Capítulo 3

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Minha barriga ronca alto, é como se um vulcão que habita em mim quisesse entrar em erupção. Meus setenta quilos e quase um e setenta de altura cambaleam.
Faz tempo que não me alimento, é o segundo dia na ilha, então saio para procurar minha refeição, que pode muito bem estar correndo por aí ou nadando.
Do meu taco improvisado faço uma lança, afio a ponta com pedras e voilà: tenho uma arma.
Entro no mar e fico observando quase inerte as idas e vindas das ondas que num ritmo perfeito leva consigo peixes que serviriam de iscas de tão pequenos.
Resolvo levantar algumas pedras atrás de crustáceos e por vez acho um siri, tento pegá-lo com a mão, já que seria difícil perfurar sua carcaça com a ponta da minha lança, mas ele escorrega.

O sol de meio dia já está me expulsando da beira mar, persisto um pouco mais procurando por peixes. Sem sucesso. Passei horas aqui em vão. Até que mudo de perspectiva e sigo em direção à floresta.

                                   ***

Ando tanto que me canso, estou dentro da floresta, cheia de plantas que eu nunca vi e penso, por um instante, que tudo o que eu aprendi sobre flora e fauna se resume a nada diante da imensidão de espécies que habita esse lugar. Fico admirada e de alguma maneira agradecida por poder presenciar tamanha beleza. Até que a fome me lembra que nem tudo são flores.
Mas se fossem comestíveis bem que poderia ser.
Invado uns metros a mais, quando ouço um barulho entre as plantas.
Seria um esquilo?
Eu queria um esquilo!
Chego mais perto e quase caio para trás quando olha de volta para mim.
Uma pantera. Um filhote de pantera.
Meu coração para por um segundo ou dois. E então um rugido, que parece ser da mãe pantera, por detrás de mim me faz arrepiar e me impulsiona imediatamente para frente e sem pensar uma vez sequer, eu corro muito sem olhar para o retrovisor e sem pisar no freio. Corro mais um pouco e já exausta e longe o suficiente decido parar.
Com fios do meu cabelo negro e curto no rosto, as mãos pressionando os joelhos, boca aberta buscando o ar que já não tenho e coração pulando mais que uma lebre, finalmente olho para trás e o animal não está atrás de mim - só a minha pouca energia que se foi por completo.
A minha exaustão foi agravada por causa do aclive. Olhando para baixo, diria que subi vários metros.

Enquanto me recupero, ouço um barulho de água corrente e ofegante ando seis passos a frente. Logo atrás de um muro de folhagens extremamente grandes, posso contemplar com olhos arregalados o que seria um oásis num deserto.
Era meu oásis no meu deserto!
Minha boca seca agradece e meus olhos esvaidos de fome brilham diante do inacreditável.
Uma cachoeira!
Que bênção é essa? A luz já fraca do sol bate na água, o que a faz brilhar. Ela é maior que uma piscina de dez mil litros e deve ter uns nove metros de diâmetro. É envolta por pedras cinzentas de todos os tamanhos, inclusive uma enorme e outra quase tão grande quanto no seu lado direito.
Que sorte! Uma cachoeira na ilha! Não dá para acreditar!
Depois de me hidratar, volto a minha lança contra alguns pequenos peixes que parecem estar dançando nestas águas cristalinas e os guardo na maior pedra para depois.
Tomo um longo banho que só não foi melhor por não ter meus produtos de hidratação comigo, meu cabelo já está ressecado e é só o terceiro dia na ilha. Pretendo usar aloe-vera e água de coco, mas sem o processo industrial, sei que não terá o mesmo efeito.
Dando-me por mais que satisfeita, é ótimo poder tomar um banho em água doce e como é água corrente, posso beber e cozinhar com ela também.
A fome é tão avassaladora que não tenho energia para fazer uma fogueira e resolvo deixar essa tarefa para o próximo dia.

Tinha preconceito em comer comida crua, mas nada é tão ruim quando se está faminta.
Minha barriga se regozija pelo esforço recompensado. Pesquei cinco peixes e me deleitei com três. Logo depois, forro a manta da minha mãe no chão e deito sobre ela. Pego no sono bem rápido. Foi um dia e tanto.

Ilhada - A ilha que habita em mim (LIVRO COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora