Capítulo 44

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   Ouço um barulho de porta sendo aberta e de passos se aproximando. Estou sonolenta e não quero virar para ver quem entrou. Logo sinto uma mão fina tocando meu braço. Estela, ela deve gostar de me ver dormir. Ela começa a apertar meu braço cada vez mais forte, me viro assustada para confrontar tal insanidade e então a vejo. Cabelos compridos com mechas loiras platinadas, olhar gélido e mortal. Macaquinho branco inundado de sangue.

Cecília.

- Vou te matar, Lara, eu vou te matar!
   Num berro eu sento na cama e abro os olhos, suando.

- Era um sonho, era um sonho.

   Sussurro para mim mesma a fim de me acalmar. Resfolegando, tento me concentrar no que é real e a verdade é que Cecília e Sofia estão presas e enquanto permanecerem assim nenhuma das duas passará de apenas uma assombração.

***

   Enquanto saio da sala para o primeiro intervalo sem precisar ficar presa colocando matéria em dia, vejo Vanessa no corredor cheio de alunos famintos, ela está gesticulando bastante com a testa franzida, ando mais rápido para chegar até ela e ver em que problema se meteu desta vez, mas desisto quando vejo Esteban.

Ela gosta mesmo de se humilhar.

   Gostar de alguém não é só dar tudo de si, tem que receber também e eu sei que ela errou muito feio com ele, mas além de desculpas e crescer com esse erro, não há nada mais o que fazer, deveria dar um tempo a Esteban, esperar, não insistir a cada vez que o vir. Ninguém dá valor a quem se rasteja, nem mesmo o homem de bom coração por quem ela se apaixonara.

   Eu me aproximei um pouquinho, de maneira que ainda não me vissem, estavam focados um no outro e ainda havia muitas pessoas transitando no corredor, é difícil conseguir ouvir alguma coisa e talvez nem devesse estar tentando, mas se existe algum relacionamento alheio em que estou sem querer envolvida é esse, sem contar o fato de que Vanessa me contaria tudo depois.

- Fala sério, Vanessa, você deveria sentir vergonha disso.

   Esteban fitou a barriga dela fazendo um ruído de desdenho.

Onde está o Esteban eu conheço? Meu amigo jamais seria esse cretino.

   Vanessa deixa os ombros caírem.

- Está falando do bebê?

- Não.

   Responde rápido de maneira afetada.

Esse, sim é o meu amigo.

   Ela se recompõe um pouquinho.

- Estou falando em insistir num namoro que acabou porque você me enganou e pretendia dormir comigo para mentir dizendo que o filho era meu. Isso é motivo de muita vergonha!

   Esteban olhou em volta para ter certeza de que não foi ouvido pelas poucas pessoas que agora circulam o corredor depois de aumentar a voz. Ele pigarreia.

- Você precisa seguir em frente, está bem?

   Ela tenta interrompê-lo.

- Não com alguém, Vanessa, se concentre no bebê agora. No bebê e em você, nessa ordem.

   Só ele para fazê-la ficar quieta.

- Olha, eu não sinto mais raiva de você, mas não posso dizer que te perdoei...

   Ele balança a cabeça devagar e começa a se afastar.

- Não ainda.

   Esteban vai embora pelo corredor vazio deixando minha amiga arrasada, mas não quer dizer que ele também não esteja. E querendo ou não, sei que a deu uma faísca de esperança de que talvez algum dia ele a perdoe e eles possam viver felizes juntos, os três.

Ilhada - A ilha que habita em mim (LIVRO COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora