádio balbucia alguma coisa em
polonês ao fundo. Magda levanta a cabeça, aliviada ao vê-a.

- Que bom que você conseguiu chegar em casa mesmo com a neve. Eu estava preocupada. Teve um bom dia? - pergunta, mas Lili percebe o sorriso forçado e a tensão nos lábios enquanto ela dá uma longa tragada do cigarro.

- Tive. Está tudo bem? Seu noivo está bem?

Magda é poucos anos mais nova que a mãe de Lili, embora em geral
pareça no mínimo dez anos mais jovem. Loura e curvilínea, com olhos
castanhos que se iluminam com seu senso de humor travesso, ela deu um teto
para Lili. Agora, porém, está com um ar cansado, a pele pálida e os lábios
crispados. A cozinha fede a cigarro, o que normalmente Magda detesta
mesmo sendo fumante.
Ela sopra a fumaça no cômodo.

- Está. Meu noivo está bem. Não tem nada a ver com ele. Feche a porta e sente aqui.

Alessia sente um tremor percorrer sua espinha. Talvez Magda peça para ela
ir embora. Ela fecha a porta da cozinha, puxa a cadeira de plástico e se senta.

- Alguns homens do serviço de imigração vieram aqui hoje, procurando você.

Ah, não.
Lili empalidece, e ouve o sangue martelar nos ouvidos.

- Foi depois que você saiu para o trabalho - acrescenta Magda.

- Oque... você disse para eles? - balbucia Lili ao mesmo tenmpo em que tenta conter o tremor das māos.

- Não conversei com eles. Foi o vizinho, o Sr. Forrester, que falou. Bateram a porta dele porque a gente não estava aqui. Ele não gostou nada da cara dos homens e disse que nunca tinha ouvido falar de você. Contou ainda que Michal e eu estvamos viajando, na Polônia.

- Eles acreditaram?

- Acreditaram. Pelo menos o Sr. Forrester acha que sim.

- Como me descobriram?

- Não sei. - Magda faz uma careta. - Quem sabe como essas coisas funcionam? - Dá mais uma tragada no cigarro. - Tenho que escrever para a sua mãe.

- Não! - Lili agarra a mão de Magda. - Por favor.

- Eu já escrevi e avisei que você chegou bem. O que foi uma mentira.

Mister | SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora