Capítulo 26

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Azriel

Eu a procurava desde o momento em que pousei na Casa. Quando nos reunimos no saguão da casa da cidade Nestha avisara que Rayla deixou claro que nos encontraria aqui, mas, até então, nenhum sinal dela.

As coisas haviam ficado mais complicadas do que imaginei. No dia anterior, quando recuei do seu toque, consegui ver, quase sentir, a sua magoa. Depois ela recuou com o olhar completamente confuso e fiquei atordoado com a possibilidade dela acreditar que eu não a desejava. Pelo caldeirão, não havia nada que eu desejasse mais, nunca houve. Nunca quis tanto algo em toda minha existência miserável e o fato de eu nunca ser digno de tê-la estava acabando comigo. Pior, o fato dela achar que eu não a queria estava me destruindo.

Estávamos no pátio lotado do lado de fora da sala de jantar, e alguns convidados sorriam e acenavam em minha direção. Esferas com luz feérica tênue dentro da Casa iluminavam travessas de comida e intermináveis fileiras de garrafas verdes de vinho espumante sobre as mesas. Nenhum sinal de Rayla.

Na cidade abaixo de nós, cada luz restante se apagou. Não havia lua; nenhuma música fluía nas ruas. Me apoiei no parapeito da varanda olhando a escuridão que se estendia, como se estivesse à espreita esperando para engolir todos nos.

Mor apareceu ao meu lado, me oferecendo uma taça de vinho. A olhei por alguns discretos segundos e então percebi que, mesmo deslumbrante como sempre, aquela era a primeira vez que Morrigan não me afetara. Que não a cobicei, nem sequer desejei.

— Acha que estão se acertando? — Perguntou olhando em direção ao outro lado da varanda, onde Cassian, Elain e Nestha estavam.

Cassian estava falando alguma besteira que fizera Elain se desencadear a rir. Nestha estava se esforçando para não ceder, mas os cantos repuxados do seu lábio a condenavam. Sem aquela amargura de sempre, sem o rosto fechado, e aceitando a presença de Cassian, na verdade, confortável em sua presença.

— Talvez. — Foi tudo que respondi.

Mor estava pronta para falar mais alguma coisa quando o clima mudou. Por um momento senti um puxão estranho no peito, mas não tive tempo de dar atenção para a sensação pois olhei para as pessoas procurando entender o que acontecia.

As conversas pararam, alguns convidados começaram a sussurrar tão baixo que nem eu era capaz de entender o que falavam. O caminho entre eles começou a abrir, como se alguma praga ali passasse. A multidão farfalhou ainda mais. Mor ao meu lado tentava ficar na ponta dos pés para enxergar o que acontecia. Rhysand e Feyre, que estavam entre as portas de vidro escancaradas, suspiraram enquanto olhavam para frente.

Então eu a vi.

E não era praga alguma. Longe disso.

Ela estava mais para um maldito milagre. Ou para a criação mais linda que já andou sobre a terra.

Rayla estava usando um vestido de alças finas e justo até a cintura. Em um tom cinza, quase branco, que, a partir das coxas, descia em um degrade para terminar em um rosa salmão. O tecido marcava severamente seus seios, e entre eles, no decote, pendia um colar com safiras encrustadas que se encerrava no exato ponto que o decote acabava.

Os cabelos estavam soltos, a não ser por duas finas mechas, uma de cada lado, que se encontravam atrás da cabeça e, no alto dela, um diadema prateado, com a lua crescente no centro, sendo segurada pôr o que pareciam ser réplicas dos picos de Velaris, e, apoiada na lua, uma estrela de doze pontas.

E as asas... Pela Mãe.

Se Rhys e Feyre se completavam por ele ser a noite triunfante e Feyre as estrelas, Rayla era tudo por si só.

Corte de sombras e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora