Estalei os dedos enquanto corria em direção a escada. A medida que ia descendo o mais rápido que podia, senti a magia ao meu redor fazendo com que a armadura illyriana cobrisse cada parte do meu corpo. O couro pesado grudava na minha pele ao mesmo tempo que me deixava com uma mobilidade maior.
Quando alcancei o primeiro andar as botas pretas bateram na madeira e minha trança recém traçada magicamente bateu contra meu ombro.
Uma espada illyriana estava apoiada ao lado da porta, embainhei ela as costas enquanto passava pelo arco de madeira.
Já no terreno arenoso olhei para o limite do acampamento e Kol já havia sumido entre as árvores. Correr faria com que uma distância ainda maior se estabelecesse entre nós.
Em um momento eu estava indo em direção a floresta escura sentindo o vento frio no rosto e no seguinte eu era o vento. Fumaça, sombras, tudo e nada. O mundo se dobrou, se desfez, tudo sumiu então apareceu novamente.
A noite estava mais densa devido à cobertura de nuvens, a cada passo dentro da floresta fazia parecer que a temperatura caia um pouco mais.
O cheiro de Kol ainda estava fresco, ele não estava longe. Atentamente apurei a audição, camuflei meu cheiro e segui o rastro que o illyriano havia deixado.
Cada passo que eu dava parecia mais pesado que o anterior.
O que infernos ele faria no meio da mata essa hora da noite.
E aquela não era a primeira noite. Fora a vez que o vi pela janela saindo de fininho no escuro, houve o dia em que o encontrei no meio da floresta antes do sol nascer, com olheiras profundas, e o corpo tenso. Na ocasião pensei que Kol caçava durante a noite para ajudar o acampamento, mas agora não havia certeza.
Se era isso, porque se esconderia? Porque se certificar que ninguém o seguiria?
Continuei a me indagar enquanto entrava ainda mais entre a floresta, indo na direção oposta do que normalmente iria para caçar.
Podia ouvir os galhos quebrando sob o toque das botas de Kol. Eu encarava a escuridão e poderia jurar que a escuridão encarou de volta, jurar que ouvi milhares de pedras de amolar cantando conforme as bestas que por ali rondavam afiavam suas garras.
Com mais vinte minutos de caminhada apressada entramos no limite da floresta com uma pequena clareira, me agachei atras de alguns arbustos, mal respirando, ousei analisar a silhueta de Kol no campo morto. A escuridão acenava adiante.
Pequenos pingos d água começaram a cair fazendo aquela noite se tornar ainda mais fria, conseguia sentir os ossos tremendo. No momento que Kol atravessou a clareira comecei a arrodear a clareia para não ficar tão vista no campo aberto.
Um trovão ressoou e usei o som para saltar alguns passos. Parei atrás de uma árvore respirando o mais silenciosamente possível e percebi que alguns metros à frente o ambiente mudava, a floresta ficara silenciosa.
Não um silêncio normal, mas como se um vácuo tivesse aberto no meio dos pinheiros.
Os passos de Kol também silenciaram mas a trilha com o seu cheiro ainda continuava.
Cautelosamente dei um passo à frente, e outro e outro até que senti.
A magia rodava por ali, como um escudo.
Mais um passo à frente fizesse com que eu encontrasse o vácuo que havia sentido antes.
Um escudo de magia estava posto naquele canto da floresta camuflando algo, mas o que...
Não algo.
Cheiros invadiram meu nariz.
Sons alcançaram meus ouvidos.
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Corte de sombras e esperança
FantasiaPrythian já não é mais a mesma, suas Cortes não o são. Anos de sofrimento após a tirania de Amarantha, transformaram o coração de todos, e a guerra contra Hybern serviu para muita coisa. Desde a aproximação da família, até a separação de outras. A...