Minha barriga ronca alto, é como se um vulcão que habita em mim quisesse entrar em erupção. Meus setenta quilos e quase um e setenta de altura cambaleam.
Faz tempo que não me alimento, é o segundo dia na ilha, então saio para procurar minha refeição, que pode muito bem estar correndo por aí ou nadando.
Do meu taco improvisado faço uma lança, afio a ponta com pedras e voilà: tenho uma arma.
Entro no mar e fico observando quase inerte as idas e vindas das ondas que num ritmo perfeito leva consigo peixes que serviriam de iscas de tão pequenos.
Resolvo levantar algumas pedras atrás de crustáceos e por vez acho um siri, tento pegá-lo com a mão, já que seria difícil perfurar sua carcaça com a ponta da minha lança, mas ele escorrega.O sol de meio dia já está me expulsando da beira mar, persisto um pouco mais procurando por peixes. Sem sucesso. Passei horas aqui em vão. Até que mudo de perspectiva e sigo em direção à floresta.
***
Ando tanto que me canso, estou dentro da floresta, cheia de plantas que eu nunca vi e penso, por um instante, que tudo o que eu aprendi sobre flora e fauna se resume a nada diante da imensidão de espécies que habita esse lugar. Fico admirada e de alguma maneira agradecida por poder presenciar tamanha beleza. Até que a fome me lembra que nem tudo são flores.
Mas se fossem comestíveis bem que poderia ser.
Invado uns metros a mais, quando ouço um barulho entre as plantas.
Seria um esquilo?
Eu queria um esquilo!
Chego mais perto e quase caio para trás quando olha de volta para mim.
Uma pantera. Um filhote de pantera.
Meu coração para por um segundo ou dois. E então um rugido, que parece ser da mãe pantera, por detrás de mim me faz arrepiar e me impulsiona imediatamente para frente e sem pensar uma vez sequer, eu corro muito sem olhar para o retrovisor e sem pisar no freio. Corro mais um pouco e já exausta e longe o suficiente decido parar.
Com fios do meu cabelo negro e curto no rosto, as mãos pressionando os joelhos, boca aberta buscando o ar que já não tenho e coração pulando mais que uma lebre, finalmente olho para trás e o animal não está atrás de mim - só a minha pouca energia que se foi por completo.
A minha exaustão foi agravada por causa do aclive. Olhando para baixo, diria que subi vários metros.Enquanto me recupero, ouço um barulho de água corrente e ofegante ando seis passos a frente. Logo atrás de um muro de folhagens extremamente grandes, posso contemplar com olhos arregalados o que seria um oásis num deserto.
Era meu oásis no meu deserto!
Minha boca seca agradece e meus olhos esvaidos de fome brilham diante do inacreditável.
Uma cachoeira!
Que bênção é essa? A luz já fraca do sol bate na água, o que a faz brilhar. Ela é maior que uma piscina de dez mil litros e deve ter uns nove metros de diâmetro. É envolta por pedras cinzentas de todos os tamanhos, inclusive uma enorme e outra quase tão grande quanto no seu lado direito.
Que sorte! Uma cachoeira na ilha! Não dá para acreditar!
Depois de me hidratar, volto a minha lança contra alguns pequenos peixes que parecem estar dançando nestas águas cristalinas e os guardo na maior pedra para depois.
Tomo um longo banho que só não foi melhor por não ter meus produtos de hidratação comigo, meu cabelo já está ressecado e é só o terceiro dia na ilha. Pretendo usar aloe-vera e água de coco, mas sem o processo industrial, sei que não terá o mesmo efeito.
Dando-me por mais que satisfeita, é ótimo poder tomar um banho em água doce e como é água corrente, posso beber e cozinhar com ela também.
A fome é tão avassaladora que não tenho energia para fazer uma fogueira e resolvo deixar essa tarefa para o próximo dia.Tinha preconceito em comer comida crua, mas nada é tão ruim quando se está faminta.
Minha barriga se regozija pelo esforço recompensado. Pesquei cinco peixes e me deleitei com três. Logo depois, forro a manta da minha mãe no chão e deito sobre ela. Pego no sono bem rápido. Foi um dia e tanto.
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Ilhada - A ilha que habita em mim (LIVRO COMPLETO)
Romance🔴 A ideia de parar numa ilha deserta em busca de um recomeço não parece tão ruim se comparada à ficar na casa onde viu sua mãe ser assassinada. Lara assim começa uma jornada que imaginava ser desafiadora, mas que depois mostrou ser ainda mais que i...