Capítulo 12

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Acordei com barulho de galhos sendo torcidos. E uns gemidos também. Olho, já sentada, para fora do meu abrigo e posso contemplar Jorge colhendo laranjas. Sorrio ao vê-lo com a calça jeans do dia anterior caindo de sua cintura, exibindo o cós da cueca preta enquanto o sol passa por ele, delineando sua silhueta com perfeição. Seu cabelo balança a cada movimento, o que me faz perceber que estão mais hidratados que o meu.
Tenho que aproveitar os presentes do ''Seu Carlos''. Preciso de um banho merecido com todos produtos disponíveis e vestir uma roupa decente, mas, claro, quando Jorge for embora. Eu mereço, pelo menos, isso. Volto a admirar esse rapaz loiro, exibindo sua costa nua quase subindo na árvore para colher mais laranjas, como se já não tivesse o suficiente. Em sua cesta há morangos, uvas e maçãs. Não é possível que esta quantidade de frutas são só para nós dois. Mas é. Quando me vê, abre um sorriso reconfortador e caminha com a cesta até mim.

- Bom dia!

Ele diz ao se abaixar para ficar da minha altura. Jorge é tão bonito e seu sorriso, com certeza, derreteu mais corações além do meu e o de Cecília.
Caramba, Cecília!

- Bom dia! Tem notícias dela?

- Você dormiu bem?

Questiona ignorando minha pergunta.
Porque ele não quer falar dela? Não está se sentindo mal com a situação como eu estou?
Insisto, agora mais firme.

- Como Cecília está, Jorge?

Ele baixa os olhos.

- Ela ainda está na cirurgia. É bem delicada graças à gravidade do ataque e também à quantidade de sangue que perdeu ao esperar socorro.

Depois de um suspiro, encaro seus olhos verdes tristonhos e prossigo, sabendo que há um assunto a ser tratado:

- Por que não me contou que vocês namoraram?

- O quê?

Claramente foi pego de surpresa. Até eu me surpreendi com o quanto fui direta.

- Por que você escondeu isso de mim, Jorge? Eu não ia brigar com você, mas saber por ela foi constrangedor!

- Não contei porque não foi importante, Lara. Em nenhum momento deixei de pensar em você, eu nem queria namorar. Ela insistiu e já que gostava de mim então pensei, por que não?

Deu de ombros.
Ele só pode estar de brincadeira! Usou Cecília por conveniência? Brincou com os sentimentos dela só porque lhe foi cômodo? Esse não é o meu anjinho!
Levanto num salto, o obrigando a fazer o mesmo, mas seu desequilíbrio, o faz tombar a linda cesta de frutas, as magoando e as espalhando pela minha sala de estar inteira.
Onde ele conseguiu essa cesta? Ela é familiar...
Resolvo me concentrar no que é importante e o repito ironicamente:

- "Por que não?" Você sabia que ela te amava e deu esperanças falsas de reciprocidade enquanto namorava ela? Não acredito que você fez isso, Jorge!

Focifero, bufando.
Jorge me olha nos olhos, atordoado e amedrontado devido à resposta inesperada. Ele, provavelmente, pensou que eu iria achar bonito ele falar que nunca deixou de pensar em mim mesmo estando com outra, e talvez eu teria mesmo achado isso se a situação não tivesse sido tão agravada pela confissão perturbadora de Cecília e esse maldito ataque.
Depois de ter seu silêncio como resposta, resolvo continuar:

- Você não tem ideia de como me sinto ainda mais culpada sabendo que você sequer gostava dela!

- Não diz isso, Lara...

- Ela me contou tudo! Eu afastei vocês na escola. Eu afastei vocês agora...

- Você não tem culpa de nada!

Pensando com mais clareza, respondo aos berros:

- Talvez, mas você tem! Como pode iludí-la num namoro falso? Ficar seis meses fazendo ela pensar que a amava?
Já sinto meu rosto encharcado, sendo que nem percebi quando comecei a chorar.

- Lara, não é culpa minha eu não gostar dela como ela quer!

- Mas é culpa sua tê-la deixado pensar isso!

Há uma pausa. Jorge é pura tristeza. Com certeza, brigar não estava em seus planos, hoje. Não depois do café da manhã que planejou. Aquela cesta bem costurada envolvendo as frutas colhidas com carinho. Tudo por água a baixo. De novo. Seu cabelo claro cai na testa quando baixa os olhos para a terra. Depois de resfolegar o suficiente, concluo calmamente, balançando a cabeça:

- Não sabia que você era esse tipo de homem. Pelo menos não era esse tipo de garoto!

Com desdém e os olhos voltados para a terra, aponto para a porta de saída da minha casa que é basicamente um vão largo entre a mata alta. Ele entende o recado. Eu preciso ficar sozinha. E ele não é de insistir. Sinceramente, pela primeira vez, eu queria que ele gritasse comigo, que insistisse para ficar, que me dissesse que não foi um babaca com Cecília. Mas isso não é verdade e nada é dito. Assim que saiu, sentei novamente no meu colchão de ar e abraçando minhas pernas começo a chorar, com saudades da minha mãe, preocupada com Cecília e sabendo que o retorno do meu pai se aproxima, tendo ainda que terminar aquela conversa com Esteban e agora mais essa descoberta de Jorge!
Ah!
Minha cabeça está um caos! Preciso pôr cada coisa em seu lugar e resolver uma por uma...

Depois de muito pensar durante aquele banho, decido qual será a primeira. Ponho o vestido amarelo, penteio meu cabelo molhado, pego uma maçã que havia caído da cesta e vou atrás de Esteban.
Espera! A cesta de frutas!
Sabia que já o tinha visto! Agora lembrei! Foi Cecília quem a teceu. Eu a vi com ela quase pronta nas mãos num dos dias em que eu os espiei na praia. Ela deve ter dado ao seu querido ex-namorado.
Caramba!
Como Jorge teve coragem de trazê-la para nós? Para mim? A cada hora que passa, me surpreendo mais com ele. E não está sendo da maneira que eu gostaria...

Ilhada - A ilha que habita em mim (LIVRO COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora