"Aprendendo a andar de novo, acho que esperei o suficiente. Por onde começo?"
Foo Fighters - Walk...
Já passava do meio dia e eu ainda estava deitado. Não tinha ânimo para levantar-se, nem para comer ou até mesmo para ver alguém. Minha mãe e minha irmã insistiram algumas vezes para que eu conversasse com elas, ou saísse do quarto, mas sem sucesso. Era difícil ter de encarar a dura realidade de que eu fui motivo de piada na frente de todos aqueles que me conhecem, e principalmente daquele que eu tinha criado um carinho especial.
As lembranças do ocorrido ainda são como um pesadelo, difícil de acreditar. A memória desse dia, que tinha tudo para ser o melhor, me assombrava sempre que eu fechava os olhos. Era difícil, muito difícil, lembrar de ontem sem querer sumir. Meu corpo pede ajuda, meu coração quer aconchego, mas ao mesmo tempo eu quero ficar sozinho.
Eu não entendo o motivo de tal piada, não sei o porquê de terem feito isso comigo. Pensar em todos os dias que passamos juntos e tudo que ele me falou e me fez sentir, era tudo farsa o tempo todo? Eu estava sendo enganado desde o início? Mas por quê?
Minha cabeça doía ao pensar em todas essas incógnitas que ficaram sem respostas. E mesmo que houvesse respostas, nenhuma delas justificaria tamanha crueldade. Porque eu não me lembro de ter dado motivos para isso, disso eu tinha certeza. Meus olhos estavam secos de tanto chorar.
Passei o resto do dia fitando os móveis do quarto, as paredes e o teto. Pensando em diversos motivos para ele agir assim. Nada fazia sentido. E por mais que eu tentasse parar de pensar a respeito, parar de colocar a culpa em mim, eu não conseguia. Mesmo sabendo que eu não estava errado. Mas era como se eu estivesse. À tarde Amy tentou entrar em contato comigo, mas eu não quis recebê-la. Minha mãe tentou de todas as formas que eu conversasse com ela, porque ia me fazer bem, mas eu não quis vê-la. Não queria receber ninguém.
Eu a vi chorando com minha irmã no sofá da sala, o que me fez ficar mais triste ainda. Odiava ver ela triste, e saber que é por algo relacionado a mim me parte o coração. Caminhei até a sala a passos curtos e calmos até o sofá onde elas se encontravam.
- Mãe! – a chamei com a voz trêmula tentando não chorar novamente. Mas minha tentativa foi falha. Eu voltei a chorar, muito, era como se tudo tivesse vindo à tona novamente e eu tivesse sentindo aquele medo e vergonha novamente.
- Oi amor. – respondeu ela me puxando para o sofá e deitando minha cabeça em seu colo. Enquanto minha irmã sentada ao seu lado, alisava meu cabelo. – Não chore mais, vai ficar tudo bem. Estamos aqui com você. – disse ela. Quanto mais ela tentava me acalmar, mais eu caia aos prantos.
- Dam! Eu sei que é difícil..., mas você vai sair dessa. Estamos aqui por você. – falou Mel.
- Eu só não entendo por que... – tentava falar. – Por que eu? – mal conseguia terminar uma frase.
- Tenta não pensar nisso, você não fez por onde, isso eu tenho certeza. – Dizia Mel. – Essa brincadeira é coisa de gente sem coração que não merece nem atenção, quanto mais suas lágrimas.
- Eu não quero mais voltar lá. – Dizia já mais calmo. – Não quero ter de encarar todo mundo depois do que houve, também não quero mais ver essas pessoas... Não quero ser motivo de chacota de mais ninguém.
Era complicado pensar em como seria as coisas daqui para a frente, em como eu encararia todos que estavam presentes, em como eu seria o assunto do momento. E todos falando sobre o corrido, sobre minhas intimidades. Que não dizia respeito a ninguém, mesmo assim estaria todos comentando sobre. Isso me deixava ainda mais perturbado. Sempre fiz de tudo para manter certa distância da minha vida pessoal daqueles que estudavam comigo, daqueles que não mereciam minhas particularidades.
- Vai passar meu amor, logo eles esquecem. – Minha mãe tentava me convencer.
- Não mãe. Não quero ter de voltar lá. Por favor. – Pedia em tom de súplica. – Me leva para longe daqui. – Começava a chorar novamente.
Estava convencido que não queria ir lá novamente. Preferia passar os restos dos dias no meu quarto, sem estudar, sem ver ninguém, do que ter de encarar todo mundo frente a frente. Pelo menos não nos próximos anos. Eu estava fraco, e permaneceria assim por um longo tempo.
...
Havia se passado alguns dias desde o ocorrido, e eu consegui convencer minha mãe a me deixar morar na casa de minha avó, que ficava a algumas horas de distância de nossa cidade. Lá eu poderia estudar e reconstruir uma vida. Seria difícil ter de me acostumar a ficar longevidade da minha família e meus amigos... Bem, os que sobraram. Mas seria necessário. Foi difícil convencer ela, mas minha avó conversou bastante e ela resolveu me apoiar. Afinal, eu não poderia ficar o resto dos dias trancado dentro do meu quarto. Isso não ia me fazer bem.
Minha mãe havia conseguindo uma vaga para mim em uma escola boa lá na cidade de minha vó, e eu teria de ir o quanto antes. Já que as aulas já haviam começado e eu não poderia faltar muito, senão perderia todo o ano.
Não sabia se deveria contatar Amy e Thomas antes de ir. Principalmente o Thomas que não havia me procurado, nem deixado algum recado. Pode parecer egoísta de minha parte cobrar isso sabendo que eu não o atenderia como fiz com a Amélia, mas saber que ele me procurou e se preocupou comigo era suficiente. Eu acho que não conseguiria vê-los, com certeza ficaria pior. Seria mais fácil eu falar com eles depois que chegassem lá, talvez eles não quisessem falar comigo depois disso, mas se forem meus amigos eles entenderão o meu lado.
Ainda sim deixei enviei uma mensagem para a Amélia do celular da minha irmã antes de sair, já que o meu eu não estava usando. Disse que precisava desse tempo e que iria carregar ela comigo no meu coração. Pedi perdão por ter de ir assim, mas que era necessário para mim.
Eu sei que iria me dar bem com minha avó e minha tia, que moravam juntas com minha prima, um pouco mais velha que eu. Minha mãe e minha irmã estavam chorando muito por ter que me deixar ir mesmo sabendo que nos veríamos sempre, para elas era como se não fossem me ver nunca mais. Confesso que fiquei muito mal também, mas precisaria mostrar força, já que era o que eu havia escolhido. Era o melhor a ser feito. Eu precisava disso. Me afastar para que eu pudesse me encontrar novamente.
~ Nota do autor ~
Bom gente, aqui acaba a primeira fase da história e tudo vai se redesenhar. Espero que estejam gostando. Com carinho, Rô.
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enquanto houver razões (romance gay)
Romance"Algumas vezes somos colocados diante situações difíceis que nos farão ter de escolher entre a razão e a emoção. Por sorte eu escolhi a opção certa e não vou abrir mão da minha escolha. Eu sou o Adam, não o Adam que costumava ser, sou um novo Adam...