Elena (parte 1)

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Gerard Way - capítulo 33

Eu acordei com os raios de sol preguiçosos que conseguiam escapar pela cortina entreaberta, mas apesar de estar relativamente desperto, o sono ainda fazia parte do meu corpo e posição mais confortável ainda era aquela em que eu permitia que meus olhos ficassem fechados, ainda que isso não fosse o suficiente para eu voltar a dormir. Eu deveria me levantar logo, pois hoje é um dia importante, mas eu estava disposto a trocar um pouco de correria, por mais alguns minutos na minha cama.

Afinal, eu só queria aproveitar cada segundo possível com ele.

Ainda com as pálpebras cobrindo minha vista, eu deixei um sorriso preguiçoso se formar em meus lábios ao sentir os braços firmes de Frank intensificarem o aperto em minha cintura, ainda que de maneira inconsciente, já que ele ainda dormia. Ainda parecia um sonho.

Ainda parecia que eu iria acordar a qualquer momento e me deparar com uma realidade na qual as coisas persistem em piorarem. Mas não, era real e, incrivelmente, as desgraças da minha vida resolveram dar uma trégua.

Eu ainda tenho a sensação de precisar estar num constante estado de alerta, porque ainda sinto que as coisas que eu mais amo estão num eminente risco de ruir novamente, como tantas vezes aconteceu nesses últimos tempos. No entanto, a respiração calma e regular que podia sentir no meu pescoço descoberto e o peso de um corpo tatuado sobre o meu, me abraçando como se eu fosse algo realmente precioso, afastavam esse sentimento. Ele está comigo, as coisas serão diferentes.

Desde a Páscoa, quando eu e Frank realmente nos acertamos, as coisas entre nós vem melhorando consideravelmente e devo admitir que me sinto radiante quanto a isso, pois esperei por esse momento a tempo demais e agora eu só quero aproveitar do quão bom é manter um relacionamento com Iero. Eu já havia me esquecido do quanto amo acordar com seu corpo nu sobre o meu; dos beijos trocados espontaneamente; das carícias íntimas; de tê-lo para mim e de mais ninguém.

É óbvio, as coisas não estão exatamente normais, afinal muitos foram os acontecimentos que antecederam este momento. O Frank ainda parece meio receoso de tomar a iniciativa e demonstrar seus sentimentos, enquanto eu às vezes só quero chorar em posição fetal no banho quando lembro da Elena.

Inclusive, realmente teve um dia em que eu passei um bom tempo chorando no banho, porque me lembrei de uma vez que eu e Elena demos banho num Mikey bebezinho e eu quase afoguei ele sem querer, quando fui colocá-lo na banheira infantil. Porém Frank, reparando a demora, entrou no banheiro e me ajudou a me acalmar.

No entanto, hoje, quase um mês depois da morte de Elena, a dor já não é mais tão dilacerante, apesar de estar sempre presente. Bom, quase sempre... quando eu olho para aqueles olhos esverdeados e lindos ou para o seu sorriso radiante e até quando me conecto a ele das melhores e mais diversas formas, a dor some.

Do lado dele e com o seu apoio, os problemas não parecem tão horríveis e eu sinto que sou capaz de superá-los. Ele me traz força e confiança por meio de palavras, ações e a sua simples presença.

É... Eu realmente sou completamente apaixonada por ele, em cada detalhe. Nunca mais vou deixar que se afaste de mim; nunca mais.

Nunca mais. Foi com essa frase em mente que eu enlacei seu tronco e o abracei da forma mais carinhosa que a posição permitia, mas com um único objetivo: me unir a ele e, se possível, me conectar de tal forma que ele fique comigo para sempre.

Hoje seria um dia importante.

Depois do que pareceu uma eternidade de protocolos, triagens, exames e procedimentos para assegurar que nossa viagem seria segura, nós finalmente estávamos sentados nas poltronas da primeira classe de uma aeronave com o destino que eu mais aguardava, desde a morte de Elena: Nova Jérsei.

Quarantine Limits  ✱  ғʀᴇʀᴀʀᴅOnde histórias criam vida. Descubra agora