Razões e Emoções

417 47 31
                                    

Notas iniciais:

Voltei!
Gostaria de avisar que estou usando os livros dos Guardiões como base dessa fic, além do filme, então algumas coisas podem ficar confusas por ora, mas irei explicar a história da origens deles aos poucos, conforme forem surgindo oportunidades.
Desde já agradeço sua leitura!

_______________________

Aster não sabia o que era pior: Seus amigos estarem considerando a idéia ou Jack, Jack, estar a propondo. Depois de tudo que Pitch fez, desde a extinção quase completa de seu povo aos eventos do último combate... ele era incapaz de entender como os outros podiam sequer cogitar a hipótese de aproximação. Até mesmo Sandy que foi "morto" por ele estava reconsiderando.

-- Vocês não estão falando sério. -- O pooka riu histericamente, torcendo as orelhas. -- É o Pitch, galera. O Guardião dos Pesadelos. O cara que matou Sandy, que matou meu povo! Vocês não podem conceder uma aproximação. 

-- Mantenha seus amigos perto, e seus inimigos mais próximos ainda. -- Norte falou, com seu sotaque russo. -- Você já deve ter ouvido isso, Bunnymund. 

Ele iria retrucar. Gritar se fosse preciso, caso não o ouvissem. Jack o encarava, com uma pontada de desapontamento que fez Bunny engolir o que quer que fosse dizer. Iria perguntar para aquele pedaço de gelo o quê ele tinha na cabeça ao propor aquilo quando Norte o arrastou para seu escritório.

-- Ele matou meu povo, Nick! -- Falou assim que o amigo fechou a porta. -- Você também viu as inúmeras atrocidades que ele cometeu. Sandy quase se foi por culpa dele. E agora o querem entre nós?

-- Ele não será do nosso círculo, Bunny. -- A voz do Guardião da Maravilha estava mais calma, compreensiva até. -- Mas se o deixarmos por conta própria como da última vez, só saberemos dos seus ataques quando eles estiverem em ação. 

-- Essa ainda é uma péssima ideia. -- O Coelho da Páscoa se sentou, finalmente. Ser pego de surpresa por Pitch podia ser pior que conviver com ele. Não podia colocar as crianças em risco outra vez.

-- Você também achava que Jack era uma péssima escolha, amigo. 

-- É diferente. -- Bunny argumentou. -- Ele podia parecer um fanfarrão irresponsável, mas nunca fez mal a nenhuma criança. -- O coelho sabia que estava profundamente errado em seus julgamentos sobre o garoto, mas Pitch já havia provado que não era bom.

-- Você conhece a história de Pitch, assim como eu, Bunnymund. -- Norte coçou a barba. -- Sabe que ele foi um herói, assim como Jack foi para nós nessa última aventura. Sabe que ele amava a filha acima de tudo, assim como Jack amava sua irmãzinha. Sabe que ele se perdeu ao libertar os Pesadelos da cela para salvá-la, assim como Jack morreu para salvar a irmã. -- Ele o encarou nos olhos, algo como pesar brilhando neles. -- Jack passou trezentos anos sozinho, sendo desacreditado e vagando sem propósito, sem memória, sem nenhum afeto. Quem sabe que caminho ele teria tomado nos próximos trezentos anos se o Homem da Lua não o tivesse convocado?

-- Jack é bom, Nick. -- Aster não acreditava no que estava ouvindo. Como Norte podia pensar uma coisa dessas do garoto?

-- Eu sei que é. Mas a situação faz o ladrão, não é? -- Ele coçou os olhos. Devia estar cansado com toda essa correria do Natal, Bunny conhecia muito bem essa situação. -- Pitch também era bom, uma pai amoroso e um marido devoto. Mas olha que caminhos tomou. Não precisamos mantê-lo conosco aqui, acredito que nem ele queira, mas supervisioná-lo ás vezes? Relatórios quem sabe? Você ouviu o que Jack disse.

Bunny lembrava. Estava tão atordoado com a revelação do garoto que prestou atenção em cada palavra, para garantir que não fosse uma pegadinha do Guardião da Diversão. Não há sonhos bons sem pesadelos, assim como não há alegria sem tristeza. E os pesadelos são úteis para as crianças quando bem dosados, as ensinam a não falarem com estranhos, a não fazerem coisas erradas. 

--Você sabe como o medo é um instinto primário para a sobrevivência, Bunny. -- Norte continuou. -- Eu sei que ele cometeu erros no passado, todos nós cometemos alguns. Claro que não tão graves. -- Ele acrescentou rapidamente. -- Mas deixar Breu sozinho com seus Pesadelos não é uma boa ideia. Você sabe como ninguém como é estar sozinho.

-- Por culpa dele! -- Ele se exaltou de novo, mas abaixou o tom rápido. -- Ainda não estou de acordo com isso, mas já que sou voto vencido, vou deixar bem claro que irei matá-lo eu mesmo caso ele saia da linha.

-- Não esperava menos de você, velho amigo. -- Norte sorriu para ele, o tipo de sorriso que prometia confusões.








A reunião continuou com um clima pesado. Tooth tentava manter assuntos amenos com todos, mas assim que Norte voltou para a oficina e Sandy foi espalhar bons sonhos pelo mundo, ela tomou isso como o encerramento da noite, se despedindo dos Guardiões restantes com um pouco de receio por deixá-los sozinhos.

-- O Breu, Jack? -- Bunny não conseguiu se segurar. Jack estava na varanda, encarando a noite de costas para o Coelho da Páscoa. Ele deu um suspiro ruidoso enquanto o pooka se aproximava, se apoiando no beiral ao lado dele. Jack estava calado demais para seu gosto, então moderou o tom ao continuar. -- Eu só quero entender o porquê disso agora.

Jack o encarou de canto, dando um impulso e se sentando no beiral. Bunny já se acostumara a ver Jack brincar com a gravidade, quase nunca o vendo com os pés no chão de verdade.

-- Eu posso sentir meus poderes aumentarem. -- Ele não o encarava, mesmo que estivessem quase frente a frente. -- Desde que eu me tornei Guardião, eles tem aumentado e isso me deixa louco ás vezes. -- Ele deu de ombros. -- É difícil manter o controle o tempo todo. E como Guardião da Diversão, nos momentos em que perdi o controle, eu pude sentir a magia da alegria fluindo de mim, pude sentir o que faziam as pessoas felizes ao redor do mundo. -- Um sorriso pequeno nasceu no rosto dele, mas logo morreu. -- E eu senti quando a magia fluiu por Pitch. Quando ela... quando ela passou por ele. Eu senti o vazio. Nem uma centelha de alegria sequer. -- Ele o encarou, e Bunny nunca o viu tão sério. -- Eu estava treinando meu controle esses dias. Pedi conselho a Sandy, e ele disse que a melhor maneira disso é usar o oposto dos meus poderes, absorvendo o frio e deixando o calor se espalhar. Ou foi isso que eu entendi. Ainda estou aprendendo a ler ele. 

Os dois riram baixinho. Aster continuou o encarando, querendo ouví-lo.

-- Eu absorvi o frio, deixando o calor se espalhar pelo lago e a floresta. -- Ele encarou as mãos, balançando o cajado entre elas, o capuz quase escondendo seu rosto. -- Eu... eu absorvi a alegria das pessoas que estavam perto. Um casal que corria pela floresta e um guarda. Eu senti o que os deixava triste, então algo me puxou para além. A tristeza do Breu me chamou, e eu me senti... eu me senti tão mal. Eu não podia deixá-lo sozinho, não quando...

Ele se interrompeu, parecendo envergonhado. Jack o encarou brevemente, antes de encarar seu cajado e se levantar. Ou melhor, flutuar. Bunny conhecia essa jogada. Ele ia embora, fugindo da conversa. Mas não dessa vez. O segurou pela manga do moletom antes que ele escapasse, ganhando um olhar de surpresa do menor.

-- Não quando o quê, Jack? 

-- Não quando ele era um espelho meu. -- Ele respondeu sem olhá-lo nos olhos, se soltando dele e se jogando do prédio, alçando vôo antes de encostar no chão. 

As palavras de Jack soaram tristes, sem esperanças. Bunny não podia deixar isso continuar. Esperança era seu cerne, e não podia deixar um amigo sem ela.

___________________
Notas finais:

Agradeço a leitura e até breve!♡

Ao Cair da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora