Tótu e os olhos que vigiam todos os movimentos da casa pelas frestas das telhas é que me fazem companhia.
Não preciso de outras.
Aqueles olhos miúdos, além de não permitirem que eu me sinta só, ainda me protegem.
No cômodo onde estão elas, o pai não entra.
Por isso sempre deixo alimentos espalhados pelo meu quarto e no de Tótu.
Pra amamentar sossegadamente meu irmão, eu ocupava o porão da grande casa.
Lá também tinham comidas espalhadas para alimentar minhas protetoras.
Jogava palhas e tecidos velhos para elas fazerem sua morada.
Nem o pai e nem a mãe gostavam de entrarem naquele cômodo.
A mãe tinha nojo e o pai medo.
...
Uma dor forte me corta o ventre.
Ela me relocaliza no verdadeiro lugar em que estou.
Não estou amamentando Tótu no porão.
Até mesmo porque meu irmão já está crescido, caído e no meu colo.
Não ocupo a casa das minhas amigas, mas a sujeira instalada naquele ambiente fede tanto quanto a casa das minhas defensoras.
...
Deitada estava eu.
Alagava o chão com o fluido amniótico que saia do meu âmago.
Meu Deus, eu ainda continuo esperando a vinda da nova vida que gero no ventre.
Tento estancar o sangue que sai da cabeça daquele que semeei leite do meu seio na sua fragil boca ifantil.
Tenho esperança de que vou conseguir evitar que seu sangue saia de seu corpo.
Me esforço muito para não permitir que sua vida se esvaia.
E ali, nas frestras das telhas, continuam aquelas que me protegem:
Se descerem eu fico tranquila.
Sei que o pai, ao acordar, não me será ameaça se elas estiverem perto.
Sua fuga será natural.
Me distraio com minhas amigas.
Divago temporariamente e me distancio daquela real situação em que vivo.
...
Uma respiração ofegante vinda de Tótu, que estava em meu colo, me resgata para o chão da sala.
"Está vivo!"
Gritei de alegria quando vi seu ensaio de olhos se abrindo.
Tanto fez, para os outros, que ele estivesse morto.
Quem se alegrou, e muito, com a notícia foi o habitante em meu útero: Salta eufórico como se tentasse dar forças para que Tótu recuperasse a razão.
...
Finalmente aquele anjo portador da minha salvação se mexeu.
Estava estático à espera do resultado daquela balbúrdia.
Chegou abruptamente após o pai ter me acertado.
O estrondo da sua arma lançou o projétil em direção ao pai, para salvar aquela família de uma tragédia.
A bala forçou os músculos e adentrou o corpo daquele corpo, pena não ter se alojado nos tecidos de pai.
"Vou buscar ajuda!"
Os gritos dentro da minha mente circulavam por minhas veias acompanhadas das dores da contração que nem consegui identificar sua voz.
Se fosse a onomatopeia de algum animal também não reconheceria qual era.
Minavam água em meus olhos.
Via tudo embaçado.
Inclusive ela.
...
Totú agora fecha os olhos.
Mesmo os meus estando completamente opacos pelas lágrimas, percebo que meu irmão está acordado e agradecendo as boas vindas que meu filho lhe dá.
_____________________________________________E ai? mereço a sua estrelinha agora?
Pode deixar a sua opinião sobre o que achou desse capítulo, viu?
Estou ansioso por sua participação nas minhas outras obras.
Agradeço de coração que esteja me seguindo e também por ler minhas singelas escritas!
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Trágica Família (Parte 1)
General FictionSINOPSE: Quatro pessoas de uma família (um filho, uma filha, um pai e uma mãe) encontram-se instalados no chão da sala de sua casa. Algo grave aconteceu com eles e cada um, antes de apagar os olhos, relembram os momentos da vida que os conduziram n...