Capítulo 27

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A chuva de estrelas despencava acima de nós, enchendo o mundo com aquela luz branca.

Estava parada no meio da varanda, olhando maravilhada para o céu e aquelas belezas iluminadas. Não me lembrava daquilo, não recordava a última vez que havia celebrado a Queda das Estrelas e, pelos deuses, era magnifico.

Um ponto se iluminou no meu peito quando outra estrela cruzou o céu, girando e pulsando com tanto brilho que era impossível não iluminar a pior das escuridões. E isso fez com que uma esperança se acendesse em mim, uma maldita esperança de que, até para o poço de escuridão dentro de mim, podia haver luz.

Os sussurros sobre mim haviam parado e toda atenção estava no espetáculo no céu. No momento em que entrei na sala, e a multidão de pessoas voltou a atenção para mim, pensei em me esconder em um casulo de escuridão, mas as palavras de Nestha rondavam a minha mente, e mantive a cabeça erguida por fim.

Quando Rhysand me avistou e ficou boquiaberto eu soube que havia tomado a decisão certa. O choque estampado no rosto do meu irmão, como se tivesse vendo um fantasma da irmã que um dia tivera, fez meu estomago se revirar, mas quando disse, em alto e bom som, que não estava mais me escondendo, o brilho de orgulho no seu olhar aqueceu meu coração.

Porém era a intensidade nos olhos de Azriel que tinham me deixado zonza. Tentei ao máximo não encara-lo, mas era impossível ignora-lo. Eu sabia que ele estava lá, antes mesmo de avista-lo. E quanto o peguei me analisando, queria correr até ele e me jogar em seus braços o mesmo tanto que queria empurra-lo do parapeito.

Agora, no meio da varanda, ainda sentia seus olhares sobre mim e uma parte minha cedeu e decidiu ir ate ele. Então a música surgiu, e as pessoas ao meu redor começaram a dançar, rodopiando e se balançando, em todas as direções. As gargalhadas aumentaram ao som da alegre melodia. Fechei os olhos e tentei, como tentei sentir aquilo que eles sentiam, tentei deixar a música me envolver e levar para longe os pesadelos, mas nada veio.

Aquela explosão de alegria, o amor ao som, ao movimento, à vida... era demais.

Recuei lentamente para as grandes portas de vidro abertas, querendo me afastar, querendo respirar. Uma mao firme segurou levemente meu pulso.

Rhysand me virou e uma expressão atordoada pairou em seu rosto.

— Está tudo bem? — Assenti.

— Só preciso tomar um ar.

Confusão passou pelo seu rosto.

— Rayla... essa parte... a música, a dança, sempre foi sua parte favorita.

Foi, tinha sido, há muito muito tempo, quando eu era apenas uma menina, uma menina protegida por seu irmão, por seus pais, por sua coroa. Quando minha maior ambição era descobrir qual o próximo baile que iria. Quando amava as multidões, os festejos, a musica. Quando sentia a música.

Sentir... estava tentando, pelos deuses, como estava.

Tinha dias que estava ali, tão próximo, que parecia que só esticar os dedos e todas aquelas sensações voltariam. Mas tinha dias que lutava desesperadamente para não me afogar dentro de mim. E por isso me escondia, e por isso não queria sair de onde havia me colocado. Lidar com tudo, nas sombras, sozinha, era mais fácil...

Quando estava com Rhys, e Cass, e Azriel, aquela sombra que me flanqueava quase se dissipava... quase. Conseguia esquecer, deixar de lado, e sorrir, e ficar feliz por estar ali. Mas ficar sozinha era inevitável, e então aquilo tudo, lembranças, pesadelos, tudo voltava.

Respirei fundo e coloquei a mão por cima da de Rhys que estava em meu pulso, suavemente.

— Duzentos anos é muito tempo, Rhys. As coisas mudaram... eu mudei.

Corte de sombras e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora