Azriel.
Estava, no mínimo, insultado por aquela garota ousar acreditar que poderia me enganar com aquela história. Prisioneira Illyriana. Não que os humanos, ou até mesmo a raça feérica não nos odiasse ao ponto de nos prender e torturar. Mas certamente não fora o que aconteceu naquela guerra.
Após Amren ser liberta, poucos guerreiros hybernianos sobreviveram, e os que tiveram a sorte, estavam preocupados demais tentando salvar a própria vida miserável para se preocupar com prisioneiros, quanto mais uma curandeira. Que tipo de informação ela poderia oferecer as forças inimigas? Não sabia sobre plano de batalhas, e certamente, não possuía informações de dentro da corte noturna.
Tinha atravessado até Velaris ontem depois de interroga-la, e repassava cada palavra que tinha sido dita em minha mente. Por algum motivo ela fora capturada, mas não só pelo prazer da tortura. Eu conhecia as marcas em seu corpo, não era só marcas de laminas que se encontravam naquela pele, mas sim de veneno.
A ideia de ela tivesse sido levada com o intuito de ser usada como experimento para veneno de feéricos era a mais plausível. Entretanto, a questão principal que não fora respondida não era porque tinha sido capturada, mas quando.
Organizava cada informação e hipótese na qual tinha formado enquanto caminhava em direção a biblioteca na casa do vento. Havia marcado de encontrar Rhys e Cassian para passar os últimos relatórios sobre a visita as terras humanas, e isso certamente incluía Ray. Havia coragem nela, isso eu precisava admitir. Seus olhos violetas nem sequer tremeram diante das sombras que circulavam ao meu redor.
Ouvi a risada extravagante de Cassian no momento que entrei no corredor da biblioteca. Meus irmãos estavam ali, vivos e a salvo. E mesmo assim com tanto trabalho e preocupação na mente. Precisava dá um jeito de apaziguar a situação nos acampamentos e em relação aos humanos. Eles mereciam isso, todos eles mereciam a paz.
No momento em que empurrei a porta para adentrar no cômodo ouvi a voz calma de Rhysand.
— Graças a Mãe você chegou, Az. Se tivesse que ouvir Cassian e suas piadas sem graça por mais um minuto ficaria tentado a ir caças bryaxis por livre e espontânea vontade.
— Ele está irritadinho essa manhã, Az. Ignore-o. — Disse Cassian, esparramado na poltrona projetada para acomodar asas, fazendo um gesto de desdém para o Grão Senhor sentado atrás da mesa de madeira abaixo da janela.
— Estou irritadinho Cassian, por que você me acordou e me arrastou para cá duas horas antes do combinado.
— Precisava de alguém para conversar. — Respondeu dando de ombros. — Azriel não deu as caras desde quando voltou do acampamento.
— E falando nele – Rhys olhou em minha direção arqueando uma sobrancelha – alguma novidade?
— As fortalezas do palácio continuam impenetráveis. — Disse encostado na porta, sendo acolhido pelas sombras. Rhysand soltou um longo suspiro.
— Já faz pouco mais de um ano desde a queda da muralha. Precisamos estabelecer um novo tratado antes que alguma ameaça nova chegue. — A sua voz estava cansada. Ele estava cansado.
Rhys tinha dado tudo por nós, tudo para manter o povo a salvo. Nos protegeu no passado e continuava trabalhando para se certificar que tivéssemos um futuro, e o desgraçado arrogante continuava achando que não era o suficiente.
— Sabe Az, você pode relatar as informações sentado e sem se esconder nas sombras. — Cassian falou com um sorriso de lado. — Vamos lá irmão, o que está lhe incomodando?
Cassian sempre conseguia ler as emoções das pessoas, mesmo as minhas, e isso, entre outros motivos é claro, era o que lhe tornava um excelente general. Sempre sabia o que seus saldados estavam sentindo, qual o rumo a batalha levaria, e quem e onde posicionar suas forças perfeitamente.
— Encontrei um illyriana ferida a alguns quilômetros das fortalezas humanas. Escapou e havia lidado com alguns soldados que a perseguiam antes que eu chegasse.
— E então? — Cas indagou.
— E então Cassian – lancei um olhar de aviso para ele – levei-a para o acampamento e ouvi sua história. Não havia verdade nela.
— Que tipo de ameaça ela poderia apresentar? — Rhys perguntou.
— Não sei, mas porque mentiria sobre suas origens e como fora capturada?
— Por medo, talvez. Machos illyrianos não costumam ser descentes. — Ele respondeu me encarando. — Nunca duvidei de seus instintos Az, se acha que há algo de errado, manteremos os olhos nela.
Assenti. Sabia que, mesmo sem provas, se falasse para Rhysand que ela apresentava problemas, ele permitiria que lidasse com a situação do jeito que achasse melhor. O mesmo ocorrera 50 anos atrás, quando só ele desconfiou das intenções de Amarantha, e as coisas ocorreram do pior jeito possível. Como Grão Senhor ele respeitava nossos instintos, como amigo, confiava neles.
— Como ela é? — Virei a cabeça lentamente para Cassian, o encarei piscando e então respondi:
— E essa informação é relevante porque...?
Ele deu de ombros antes de responder.
— Estou tentando entender se sua agitação referente a ela é porque a considera um problema, ou porque quer leva-la para sua cama.
A gargalhada de Rhys preencheu todo o cômodo. Cassian possuía uma habilidade incrível de tirar todos do sério e pelo visto, naquela manhã em especial, usava seu dom para me atingir.
— Só porque você não consegue ver uma fêmea sem ter vontade de colocar seu pau dentro dela Cassian, não significa que todos são assim.
— Infelizmente irmão, a única fêmea que Cas quer colocar seu pau, é a única que ele não pode fazer isso.
Terreno perigoso Rhys. Cassian se ajeitou na poltrona, melhorando a postura. Andei até o assento livre ao seu lado. Pelo jeito desconfortável dele, e como Rhysand o encarava, percebi que não tinham tocado naquele assunto desde que o mesmo voltara para Velaris com a irmã Archeron.
— E como ela está? – Perguntei em um tom baixo.
— Ganhou peso, e diminui o álcool. Mas Nestha... é Nestha.
— Tem treinado? – Rhys quis saber.
— Relutantemente. – E era aquilo. O fim do assunto.
Nestha era a irmã Archeron mais difícil de lidar. Mas se havia alguém que poderia passar pelas barreiras que ela construiu, esse alguém era o general. Ele não desistia nunca, e lutava pelos seus até o fim de suas forças.
— Você viu se as garotas estavam treinando nos dias que ficou no acampamento? – Perguntou me tirando dos devaneios.
Assenti antes de responder:
— Duas horas todas as manhãs. Não acho que Devlon fica mais feliz de me ver ali do que você.
Os illyrianos são uns merdas, e mesmo depois de tudo que haviam feito, Cassian não desistiu deles.
— Com certeza não. – Falou Rhys com o queixo apoiado na mão direita. – Voltará para lá, irmão? – Assenti. Precisava voltar, sabia que tinha algo de errado com aquela garota. – Devlon vai ter um infarto com vocês dois andando pelo acampamento.
Cassian soltou uma risada rouca antes de dizer:
— Então não devemos deixa-lo esperando. – O encarei com a pergunta em meu rosto. – Amanhã. Hoje termina a semana que Elain pediu para que Nestha passasse aqui em Velaris.
— Então voaremos pela manhã?
— No rumo da mulher problema. – Não pude deixar de acompanhar as risadas dos meus irmãos.
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Corte de sombras e esperança
FantasiaPrythian já não é mais a mesma, suas Cortes não o são. Anos de sofrimento após a tirania de Amarantha, transformaram o coração de todos, e a guerra contra Hybern serviu para muita coisa. Desde a aproximação da família, até a separação de outras. A...