Capítulo 8 - only hope

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"Quando parecer que meus sonhos estão tão longe, cante para mim novamente os planos que você tem para mim."
Mandy Moore - Only Hope

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· Abril de 2018

Eu definitivamente não queria uma festa a fantasia, mas depois de muita insistência da Amy de que seria uma boa ideia, resolvi fazer uma festa temática dos anos 80. Eu gostava de tudo que era retrô e toda a musicalidade da época, pelo menos me sentiria a vontade na minha própria festa.

Claro, quando falo que gosto de tudo retrô me refiro à moda, música, cinema e expressões artísticas de um modo geral. Eu reconheço e entendo que século passado tudo era mais complicado em relação a sexualidade, machismo e opressões com grupos que são minorias. Então apesar de amar a vibe vintage, eu reconheço que não gostaria de viver naquela época.

Minha roupa estava pronta e já que o Lucas me chamou para sair hoje, irei aproveitar a deixa para passar na costureira e pegar, já que amanhã o dia será bem corrido. Ele me mandou uma mensagem logo cedo falando que gostaria de sair comigo hoje, porque amanhã terei que dar atenção à muitas pessoas, que teria de me dividir com outros. Dramático?

Ele me pediu para que eu o encontrasse na pracinha que ficava próximo a minha casa por volta das quatro da tarde. Era perfeito, já que provavelmente o Thomas e a Amy viriam aqui a noite.

– Onde você vai todo arrumadinho assim? – pergunta Mel enquanto tento sair de casa sem ter que explicar nada.

Não é como se fosse segredo meu encontro com o Lucas, porque realmente não existe segredo nisso, mas eu ainda era um pouco tímido quanto a isso ou qualquer coisa que envolvesse meus sentimentos.

– Vou sair. – Respondi tentando fazer com que ela não insistisse em perguntar mais nada e como esperado, foi sem sucesso.

– Sair com Amélia e Thomas? – eu sei o que ela está esperando que eu diga.

– Não! – definitivamente ela não irá me deixar sair sem antes saciar sua curiosidade. – Vou encontrar o Lucas. – Ela me venceu.

– Logo vi, seu sorrisinho durante o almoço mexendo no celular entregou tudo. – Ela parecia satisfeita por ter conseguido uma resposta.

– Mas eu não tinha nada a esconder, como poderia ter entregado algo? – argumentei. – E não quer dizer que eu estava sorrindo por algo relacionado a ele, certo? Meus amigos me fazem rir também, memes do twitter me fazer rir muito mais. – Defendo-me.

– Sim, mas existem diversos tipos de sorrisos, e aqueles não eram sorrisos de memes e de conversas com amigos. – disse rindo. – Você só sorri assim quando está apaixonado ou quando está com o Thomas. – Agora ela estava começando a me provocar.

– As vozes da sua cabeça estão te deixando cada vez mais alucinada. – Falo.

– Só toma cuidado, certo? Não quero que se machuque. – Agora ela falava em um tom menos sarcástico. – Ansiosa para conhecer meu cunhado amanhã. – falou sorrindo e arqueando a sobrancelha direita.

– Mel!!! Você não consegue ficar sem me provocar? – digo me apressando para sair antes que ela decidisse me provocar mais. E ela conseguiria.

Havia algumas pessoas fazendo caminhada na pracinha com suas roupas leves e tênis, outras em um tipo de zumba ao ar livre, e algumas andando de patins com aqueles acessórios de proteção que eu acho incrivelmente legal. Eu nunca consegui andar direito de patins, já que eu sou um pouco desastrado... Tudo bem, sou bastante desastrado. Mas quem, não é?

Sento-me em um banco que havia próximo a uma árvore e pego meu celular, e marcavam 16:05, deveria me preocupar ou é comum? Antes mesmo que eu pudesse pensar sobre isso alguém para bem na minha frente e enxergo apenas o patins próximo aos meus pais.

Levanto a cabeça devagar e lá estava ele com um sorriso no rosto. Fico alguns segundos estático admirando a beleza em seu rosto e o quão aquele sorriso era cativante. Ele me estende a mão e para que eu segurasse.

– Está parado por quê? Vamos! – disse ainda sorrindo me fazendo sair de meu transe.

– E para onde vamos com você assim? – digo um pouco confuso. Espero de verdade que ele não esteja pensando em me fazer andar de patins porque eu não quero passar essa vergonha na frente dele.

– Vamos andar de patins! – disse pegando na minha mão para me fazer levantar.

– A não vamos mesmo, preciso estar vivo amanhã, lembra? Meu aniversário e é bem importante que eu esteja lá. – Digo um pouco apreensivo.

– Não tem desculpa Dam, se você for cair eu te seguro igual aqueles típicos clichês adolescente. – disse piscando.

Sim, eu estava literalmente surtando por dentro. Como isso era possível? Um cara como ele, gostar assim de um cara como eu, sem muitos atrativos.

– Parece que estou preso em um dorama. – Tento fazer piada da situação.

Eu já sabia que não ia vencer essa discussão, por isso nem questionei muito. Ele já estava com tudo pronto, patins, capacetes, joelheiras e cotoveleiras, como se já soubesse que eu aceitaria. Sou tão previsível assim?

– Estou parecendo uma criança com todos esses EPI's. – Digo forçando um sorriso para não parecer que estou com medo de me levantar.

– Está ótimo. Você comentou uma vez que nunca conseguiu andar de patins, e como amanhã é seu aniversário gostaria de fazer algo por você, que não fosse apenas um objeto, algo que fosse realmente significativo. – Ele falava com a voz mansa enquanto me levantava, escutar o que ele falava me fazia esquecer de onde eu estava e nem ao menos perceber que eu já estava em pé sozinho.

Era incrível o que ele estava fazendo, tentar realizar um sonho meu de criança que eu não havia conseguido até então. Parecia o Landon Carter realizando os sonhos da Jamie Sullivan em Um amor para recordar. Tão clichê quanto. E eu não me importava nem um pouco com isso, eu só estava curtindo o momento, sem medos e frustrações. Talvez nervoso e com um pouco de insegurança, não seria eu se não tivesse certas inseguranças. Apesar de estar nervoso, me permiti confiar nele ao ponto de deixar de lado todo medo e receio de dar tudo errado para apenas aproveitar esse momento único. Ele segurava minha mão para que eu desse uns passos, as vezes até em minha cintura, me fazendo arrepiar com o toque gelado de sua mão.

A tarde com ele foi incrível, depois de muitas tentativas eu finalmente consegui dar uns passos de patins sem cair e sem que ninguém me segurasse. E quando digo ninguém eu me refiro ao Lucas. Ele prometeu me trazer mais vezes até que eu pudesse andar livre e sem medo.

Ele conseguiu, conseguiu fazer com que esse momento fosse único e especial, e eu jamais irei esquecer disso.

enquanto houver razões (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora