Capitulo 39

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— É uma pena que elas não vão vim. — Azriel, que estava encostado em um pinheiro afiando a sua adaga em seu colo, disse lançando seus olhos castanhos para mim.

Estávamos no meio da floresta do lado oposto do acampamento illyriano. Ali as árvores não eram densas e era um bom espaço para começar simples movimentos de treino.

Eu havia comentado com Azriel que as fêmeas dificilmente gostariam de um treinar a vista dos machos, e que no passado não funcionou muito bem, então era melhor um lugar afastado que eles não conseguissem ouvi-las. Caso necessário eu pretendia erguer um escudo para afastar o cheiro delas enquanto treinavam. Tudo estava perfeitamente planejado o único problema era que elas não apareceram.

Já estávamos a meia hora do horário marcado e nem sequer um cheiro vindo do caminho do acampamento chegou em minhas narinas.

Após fazer o acordo com o mestre espião e acertar como as coisas deveriam prosseguir fui ao encontro de Nuralle para lhe avisar da ideia. No início, enquanto contava para a fêmea, a dúvida era predominante no seu rosto. Mas por fim um brilho esperançoso pareceu no olhar e aquilo foi o suficiente para me encorajar a seguir com a ideia.

Ela havia dito que iria falar com quem achava que pudesse ouvir e então combinamos de nos encontrar nesse ponto da floresta as uma da tarde.

Talvez ela tivesse perdido a noção do tempo. Talvez alguma coisa tivesse acontecido. Talvez... talvez... ou talvez foi só uma ideia estúpida que me pos nessa situação constrangedora com o macho illyriano a minha frente.

Depois de um silêncio constrangedor durante os dez primeiros minutos, Azriel se encostou em uma árvore e começou a afiar sua adaga, a qual eu nunca o vi sem, e permaneceu com ela no seu colo, pronto para usá-la a qualquer sinal de perigo.

Bufei jogando a cabeça para trás e apoiando no tronco do pinheiro.

— Porque ela concordaria se não pretendia aparecer? — Abaixei o olhar para Azriel que levantou a cabeça para mim.

— Talvez no momento era uma boa ideia e hoje nem tanto.

— Mas... — bufei novamente — como que podem viver assim? — Lhe olhei indignada. — Eu não entendo.

Lentamente ele levantou, colocou a adaga na bainha presa a coxa, cruzou os braços ao peito enquanto apoiava um pé na árvore, então disse:

— Foi muito difícil para mim aprender a voar. — Engoli seco, sem entender o que ele pretendia com aquilo. — Você sabe — o olhar concentrado em mim fez minha nuca se arrepiar — maioria dos Illyrianos aprende quando crianças. Mas... eu estive preso durante toda minha infância então nunca treinei o voo. — Preso, preso.... Eu não ousei responder. — Porque eu era tão velho, eu tinha medo de voar, não confiava em meus instintos. Foi um... pesadelo ser ensinado tão tarde.

A voz dele estava rouca como se ele conseguisse sentir todos aqueles dias novamente. Eu sei que eu conseguia sentir, quase como se pudesse ver. Consegui ver o medo dele quando criança, não só pelo voo em si mas pelo que os outro fariam com ele por não saber voar. Consegui ver a sua determinação em aprender aquilo que foi lhe tirado por direito.

Um nó se formou em minha garganta. Azriel fora preso e torturado. A liberdade lhe foi arrancada por aqueles que deveriam o proteger.

Talvez, talvez não fôssemos tão diferentes no final das contas.

Não conseguia desviar o olhar dele. Senti vontade de apagar todo seu passado, lhe tirar aquelas terríveis memórias e fazer ele esquecer aquela escuridão que ainda pairava em sua mente. E me perguntei se ele não sentia o mesmo comigo.

Corte de sombras e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora