MARIA (9) Calombos cresceram na pele mas não senti a dor.

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O fato de minha mãe ter posto à prova a "sua macheza", a dúvida de meu pai não permaneceu muito tempo no ar.
Como se tivesse um imã, o chicote retomou a sua mão esquerda, aquela que ele tinha mais força.
Eu só tive tempo de fechar os olhos para sentir o lombo doer e os calombos crescerem.
Emborquei-me por inteiro sobre a criança para que não fosse ela a tê-los
Coloquei Tótu protegido pelo meu dorço.
Em tão curto espaço de vida, não merecia as dores da carne, já que as da fome, tão precocemente lhes eram comuns.
Aguardei as chibatadas.
Foram firmes e pesadas.
Ouvi-as tocar violentamente em alguma pele, mas não me acertavam.
Gritos se perdiam no ar, mas não eram os meus.
Lágrimas correram no rosto e lavaram magoas que não eram minhas.
Após gastar toda a força que pôde no seu ato de violência, virou se para mim e disse com uma certeza amedrontadora.
"Ocê que pensa que esse corpo é seu, ocê que pensa!".
Dali em diante assim se sucedeu.
Para saciar a fome de macho bravo, os hematomas em mãe eram troféus.
Para saciar a fome de homem, os meus hematomas habitavam minha alma e seus prêmios eram conquistados nas surdinas dos cantos escuros da casa.
Eu tinha que dormir com a porta do quarto entre aberta, para caso do "Tôro" acordar com fome, e ter que matar os seus desejos do corpo.

Uns roubam a dispensa, meu pai me assalta a paz.



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Espero suas percepções, viu? 

E se merecer, uma estrelinha?

Valeu!

Trágica Família (Parte 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora