Dois dias haviam se passado desde meu encontro com os desertores. Dois dias que minha cabeça rodava e rodava.
Havia retornado para o treino no dia anterior. Os olhos de Kol mostraram uma ansiedade, quase um desespero para saber o que eu faria a seguir, mas ele não ousou falar qualquer coisa sobre o assunto.
Naquele tarde Azriel apareceu no arco de entrada da cabana com uma cesta de comida na mão e um sorriso tímido no rosto.
Agradeci pela comida e pedi para ele sair pois queria ficar sozinha.
Mágoa brilhou nos seus olhos, como se dissesse o que aconteceu? achei que estávamos progredindo.
E estávamos.
O jantar, que agora parecia ter acontecido décadas atrás, dias antes tinha sido muito bom, e tinha sentido uma paz que não sentia a tempos e, logo depois, naquela mesma noite, cometi o erro de seguir o diabo e entrar no inferno.
Mas, o mestre espião saiu sem dizer uma palavra e não voltou desde então
Uma risada nasalar saiu de mim enquanto girava a maçaneta da banheira. A torneira rangeu, o metal era gelado ao toque, e água escorreu, então jorrou na banheira.
Que situação.
Os pensamentos que passavam na minha cabeça eram tantos que mal conseguia focar em um por vez. Era como se houvesse diversos relatores na minha mente, e todos queriam falar primeiro.
Inspirei e expirei, enquanto olhava ao redor do banheiro e esperava a banheira encher.
No ultimo mês aquela cabana tinha virado a minha residência. Nenhum criado, nenhum olho monitorando e julgando cada movimento meu, o que acontecia diariamente na Corte dos Pesadelos. Mas, também, nenhuma companhia a não ser que um guerreiro enxerido, arrogante e lindo se incumbissem de aparecer. Nenhuma música, risadas e alegria, como acontecia diariamente na Corte dos Sonhos.
Levou cinco minutos até que a banheira enchesse, o vapor da água quente subia e fez com que as lembranças dos anos anteriores voltassem a minha mente. Houve alguns dias em que os cientistas, se é que pode chamar aquelas coisas disso, de Hybern exigiram que eu estivesse limpa para o proximo experimento. Nas primeiras vezes, a agua fria dos andares mais subterrâneos naquele palácio infernal parecia perfurar meus ossos, como pequenas agulhas sendo inseridas sem dó. Ao passar do tempo eu ja entrava na água gelada e não sentiu o frio da banheira, mas o das profundezas escuras do Caldeirão conforme me devorava por inteiro. Conforme ele arrancava minha esperança, sonhos e desejos. Conforme eu era transformada em um corpo oco, sem nada, com apenas uma promessa de vingança.
Desde que fora resgatada estava lutando contra aquilo — o pânico que tensionava o meu corpo e fazia com que meus ossos tremessem. O medo de voltar para aquele escuro, para aquela cela gélida, para a solidão.
Afundei até o pescoço na água quente sentindo o prazer preencher meus músculos.
Irônico, pensei, tinha tanto medo da solidão e acabei me isolando por conta própria.
Mas como conviver com todos novamente? Como olhar para eles normalmente com tanto dentro de mim.
Todos os dias, durante duzentos anos que passei trancafiada, eu revivia a morte da minha mãe, de novo e de novo. Quando nada de mim restava, nenhum resquício de esperança, a sede de vingança estava ali, está aqui.
Não conseguia entender como e porque Rhysand deixara aquele porco do Tamlin vivo, não depois do que ele fez.
O nome do Grão Senhor ecoou na minha mente. Rhysand, meu irmão, havia contado a nossa localização para Tamlin e isso desencadeou tudo nos últimos 200 anos.
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Corte de sombras e esperança
FantasiaPrythian já não é mais a mesma, suas Cortes não o são. Anos de sofrimento após a tirania de Amarantha, transformaram o coração de todos, e a guerra contra Hybern serviu para muita coisa. Desde a aproximação da família, até a separação de outras. A...