29

447 58 35
                                    

Lili cochila no banco da frente. Eles seguem por uma via expressa, viajando rápido demais. Estão no carro há horas, passando por França, Bélgica, e agora ela acha que se encontram em algum lugar na Alemanha. E um dia frio e úmido de inverno, e a paisagem é plana e triste, refletindo o humor de Lili. Não. Ela se sente pior do que triste ㅡ está desolada.

Anatoli parece decidido a chegar à Albânia o mais rápido possível. No momento, está ouvindo um talk show alemão no rádio, que Lili não entende. A monotonia das vozes, o ruído constante da estrada e a paisagenm
sombria entorpecem seus sentidos. Ela quer dormir. Enquanto dorme, sua angústia vira um zumbido, como a estática no rádio. Não é como a dor lancinante que rasga seu coração quando ela está consciente.
Ela volta a pensar em Cole.
E a dor aumenta.
Pare. É dor demais.

Com os olhos cansados, ela examina o seu "prometido". O rosto dele está sério e concentrado enquanto o Mercedes percorre os quilômetros. Ele tem a pele clara, traindo as raízes do norte da ltália. O natiz é reto, os lábios, cheios, e o cabelo louro, incomum na cidade dela, está comprido e desalinhado.

Lili pode olhar para ele de longe e considerá-lo um homem bonito. Mas aqueles lábios têm um toque cruel, e os olhos são penetrantes e frios quando ele a
encara com raiva.

Ela se lembra de quando o conheceu. De como ele toi encantador. O pai de Lili lhe dissera que Anatoli era um homem de negócios internacional.

Durante o primeiro encontro dos dois, ele pareceu muito elegante e inteligente. Era viajado, e ela ficara encantada ao ouvir suas histórias sobre a Croácia, a Itália e a Grécia, aqueles lugares distantes. Havia ficado encabulada, mas satisfeita pelo pai ter escolhido um homem tão erudito.
Mal sabia ela.

Depois de sair com ele algumas vezes, começou a ver relances do homem que ele realmente era. A raiva irracional que sentia das crianças locais, que cercavam seu carro curiosas quando ele vinha visitar, o temperamento quando discutia com o pai dela sobre política e a admiração debochada que demonstrou quando viu o pai xingar a esposa por derramar um pouco de raki.

Os sinais estavam lá, e ele também repreendeu Lili algumas vezes, mas sua
verdadeira natureza tinha sido contida pela etiqueta social. Foi no casamento de um dignitário local, no qual Lili tocou piano, que Anatoli por fim revelou seu lado sombrio. Dois rapazes, que ela conhecera na
escola, continuaram por perto depois que ela terminou de tocar.

Eles flertaram com Lili até que Anatoli a levou para uma sala lateral, para longe deles, afastada da festa. Secretamente emocionada, Lili chegou a pensar que ele
queria roubar um beijo, já que era a primera vez que ficavam sozinhos juntos.

Mas não. Anatoli estava furioso. Estapeou com força o rosto dela, duas vezes. Foi um choque, embora morar com o pai a tivesse preparado para agressão física.

Na segunda vez que aconteceu, ela estava na escola. Um rapaz veio Ihe fazer umas perguntas depois do recital. Anatoli o expulsou e a arrastou para o vestiário. Lá, bateu nela algumas vezes, agarrou suas mãos e puxou os dedos para trás, ameaçando quebrá-los se a pegasse flertando outra vez. Ela implorou que ele parasse e felizmente ele obedeceu, mas a empurrou no chão e a deixou chorando, sozinha.

Na primeira vez, ela manteve o ataque em segredo. Ela o desculpou. Foi um caso isolado. Havia se comportado mal. Tinha encorajado os rapazes ao sorrir para eles.

Na segunda vez, Lili ficou arrasada.
Achou que talvez pudesse quebrar o ciclo de violência que assolava a māe, mas foi justamente a māe que a encontrou deitada no chão, curvada, chorando e tremendo.

"Não quero que você viva com um homem violento."
As duas choraram juntas.
E a mãe dela agiu.
Mas foi tudo a troco de nada.
Agora ali estava ela... com ele.
Anatoli olha de lado para ela.

Mister | SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora