MARIA (7) Meu eco de dor: prazer para meus pais.

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O fato da presença gritante de ecos do meu sofrimento e de Tótu terem cessado nos corredores da casa, incomodou o pai.

Antonio Bento começou a gritar, procurando o chicote.

Queria bater na gente.

A mãe acordou e subiu as escadas rindo.

Achou que havíamos morrido.

O silêncio ensurdecedor que permaneceu no ar, após o fim do choro dos filhos, fez o pai desejar acordar a gente a base de couro.

Aquele abrutalhado subiu escadaria acima gritando:

"Se morreu eu vô recussitá os dois na base da chibatada!".

O seu desejo era manter o som de desespero no ar.

O nosso choro, para ele, era um tango argentino que lhe tranquilizava.

O sofrimento dos outros sempre lhe lembrava esse estilo musical.

A consternação alheia lhe dava prazer, lhe realizava, lhe excitava.

Já para mãe, era como se o som de uma harpa lhe adormecesse.

Subiram os dois, mas com expectativas diferentes.

O pai não aceitava nosso fim.

A mãe, ao contrário, queria ver nossos corpos rígidos na cama.

O olhar de decepção dos dois, ao abrir a porta, foi tão transparente quanto uma janela que está à espera de vidros a serem postos.

O quadro que viram, nenhum pintor, por mais contemporâneo e realista que fosse, pensou em pincelar.





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E se merecer, uma estrelinha.

Trágica Família (Parte 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora