Capítulo 28

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Sem vontade de acabar meu humor pelas baboseiras de Cassian, os deixei para trás e entrei na casa ainda com o coração calmo pela noite que havia vivido. Só a lembrança daquele pequeno espaço de tempo fazia com que um sorriso brotasse em meu rosto.

No momento que pisei no mármore polido inalei profundamente desejando que o cheiro do café da manhã me atingisse, mas ao invés disso senti a tristeza e confusão no ar, misturado com o cheiro do meu irmão. Analisei por um segundo o cômodo então o ouvi na sala de estar.

— Eu a olho e vejo se partindo, Feyre. Estou tentando, mas... não sei... não sei o que fazer para ajudá-la. — Ele falava de maneira desesperada.

— De tempo a ela. Nos dois sabemos como é isso, Rhys. Muita coisa aconteceu com ela, coisas que talvez nunca saibamos. Deixe-a encontrar seu caminho. E no momento que quiser ajuda, estaremos aqui para ela.

Rhys não parecia ter ouvido sequer uma palavra.

— É minha culpa. — E a voz que saiu dele partiu meu coração. — É tudo minha culpa, Feyre.

Suspirei, cansada dele se culpar. Ele não podia saber o que aconteceria, não podia prever aquilo. Caminhei até a porta afim de colocar um ponto final naquela culpa sem sentido. Rhysand precisava entender que nada que ele viesse a fazer poderia impedir aquilo.

Coloquei a mão na maçaneta, determinada, então o mundo parou.

— Nunca deveria ter confiado em Tamlin. Não deveria ter contado a localização delas...

Parei de ouvir.

Contado a localização delas.

A porta se abriu e Rhys estava sentado com a cabeça entre as mãos. Feyre estava em seu lado o consolando. Ambos levantaram a cabeça quando a madeira rangeu. Quando os olhos de Rhysando encontraram os meus o desespero puro apareceu nas orbitas violetas.

A localização

A localização delas...

Ele havia nos entregado.

O sangue correu mais rápido em minhas veias. Magia zuniu em meus ouvidos.

— Você fez o que?

Foi tudo que consegui dizer.

Rhysand ficou de pé em um salto, empurrando Feyre para o lado.

Agora entendia o porquê daquela culpa toda, não era por responsabilidade ou fardo que ele sentia ter, mas sim porque a culpa era dele.

Entrei na sala. A magia ganhando vida ao redor de mim. Respirar tinha se tornado difícil.

Parei de ver o piso de mármore, ou as pinturas nas paredes, ou a lareira que ainda crepitava ao meu lado. Parei de ouvir o canto dos pássaros ao alvorecer, ou o vento gélido batendo nas enormes janelas.

Os olhos de Rhys estavam arregalados a minha frente, desespero e culpa. Perifericamente vi Azriel se posicionando e flanqueando o lado esquerdo de Rhys, Cassian a direita colocando Feyre e Nestha atrás dele.

Eles sabiam. Todos sabiam. E naquele momento os odiei, cada maldito feérico naquela sala.

— Você nos entregou. — Minha voz não passava de um sussurro a meia noite.

— Rayla... — Ele deu um passo à frente erguendo a mão para me tocar.

— Não me toque. — Recuei.

Algo dentro de Rhys quebrou, e eu nem sequer me importava.

— Por favor, por favor...

Corte de sombras e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora