Elena (parte 2)

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Gerard Way - capítulo 34

O reencontro entre mim e Mikey foi o melhor que o contexto atual permitia. Aquele abraço foi a coisa mais errada e a mais certa que nós poderíamos fazer.

É claro, nós estamos em uma pandemia e nós experimentamos das piores formas como esse vírus é letal, porém, naquele momento, a única coisa que importava era o pedido de desculpas silencioso e a aura de reconciliação que se instaurou entre nós. Não foram necessários discursos e pedidos de perdão formais, a única frase que precisava, foi dita.

— Eu amo você, maninho. - eu sussurrei em seu ouvido.

— Eu também te amo, irmãozão. - ele respondeu.

Isso bastou. O amor entre nós é real e isso já traduz tudo o que as entrelinhas podem expressar.

No entanto, quando Frank e Mikey se encontraram, as coisas coisas foram um pouco diferentes. Só um pouco. Afinal, a situação entre eles não é das melhores.

Eu e Frank já havíamos conversado sobre Michael e Iero havia me dito que tinha se acertado com o meu irmão, mas que ao lembrar do que ele havia feito, seu sangue esquentava, porque ainda é difícil, para ele, aceitar que nós nunca teríamos nos separado se não fosse por Mikey. Além disso, ele não havia se esquecido de tudo o que meu irmão o disse quando descobrimos que Iero havia me passado o coronavírus.

Eu não o culpo, mas o fiz prometer que ele ao menos tentaria se dar bem com o meu irmão.

Bem, ele se esforçou.

— Hey, Frank... - Mikey disse, acanhado, ao encontrá-lo. Era claro que ele também não havia se esquecido do próprio erro e tinha vergonha dele.

— Oi. - ele respondeu seco e eu dei a ele o meu melhor olhar de advertência; ele revirou os olhos, o que deixou Michael mais desconfortável ainda.

Será que ele fez de propósito ou só se esqueceu que uma máscara não cobre os olhos, apenas o nariz e boca?

— Obrigado por cuidar do meu irmão, eu tenho certeza de ele não estaria aqui do meu lado se não fosse você. - Mikey levantou o punho, convidando para um toquinho (era o que a pandemia permitia). Eu vi nos olhos do Frank que ele sorriu levemente e respondeu:

— Não foi nada, cara, pelo seu irmão eu faço qualquer coisa. - ele correspondeu o toquinho e, ok, talvez essa frase tenha derretido o meu coração, mas eu tentei não transparecer isso.

— Eu sei... E... me perdoe, mano. Por tudo. Eu consigo ser um babaca quando quero... E-eu sei que já te pedi desculpas antes, mas eu sinto que preciso fazer isso de novo, agora. - ele assumiu, soando redimido e eu gostei de assistir a cena. É incrível como parece ser muito difícil para um Way pedir desculpas.

Eu sou assim também?

Provavelmente.

— E eu acho que posso aceitar suas desculpas, de novo. - ele respondeu e eu sabia que era sincero.

É provável que ainda vá demorar para eles desenvolverem uma amizade (isso se eles desenvolverem uma amizade), mas aquele era um começo.

O que realmente me importa nesse momento é o fato de que estou em um carro em movimento, no banco do passageiro, cujo destino é a casa dos Way. Mikey está atento a estrada, enquanto Frank parece tentar se entreter com a paisagem correndo pela janela, mas eu sei que ele está tão nervoso quando eu (sua mania compulsiva de roer as unhas quando está estressado nunca me passa despercebida). Não dá pra afirmar que o clima no automóvel é confortável, porém havia um acordo implícito de que agora cada um cuidaria de seus temores intimamente e estamos bem com isso.

Quarantine Limits  ✱  ғʀᴇʀᴀʀᴅOnde histórias criam vida. Descubra agora