alone in a hospital room

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Gerard Way - capítulo 19


O dia 8 de março inaugurou o que eu poderia classificar como uma das piores semanas da minha vida.

Que ela iria ser difícil, isso eu já sabia, pois eu tinha praticamente certeza de que a evolução do meu quadro iria seguir o padrão da maioria dos casos e a segunda semana em contato com o vírus seria a pior. Por isso mesmo eu quis marcar aquela reunião. Eu não sabia se meu celular seria confiscado no decorrer da semana, então propus algo que pudesse servir como uma última lembrança feliz na qual eu pudesse me agarrar quando estivesse deprimido ou com medo.

Mas como tudo o que eu planejo dá errado, obviamente, com aquela reunião não poderia ser diferente.

Ao invés de memórias que me remetessem a conforto e amparo, o que eu recebi foi desordem, ofensas e a certeza de que eu nunca vou passar de um viadinho aos olhos do meu pai.

É claro que eu tive momentos bons com Elena, Mikey e até mesmo Donna, mas tudo isso foi apagado quando Donald apareceu e estragou tudo. Eu até tentei me apegar ao fato de que Donna tentou se redimir e reatar o nosso laço de mãe e filho (coisa que realmente me deixou feliz, pois eu a amo, a quero por perto e precisava muito do seu apoio), porém ao me recordar dela, inconscientemente, eu me lembro de Donald e de tudo o que ele já me disse.

Admito que eu realmente acreditava que tinha superado esse abandono paterno, mas a verdade é que isso é impossível.

Eu nunca vou conseguir superar a falta que ele faz, porque ninguém pode preencher o espaço dele no meu coração.

Eu nunca vou superar a dor que eu sinto quando lembro que ele me odeia, porque eu quero que ele me ame.

Eu nunca vou superar a ferida de ser rejeitado, porque eu quero estar ao lado dele.

Eu nunca vou superar tudo isso, porque nem mesmo os defeitos, falhas e erros dele, são capazes de apagar as memórias incríveis que eu tenho dele e com ele.

O que eu posso fazer? Sofrer e remoer essa verdade, até o momento em que eu consiga aceitá-la.

Isso ou tentar me alienar, pensar em outras coisas e fingir que o meu pai não existe.

Isso é uma coisa bem difícil de se fazer, já vou adiantando.

Como eu tinha dito, pensar na minha mãe, de um jeito ou de outro, me levava a pensar no Donald, então eu tentei evitar.

Então eu procurava pensar na Elena ou no Mikey e em como eu sou grato por ter eles. Eles são a minha família verdadeira, eles me querem bem, eu os amo e este sentimento é recíproco. É nesse fato que eu me agarro quando quero desistir de tudo.

Eu pensava muito no meu passado, também. Chega a ser bizarro como as coisas mudaram num período de apenas um ano.

O meu eu de 2019 nunca iria imaginar que em um ano ele estaria ocupando um leito em Miami, em meio uma pandemia, longe da família e brigado com o pai. Mas aqui estou eu, não é mesmo?

Ah e se tem uma coisa que o meu eu de qualquer idade não poderia nem mesmo cogitar, é que Gerard Arthur Way iria passar tanto tempo sofrendo por alguém e esse que alguém seria um homem. Isso com certeza seria uma surpresa para todo o meu passado.

Mas é um fato. Apesar do clima estranho, eu ainda gosto muito do Frank e penso demais nele.

Eu me pergunto se ele leu a minha carta e, se leu, o que ele achou do que eu contei. Foi meio difícil abrir mão do meu orgulho e assumir tudo aquilo depois de tanto tempo guardando aquela informação apenas para mim.

Quarantine Limits  ✱  ғʀᴇʀᴀʀᴅOnde histórias criam vida. Descubra agora