Capítulo 7

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Azriel

              Era certo que todas as Cortes de Prythian possuíam uma beleza incrível, mas para mim, nada se comparava com a exuberância da Corte Noturna. Enquanto voava, analisava as montanhas que estavam em volta do acampamento illyiriano. Não sabia se alguém daquela raça já havia, em algum momento das suas existências imortal, parado para apreciar aquela paisagem.

             O vento soprava de forma impotente aquela manhã. A brisa gélida vinda das montanhas tocava minhas asas com certa intimidade e provocava uma sensação acolhedora.

             Por muitos anos voar tinha parecido um sonho distante. Até que conheci Cassian e Rhysand, até que eles me ensinaram a voar, e então descobri que ganhar os céus era o segundo maior presente que poderia ter obtido. O primeiro foi a honra que ter meus irmãos em minha vida.

           Um suspiro de satisfação saiu de mim após recordar o direito que me fora tirado por longos anos e que agora desfrutava com tanta graça. Voar era de fato libertador, além de me dá sensação de liberdade e acalmar quando a situação ficava difícil, me ajudava a esclarecer a mente e organizar os pensamentos.

            E foi por essa razão que escolhi voar o trajeto todo de Velaris ao acampamento illyriano ao invés de atravessar.

           Nestha não ficara muito contente com a notícia, mas, para a minha surpresa, não bateu boca e até então não havia escutado qualquer murmuro de onde ela voava com Cassian.

          Cassian não parecia confortável ou desconfortável com a situação. Seu rosto era uma máscara indecifrável. Voara em completo silêncio, com o olhar atento ao terreno montanhoso.

           A ida de Nestha ao acampamento de fato havia trazido mudanças ao comportamento da fêmea. Entretanto, Cas também estava sendo afetado. O que quer que fosse ocorrer nas semanas seguintes, traria consequência para ambos, só esperava que meu irmão não fosse seriamente atingido com o que acontecesse.

            Avistei o acampamento e a imagem da fêmea dos olhos violetas invadiu a minha mente. Quem era ela? Porque estava nas terras humanas? Porque mentira?

          As sombras se aglomeraram mais a minha volta, como se estivessem inquietas assim como minha mente. Mas reparei que as mesmas estavam caladas. Desde que havia domado-as, elas estavam sempre ativas, sussurrando, e os momentos de silencio genuíno eram extremamente raros. 

           Começamos a descer em direção a cabana de Cassian naquele acampamento infernal. Por mais que ele fosse o general dos exércitos da Corte Noturna, não entendia porque insistia em obter uma residência ali, naquele lugar que lhe fez tão mal, aquele povo que tanto o humilhou.

           No momento em que pousamos Nestha pulou dos braços de Cassian e, com passos firmes fora andando em direção a cabana. A seguimos em silêncio.

          Adentramos no recinto e a mesma disparou pela escada, segundos depois escutamos o bater da porta.

         Cassian olhava fixamente para o local onde a fêmea tinha estado segundos antes como se conseguisse enxerga-la ali. Após um longo suspiro, olhou em minha direção.

— Então, cadê o nosso mais novo problema?

— Não aqui. — As sombras já haviam vasculhado a casa e não havia nenhum sinal dela.

— Acha que fugiu? — Cas perguntou cruzando os braços.

— Não conseguiria sem ajuda, e não acredito que alguém nesse lugar a ajudaria.

— Venha — ele deu um tapinha em meu ombro — vamos andar pelo acampamento. — E saiu pela porta.

             Dois passos dados foram o suficiente para que eu me arrependesse de ter seguido Cassian. Os olhares de desprezo que eram lançados em nossa direção faziam com que eu quisesse desembainhar Reveladora de Verdades da coxa e enfiar nos olhos daqueles porcos. Não por mim, mas por meu irmão.

            Por toda vida desprezei e amaldiçoei aquele povo e sua cultura. Eram cruéis e sanguinários. Havia desistido deles séculos atrás.

            Mas não Cassian.

           Cassian ficara e lutara por aquele povo. Ainda acreditava em sua melhora, e era por isso que mantinha uma residência ali. Podia não admitir, mas eu sabia que ele, depois de cinco séculos, ainda almejava a aprovação do seu povo. Nosso povo.

           Continuamos o caminho de pedra, e mesmo sem mandar as sombras, eu sabia onde deveria encontrá-la. Astuta demais, jamais ficaria parada esperando que se curasse. E com esse pensamento, após chegar na área de treino, ouvi um chocar de espadas.

          Seguimos o som até o meio dos pinheiros e então lá estava ela. De costa, com os cabelos soltos, as asas levemente abertas. Vestida de preto da cabeça aos pés, como um digno membro da corte noturna, e empunhava uma espada de curto alcance. A outra fêmea, Cecília, proferia movimentos certeiros, com alguns deslizes, mas era visível que o treino mostrava resultado.

— É ela? — Perguntou Cassian, inclinando o queixo na direção de Ray.

— Sim. — Disse somente e ele sorriu em aprovação.

          Um choque de espadas, e mais outro, e então ambas mudaram de lugar. No momento em que o rosto de Ray ficou visível, senti Cassian enrijecendo ao meu lado. Ele prendeu a respiração antes de proferir: 

— Só há um problema se você pretende levar ela para sua cama, Az. — Ele disse com os olhos arregalados e a expressão de choque.

          O encarei com a sobrancelha erguida, com a interrogação no rosto. Não que em algum momento tivesse passado por minha cabeça levá-la para a cama, mas perguntei:

— E qual seria?

— Porque esta é Rayla. — Uma pausa, e então virou o rosto para me encarar quando completou — Irmã mais nova do Rhys

Corte de sombras e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora