Capítulo 19

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Havíamos estabelecido uma rotina agradável desde que voltei. Rhysand fazia questão de fazer todas as refeições na Casa do Vento e Feyre sempre o acompanhava. Morrigan e Azriel estavam sempre presentes também, enquanto Amren e Elain só haviam aparecido em dois dias. Todos me tratavam como se nunca tivesse estado fora do seu círculo, em alguns pontos eu me encaixava, em outros me calava e fingia que não estava no ambiente.

Desde o dia fatídico na biblioteca, não falamos mais sobre o motivo que causou o descontrole das minhas ações. Meus poderes estavam se estabelecendo aos poucos, mas já possuía um certo controle sobre ele menos quando havia um pico de oscilação em minhas emoções o que ocorria por conta dos pesadelos e se algum motivo me tirasse do sério. A segunda razão só ocorreu uma vez na semana quando Rhysand fora me treinar junto à Azriel e me levou até meu limite com seu senso de humor desenfreado.

Havia progredido com Azriel. Meu corpo já não doía tanto com os exercícios, mas estava longe de estar apta para uma batalha de novo, havia um longo caminho para percorrer ainda.
O mestre espião era um desgraçado exigente, não tolerava corpo mole e exigia o melhor a cada movimento. Mas mesmo com toda sua exigência arrogante, Azriel possuía um lado doce e carismático. A cada dia que passávamos treinando ele deixava esse lado se aflorar. Não se escondia mais atrás de uma máscara fria e sombria. As piadinhas e conversas pós o treino viraram rotina. Ele sorria e falava com mais frequência comparando aos dias anteriores. Porém, no momento em que estava na presença de outras pessoas esse seu lado se escondia de novo.

Não conseguia decifrar Azriel e todas suas facetas ainda. E o que mais me confundia era o relacionamento dele com Morrigan. Todas as vezes que ela entrava no cômodo o seu humor mudava e sua atenção ia toda para ela. Os dias se passavam e a relação dos dois começou a me incomodar, não pelos olhares atenciosos que ele dava em direção a fêmea, porém por ela não corresponder mas também não dispensar.

Qualquer um que observasse direito entendia que Morrigan não possuía sentimentos pelo mestre espião, pelo menos não como ele gostaria, mas também relutava em fazer com que ele deixasse de ter por ela.
Em um dos jantares que Elain estava presente, cada vez que a mesma interagia com Azriel e ele de prontidão lhe soltava um ou dois sorrisos suaves, Mor enrijecia e mudava de humor. Tentava mudar a pauta quando eles começavam uma conversa, e tentava manter sempre uma barreira de silêncio entre os dois. Senti vontade de gritar com ela, mas eu já possuía muitas batalhas, e aquela não era uma das minhas então decidi ficar calada.

Morar na Casa do Vento era absurdamente reconfortante. Além do ambiente familiar o fato de não ter ninguém além de mim no ambiente me permitia a liberdade e espaço que tanto almejava.

Naquela manhã Nuala havia deixado meu café pronto no balcão da cozinha como das últimas vezes, desde quando falei que não era necessário levar ao meu quarto e que a sala de jantar era muito grande só para mim. Tinha começado a comer quando a mesma sensação que senti na cabana de Cassian no acampamento começou a pairar sobre mim. A agitação começou a borbulhar no meu peito quando um barulho no corredor chamou minha atenção. Silenciosamente coloquei as pernas para fora do banco onde estava e fui em busca do causador do barulho. Antes que pudesse adentrar no corredor dei de encontro com uma parede de músculos e pulei para trás.
Azriel estava com as mãos no bolso, com as asas elegantemente fechadas e me olhava divertidamente.
— Assustei você? — Perguntou se esforçando para não rir.

Semicerrei os olhos para ele e me virei retornando para onde estava meu alimento matutino.

— Ainda tenho meia hora antes do treino.

— Eu sei. — Respondeu alcançando uma uva a minha frente, estiquei o braço para dar um tapa na mão com cicatriz, mas ele foi mais rápido e colocou a fruta a boca com um sorriso de canto e se afastou do balcão.

Corte de sombras e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora