Capítulo 14 - cough syrup

208 29 9
                                    

"Estou perdendo a cabeça perdendo a cabeça perdendo o controle."
Young The Giant - Cough Syrup

...

Thomas continuou parado na minha frente sem falar nada, assim como eu. Esses segundos que ficamos calados pareciam uma eternidade. Pude notar nessas frações de segundos que ficamos em silêncio que ele estava incrivelmente mais bonito e com as feições mais sérias. Senti uma vontade incontrolável de chorar ali na frente deles, mas me segurei o máximo que eu pude. Estar ali com ambos era como se estivesse voltado no tempo, como se fossemos crianças ainda.

– Não sabia que tinha voltado. – disse ele rompendo a tensão do silêncio que pairava ali.

– Voltei esses dias. – Me resumi em falar apenas isso.

– Seja bem vindo de volta. – falou com um sorriso simples, mas que parecia sincero e ao mesmo tempo triste. – Bem, tenho que ir.

– Já? Não vai se sentar com a gente? – perguntou Amy.

– Melhor deixar para um outro momento. – disse ele se despedindo e saindo.

Tenho que confessar que fiquei bem triste pela tensão que se formou e por não ter sido igual o reencontro que tive com a Amy. Mas talvez tenha sido melhor assim, só reafirmou minha teoria de que se ele se importasse faria questão. E não fez.

– Por que tão frio com ele? – pergunta Amy.

– Ah, não sei... Talvez tenha sido impulso de Ariano. – Dei de ombros.

– Você não deveria tratar ele com indiferença. – falou. – Ele é nosso amigo, tão amigo quanto eu e você.

– Claro, não é à toa que ele está aqui conosco. – disse em tom de ironia.

– Você está sendo injusto. – Eu não queria, mas não consegui segurar minha risada de deboche depois dela ter falado isso.

– A vida é injusta, não é mesmo? – disse. – E não quero mais falar sobre isso. – Espero que ela me escute e não continue insistindo em conversar sobre esse assunto.

– Você que sabe, mas depois não diz que eu não avisei.

Ficamos deitados lá mais um pouco. Não falei muito depois do acontecido com o Thomas e, mesmo sendo um pouco sem noção, ela respeitou meu momento em silêncio. Acho que ambos havíamos crescido e mudado em alguns quesitos.

Lembrei do que minha mãe falou sobre não guardar rancor, mas era impossível não ter nessas situações. E não me importava em deixar prevalecer esse sentimento.

Ao término das aulas, caminhava sozinho por um dos corredores que ligavam os blocos a área de saída da faculdade. E de longe vejo o Thomas conversando com o Lucas. Eles pareciam ser próximos, pois pelo que eu notei estavam discutindo algo que parecia sério. Não discutindo exatamente, mas dialogando sobre algo.

Enfim, o fato é que eles estavam juntos. O meu grande amigo – ou ex grande amigo – com o babaca que zombou de mim. Só conseguia sentir raiva e indignação por ver essa cena. Não era algo que eu gostaria de ter visto, mas com certeza me fez relembrar do porquê não devo confiar tanto assim nas pessoas. Fico parado observando a cena, até escutar alguém me chamar. Era a Amy.

– Adam! Ei, Dam. – Dizia ela tentando chamar a minha atenção

– Oi! – Respondi.

– O que tanto olha? Parece até que está só de corpo presente. – disse me fazendo voltar a realidade.

– Estava tentando lembrar onde minha irmã pediu para passar. – Tentei disfarçar, mas ela olhou para a frente e percebeu para o que eu estava olhando.

– Não dá importância a isso. – disse ela, me fazendo direcionar meus olhos aos seus ainda inconformado com as palavras que saíram de sua boca.

– Não me importar Amélia? Como eu não vou me importar com isso? – falava um pouco alterado. – É claro que eu irei me importar, olha quem parece estudar aqui na mesma faculdade que a gente. Você lembra quem é ele e o que ele fez comigo? E ainda com quem ele está conversando. – disse nervoso.

– Claro que eu não esqueci... Thomas não é próximo dele, isso tenho certeza. – Tentava explicar. – E posso garantir que ele não vai lhe perturbar e...

– Quero mais é que me perturbe. – falei soltando uma risada curta. – Alguém precisa colocar ele em seu lugar, e o melhor candidato para isso sou eu.

Eu não conseguia segurar as palavras na minha boca, nem medir minhas ações. Estava com um misto de raiva, indignação, vontade de ir tirar satisfação e ao mesmo tempo de deixar isso para lá.

– Não fala isso poxa, deixa ele de lado. Você não precisa fazer nada que possa se arrepender depois. – Ela tentava me deixar mais tranquilo.

Escutei o que ela falou, mas isso não significa que iria ouvir. Apenas caminhei em direção onde eles estavam, sem pensar nas consequências, sem pensar em como iria me sentir depois ou até mesmo no que iria falar quando chegasse até onde eles estavam. Apenas fui.

Antes de chegar onde eles estavam, o Thomas vira em minha direção fazendo com que o Lucas olhe também.

– Posso participar da conversa também? – digo quando chego fitando ambos. Amy chega logo atrás.

– Adam não faz isso. – Pede o Thomas.

– Escuta ele. – disse Amy.

– Eu soube que voltou... – agora quem falava era o Lucas. – Estava querendo lhe ver mesmo.

– Ah, é? E por que esse interesse em me ver? Deixa-me adivinhar... Por acaso está querendo pedir desculpas e me fazer cair na sua conversa barata novamente?

– Na verdade é isso mesmo. – disse ele me fazendo rir. Sério que ele era hipócrita a ponto de tentar isso mesmo?

– Tinha esquecido como você era engraçado... – usei todo o sarcasmo que consegui no momento. Mas como poderia esquecer, fiz parte do seu espetáculo como a chacota principal.

– Não faz isso com você, Adam. – disse Thomas interrompendo a conversa.

– Então você pode ter papo com ele e eu não posso? – falei ainda mais indignado. Mas tentando não demonstrar muito além de meu sarcasmo. Não era isso que eu queria ter feito, mas já que estava na chuva... – Ah, quer saber?

Nesse momento por puro impulso puxo Lucas com as duas mãos pela gola de sua camiseta e beijo seus lábios. Não era como se eu tivesse sentindo desejo de fazer aquilo, porque eu não estava. Mas minha mente dizia que eu precisava fazer aquilo. Ele não recuou, e demorou um pouco para que começasse a retribuir, e assim que o fez eu me afastei. Limpo os lábios com o polegar e solto um sorriso sarcástico.

– Se eu for para o inferno pelo menos já terei experiência em beijar um demônio. – disse arqueando a sobrancelha direita. – Aproveita que estão os dois juntos e vão se danar. – Falei apontando para o Lucas e depois para o Thomas. Que fez uma expressão que não consegui identificar se era de surpreso ou de desapontamento.

Me doeu muito falar isso para ele, por toda a história que a gente carregava. Mas a esse altura do campeonato eu não me importava mais com nada. Estava cego pela raiva, e isso me fez perder o que eu menos queria perder, o controle. E principalmente desviar do meu foco principal. Ser forte. Não é dessa forma que irei conseguir fazer com que ele sinta na pele a humilhação que senti. E eu não poderia permitir que a razão abrisse espaço para deixar a emoção tomar de conta.

– Você não tem o direito de falar assim comigo. – disse Thomas.

– E você não tem o direito de me dizer o que fazer. – Sai após falar isso.

Amy tentou me seguir, mas pedi para que ela voltasse, estava precisando de um momento para pôr as ideias no lugar. Havia perdido o controle das emoções, e feito o que eu não queria ter feito. Não é dessa forma que você tem de agir Adam, você não pode deixar isso acontecer novamente.

enquanto houver razões (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora