Capítulo 26 - nightmares

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'Talvez eu esteja apenas queimando, mas superei. Acho que deveríamos encontrar um lugar feliz para sonhar."
Nightmares - Brother Sundance

...

Mal havia conseguido dormir nesses últimos dois dias com tanta informação que se passava pela minha cabeça. Fiquei sonhando acordado por horas, durante todo o final de semana, tentando me convencer que tudo que havia acontecido era realmente real e não minha cabeça querendo me pregar uma peça. Apesar de que eu nunca demonstrei ser muito sonhador no quesito imaginar situações irreais.

Ainda deitado, desbloqueio o celular e uma luz forte surge em minha frente me fazendo fechar os olhos instantaneamente. Quando consigo reabri-los noto que estava cheio de mensagens da Amy, ela deve estar enlouquecida porque não a respondi ontem e não falei muito com ela depois que sai de sua casa. Ela não insistiu tanto, acredito que estava dando meu espaço, ela sabe que fez algo que eu não aprovo, mas não estou chateado com ela. Respondo sua mensagem avisando que na universidade a gente conversa melhor. Ela não vai ficar sossegada, mas deve ser o suficiente para que ela não insista mais. Amy ama edificar na história dos outros. Não julgo.

Me arrumo rapidamente para que consiga tomar um café da manhã reforçado, estava com muita fome e as aulas hoje serão cansativas. E talvez hoje fosse o dia que eu conseguiria ter alguma informação em mãos sobre o que o Lucas estava planejando fazer com seu colega. Essa é a oportunidade perfeita para fazer com que ele sinta pelo menos metade do que eu senti naquela noite. Digo, o que ele me fez sentir.

Pego uma caixinha de madeira que estava dentro da minha gaveta de meias, bem lá atrás. Seguro na mão o cordão que estava dentro e coloco no meu pescoço. Caminho até o espelho do banheiro e observo aquele pingente novamente no meu pescoço. Sorrio involuntariamente ao entender o motivo genuíno pelo qual eu havia ganhado o pingente com a letra "T". Naquele momento não consegui usar por mais de um dia, espero poder usar por muito tempo agora.

Ao descer encontro minha irmã que já estava na cozinha comendo pão integral assado, com geleia e iogurte natural. Olhando de fora ela pode parecer muito fitness, mas quase sempre a noite ela come um hambúrguer duplo ou uma pizza. É sobre equilíbrio, certo?

- Bom dia! - digo ao chegar na cozinha.

- Bom dia. - Ela responde. - Fiz suco mais cedo, caso queira.

Abro a geladeira e lá estava a jarra com suco de maracujá. Eu amo suco de maracujá. Pego o suco e duas fatias de pães e me sento na bancada junto a ela.

- Com quem você veio sexta à noite para casa? - pergunta Mel.

- Um amigo! - respondo sem dar muitos detalhes.

- Esse amigo tem nome? - insiste.

- Ainda não foi registrado. - Falo ironicamente enquanto passo um pouco de geleia de uva no meu pão.

- Por que está tão ríspido? Escondendo algo? - nossa ela estava fora do normal.

- Não estou escondendo absolutamente nada. - Respondo. Não estava escondendo nada, só não queria falar naquele momento.

- Por que ela acha que você está escondendo algo? - pergunta minha mãe entrando na cozinha. Agora completou, irei participar de um interrogatório.

- Mas eu não estou escondendo nada. - Digo firme.

- Filho, se algo ou alguém estiver te incomodando você pode falar conosco. Sabe disso, certo?

- Eu sei mãe, mas não está acontecendo nada demais. Juro. - Falo quase suplicando para encerrarem o assunto de uma vez.

Por sorte ninguém insiste mais no assunto. Não acho que era o momento para falar algo sobre o que aconteceu. Primeiro preciso entender, me resolver e resolver tudo com o Thomas. Éramos amigos inseparáveis, acabou que nos afastamos, e agora somos... Bem, somos duas pessoas se reconectando, talvez seja isso. Então não acho que eu precise falar sobre algo que não estou preparado ou totalmente confiante.

Saio de casa após lavar a louça suja do café. Amy havia me mandado mensagem alguns minutos atrás avisando que já estava no caminho da Universidade, e queria me ver antes de começar as aulas do dia. Acredito que ela esteja se matando de curiosidade. Enquanto caminho até lá, muita coisa passa pela minha cabeça, o ocorrido de sexta, como as coisas estavam se encaminhando novamente para fora do meu controle. E por alguma razão isso não me assustava tanto quanto semana passada.

Eu precisaria despistar Amy na hora do almoço de alguma maneira. Preciso fazer isso sozinho. Preciso ter minha consciência tranquila, e só conseguirei viver em paz se eu conseguir o que quero em relação a isso. Talvez se eu conseguisse gravar o que eles estavam pensando em fazer, seria uma ótima prova. Eu precisaria ter muito cuidado, mas vale o risco, certo?

Chego na entrada principal da Universidade e Amy já está em um dos bancos, digitando no celular. Posso apostar qualquer coisa como ela está me enviando repetidas mensagens de texto no WhatsApp. Me aproximo e me sento ao seu lado.

- Nossa, achei que não chegaria para as aulas da manhã. Já estava te mandando mensagens. - diz parecendo impaciente. Eu disse!

- Para que a pressa? Quem vê de fora até vai achar que você gosta muito de estudar. - Falo sorrindo.

- Ei! Eu sou uma ótima aluna. - diz parecendo ter orgulho de si mesma. - Só não curto acordar cedo, é diferente.

Realmente ela era uma ótima aluna. Tinha um comportamento em sala as vezes um pouco duvidoso, sim ela tinha. Mas suas notas sempre foram excelentes e sua dicção apresentando um seminário era perfeita. Ela tem o dom da palavra.

- Então, vamos indo? - falo me levantando e pondo a bolsa nas costas novamente.

- Antes disso você precisa me contar o que houve na sexta-feira depois que saíram da minha casa. Ou melhor, pode contar no caminho. - disse se levantando rapidamente.

Saímos um do lado do outro caminhando para o nosso bloco de aulas. A Universidade era razoavelmente grande, os blocos eram bem separados, então tínhamos uma boa caminhada sozinhos.

- Você sabia sobre a mãe do Thomas? - pergunto. Eu estava caminhando cabisbaixo.

- Soube um tempo depois que você foi embora. - Responde. - Eu queria muito poder te dizer, mas não tive como. Você sabe, perdi totalmente o contato. - Ela respira um pouco antes de continuar a explicar. - Depois de alguns meses sem você dar notícias, ele me pediu para que não te comentasse nada, quase me suplicou, na verdade. Ele ficou triste com o que aconteceu contigo, e extremamente magoado com seu sumiço. E como eu não tinha notícias suas, e estava chateada também, apenas segui minha vida.

- Eu entendo. Eu também não iria querer conversar ou falar sobre algo tão pessoal da minha vida com alguém que escolheu sair ela. - Digo sendo sincero. - Eu sinto tanto Amy por ter tomado a decisão que tomei, de me afastar de vocês.

- Eu sei que sente. Mas tudo isso já passou. - diz tentando me animar. - E vocês se resolveram?

- Hum... tecnicamente sim. Conversamos bem pouco, na verdade. Acho que não precisamos nos apressar tanto. Não vamos voltar a ser o que éramos da noite para o dia. - Coço a garganta um pouco. - É complicado, não é como eu e você.

Era realmente muito diferente as situações. Ele havia me beijado e eu havia gostado. Alguns sentimentos que estavam guardados foram despertados. Então não se tratava mais só de amizade, tinha algo a mais na história. E eu precisava entender bem o que era que eu estava sentindo, entender bem o que ele estava sentindo, e entender se esses sentimentos tinham alguma conexão válida.

- Eu sei que não. - disse um pouco pensativa.

- Amy, você sabe de algo mais sobre o Thomas? Digo, em relação ao que ele anda sentindo sobre mim. - Pergunto.

- Dam, isso você tem de perguntar a ele. Eu sei que sou intrometida, mas eu conheço alguns limites. Acho que se você tem alguma dúvida deve perguntar diretamente. É o mais correto a se fazer.

Ela tinha razão. É o que eu deveria fazer no final das contas.

enquanto houver razões (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora