mom & son

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Mikey Way - capítulo 20


Fazem dois dias desde que eu havia conversado com o Gerard pela última vez. Pode parecer pouco tempo se for comparar com as vezes que nós brigamos ou em algumas semanas dessa quarentena (quando ambos estavam ocupados ou sem vontade de conversar), mas para mim eles equivalem a meses e meses, pois eu passei essas 48 horas com um único pensamento na minha cabeça: “como o Gee está?”

Eu não conseguia pensar em mais nada e o pior de tudo: não tem eu obter uma resposta, pois ele está sem celular e o hospital só irá ligar quando for necessário atualizar a família sobre o quadro dele. Então a única coisa que eu posso fazer é corroer a minha mente com essa dúvida.

E não é como se o estado físico dele fosse o único fator que me causasse preocupação, uma vez que eu sei que o Gerard está abalado psicologicamente por causa de tudo o que aconteceu no domingo. Eu queria poder apoiar ele, ouvir o seu desabafo, tentar ajudar com as feridas e dizer que eu estou com ele, mas eu não pude fazer nada disso, já que o tempo dele com o celular, na segunda, era curto.

Eu nem imagino como deve estar sendo difícil para ele ligar com todos esses problemas, sem poder conversar com ninguém…

Quero dizer, eu tenho o Ray. Eu tenho uma pessoa que me ouve, me entende, me repreende, me dá conselhos, se importa comigo, quer o meu bem… enfim, eu tenho o Ray. Mas ele não tem ninguém agora.

Tudo porque o Donald não consegue ser um um ser humano decente, em momento algum. Ele tinha que aparecer e estragar tudo.

Que ódio…

Nem mesmo Elena foi capaz de fazer ele repensar as atitudes dele. Eu tenho muita pena da minha avó. Ela ficou muito mal.

Na segunda-feira nós conversamos por ligação…

—… quando eu olhei nos olhos dele e ele negou, com todas as palavras, a paternidade do Gerard, eu quis muito chorar, naquele exato momento, mas eu resisti e acabei falando sem pensar… Mikey, eu neguei a maternidade dele! Eu estou mal até agora por causa disso. Me sinto culpada e me pergunto se não fui muito dura com ele...

— Olha, vovó, eu queria muito poder ser positivo e te dizer que está tudo bem, que as coisas vão se acertar ou que você fez a coisa certa, mas eu não posso falar nada disso, porque eu não sei o que pensar sobre essa situação, entende? Parece que a gente nunca vai ter paz! É problema, atrás de problema!

— Nem me fale… - ela comentou baixinho e, pelo tom, eu fiquei na dúvida se ela estava escondendo algo. Eu conheço a minha avó, tanto quanto ela me conhece e eu pude sentir que algo a preocupava.

— Como assim "nem me fale"? Aconteceu mais alguma coisa? - indaguei, um pouco receoso sobre a resposta.

— O quê? Não. Bom, não, tirando tudo o que você já sabe. - ela respondeu séria. Parecia sincera — Eu só estou mal pelo meu netinho… Ele está mais sozinho do que nunca e isso corta o meu coração, porque eu queria poder estar ao lado dele.

— É, eu também… Mas não tem muito o que fazer. Foi a decisão dos médicos e eles devem saber o que estão fazendo. - por um momento eu quis culpar Donald pelo ocorrido, mas não sabia se Elena iria reagir bem, então guardei o comentário para mim.

— Provavelmente sim… - ela respondeu, desanimada.

— Você acha que nós fizemos o certo em não contar da sua discussão com Donald? - questionei, repentinamente mudando de assunto.

— Acho que sim. Eu sei que não deveríamos esconder esse tipo de coisa dele, mas não sei o melhor contexto para dar essa notícia seria no meio de uma despedida. 

Quarantine Limits  ✱  ғʀᴇʀᴀʀᴅOnde histórias criam vida. Descubra agora