Capítulo 30

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Azriel

Eu devo ter morrido e ido pro inferno, só podia ser isso.

Rayla havia perdido totalmente o controle. Eu nem sequer entendi o que estava acontecendo até que ela gritou e atacou Rhysand. Seu irmão. Meu Grão Senhor.

Ela não pararia.

Não cederia.

E não havia outra alternativa além do que lutar contra ela.

Não houve uma parte do meu corpo que não lutou contra meu poder para não atingi-la. Levantar uma faísca de poder contra ela me atingiu como se o golpe fosse contra mim mesmo.

Mas o olhar... O olhar que Rayla me lançou, aquilo me destruiu.

Nada além de ódio e rancor puro habitava naquelas órbitas violetas.

Eu não conseguia tirar aquele olhar da mente. Mal dormi desde então e nos três primeiros dias voava todas as noites acima de sua janela e ficava ali, zelando seu sono, pronto para intervir caso aquela escuridão viesse tentar levá-la novamente. Então ela acordou, e soube que a escuridão já a tinha levado, que aquela fêmea que dançou em meus braços a noite inteira sob a luz de estrelas e da lua não estava ali. E talvez nunca voltasse.

Aquela esperança que eu tive de tê-la, aquela dádiva maravilhosa que finalmente entrara na minha vida havia partido.

Por um momento achei que a teria, por um momento acreditei que depois de todos os malditos anos finalmente a Mãe havia me abençoado com aquele presente tão inesperado.

Tudo isso só podia ser o preço a pagar por quere-la, por ousar te-la.

E o que mais me doía não era por eu a ter perdido, mas ela ter se perdido.

O olhar de agonia de Rayla quando pediu para Nestha apagá-la nunca sairia da minha mente e a partir de então, se tornou meu pior pesadelo.

Ela havia partido e não tinha nada que eu pudesse fazer para trazê-la de volta.

Rhysand parecia um fantasma. Ele mal comia, mal falava, desde o dia que tudo aconteceu.

O sol descia lentamente no céu enquanto estávamos sentados na biblioteca da casa da cidade. Lentamente, era assim que os dias passavam, como se não tivessem um maldito fim. A sala que geralmente nos reuníamos estava agora destruída, e Rhysand se recusou a deixar que fosse concertada, como se quisesse sempre lembrar daqueles momentos infernais.

Ele achava que merecia, tudo aquilo, o ódio e o desprezo da irmã. E eu sabia que não importa o que disséssemos, não mudaria esse sentimento de culpa.

Feyre mal saia do lado dele, mas mesmo com ela ao seu lado, o peso da culpa em seus ombros parecia mais pesado a cada dia que se passava e Rayla não aparecia.

Uma semana.

Uma semana havia se passado e não tínhamos a visto.

Amren a visitava todos os dias para ter certeza que estava se alimentando, que estava viva e que não pretendia derrubar a Casa do Vento.

Uma semana sem ve-la, uma semana sem seus diversos sorrisos, sem seu cheiro, sem sua voz, sem aqueles grandes olhos violetas. Uma semana que um vazio havia se instalado no meu peito.

Queria apoiar Rhysand, queria mostrar que estava ali para meu amigo, irmão, Grão Senhor. Mas aquilo estava me destruindo tanto quanto a ele, pouco a pouco sentia um pedaço de mim sendo mais e mais esmagado pela lembrança do olhar que Rayla havia me lançado.

Corte de sombras e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora