Capítulo 37

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AZRIEL


Era como se eu tivesse entrado em um pesadelo sem fim. Duas semanas haviam se passado desde que cheguei no acampamento. Minha rotina se resumia em acompanhar, de longe, Rayla aos treinos e, quando ela partia para o descanso, tentar continuar meu trabalho como o Espião da Corte Noturna. Mas tinha que admitir que não rendia nada em minha função, pois mesmo quando partia por algumas horas para algum território minha mente estava em Rayla.

Vê-la ali, todos os dias, treinando com a raça que vim odiando durante toda a minha vida era insuportável.

Durante o tempo que estávamos ali nossa comunicação se reduziu há três momentos. O incidente da cozinha, quando fui levar alimentos para ela depois do primeiro dia de treino. Naquele dia eu estava tão desesperado por qualquer contato com ela que tive que puxar qualquer assunto, e só me toquei o que estava acontecendo quando minha mão já estava em sua coluna.

No momento que eu a toquei, mesmo com uma camada de roupas nos separando, uma eletricidade correu por todo meu corpo.

Deuses, como eu a queria e como sentia falta dela. Meu corpo tinha reagido a um simples toque como se não passasse de um garoto que acabou de despertar os hormônios.

Então ela perdeu o equilíbrio e eu a segurei, a trazendo para mais perto de mim e no momento que encontrei aquelas órbitas violetas eu me desfiz. Eu precisava saber qual era o sabor da pele dela. Qual o sabor daqueles lábios perfeitos. Mas acima de tudo, precisava vê-la sorrir de novo, precisava que ela sentisse confiança em mim novamente e a certeza que eu nunca a deixaria.

Depois desse encontro tentei me manter afastado o máximo possível com medo de perder o controle perto dela até em um dia no ringue.

Eu estava em uma das árvores, ao longe, analisando o treino. O adversário de Rayla naquele dia estava sem qualquer controle de si, e depois de desarma-la partiu para o combate corpo a corpo e mesmo com ela caída não deixou de proferir golpes. Era impossível que eu não intervisse.

Mas Rayla ficou furiosa.

Ela esperou até que tivéssemos no silêncio da cabana para explodir.

— Que porra você pensa que está fazendo? — A raiva faltava pular pelos seus olhos.

— Não foi uma luta justa.

— Não é para ser justo, Azriel. — a forma com que meu nome soou naqueles lábios fez meu sangue correr mais rápido. — A única coisa que você fez foi fazer com que eles me desprezem mais. Agora todos acham que eu tenho um segurança para me proteger e que não posso lutar minhas próprias batalhas.

Ela tinha razão, eles a infernizariam ainda mais agora. Mas não pensei em nada disso quando intervir. Só pensava no sangue dela escorrendo por causa do bastardo illyriano.

— Deixe que eu a treine. — Foi tudo que consegui dizer e por um momento achei que ela estava considerando a possibilidade, mas então, com a voz cortante como a reveladora de verdades, ela me mandou sair e não voltar.

Passei dias sem trocar uma palavra com ela, sem deixar que ela me visse. Rayla sabia que eu estava lá, mas me mantinha sempre afastado. Até ontem.

Eu estava voltando para o acampamento depois de uma rápida visita a Velaris, quando avistei Rayla coberta de sangue voltando para a cabana.

Não pensei sequer uma vez antes de aterrissar e perguntar se ela estava bem e o que tinha acontecido. Ela disse que havia caçado um javali com um dos guerreiros e que, com uma das illyrianas, havia tirado a pele do animal e o prepará-lo para refeições.

Uma fúria enorme cresceu em mim. Rayla deveria estar sentada em um trono. Com súditos aos seus pés lhe servindo o melhor tipo de comida que o mundo já viu, e não caçando e preparando comida para outros illyrianos.

Mas então ela sorriu, ela sorriu para mim, e disse que esperava que a comida ficasse boa, e, com uma leveza que eu não havia visto nela no último mês, saiu caminhando para a cabana.

Eu fiquei estático no mesmo lugar. Rayla havia sorrido. Depois de semanas vivendo em um inferno ela sorriu. Meu coração derreteu com a imagem daquele sorriso. Cassian estava certo. Ela ainda estava ali. No fundo, bem no fundo, Rayla ainda era aquela luz quer entrou na minha vida. E naquele momento tudo que eu quis era encher a floresta com todos os animais possíveis para que ela caçasse até se cansar e para me possibilitar só vê-la sorrir de novo.

Já era noite e estava dando uma última olhada na cabana que Rayla ficava antes de atravessar para o refúgio nas montanhas. Ela havia melhorado não somente na condição física, mas praticava seus poderes sempre que podia. Agora havia conseguido por um escudo ao redor da cabana me impossibilitando de ter certeza se ela já havia dormido ou não.

Todo momento eu tentava me dizer que aquilo era só uma fase e que ela voltaria para Velaris logo. Mas a cada dia eu tinha menos certeza disso.

Com uma última olhada, atravessei.

Amanhã seria um novo dia.












Dois caps em uma semana, voces ja me amam de novo?

bjsss amo vcs

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