Capítulo 12 - younger now

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"A mudança é uma coisa com a qual você pode contar. Eu me sinto muito mais jovem agora."
Miley Cyrus - Younger Now

...

– Adam?

Era a Amélia. Meu corpo estremeceu na hora, não sabia o que falar, ou o que fazer. Se ia abraçar ela, ou dar um aperto de mão. Ou se ela ia começar a me xingar na frente de todo mundo ali, ou apenas falar como meros conhecidos.

– Oi. – Fiz cara de surpresa. – Nossa, não tinha reconhecido. – Forcei um sorriso, o mais sincero que pude.

Ela se aproxima de onde eu estava, me olha com os olhos cerrados e simplesmente me abraça. Não um simples abraço, um abraço realmente apetado.

– Quanto tempo! Que saudades. – falou ela.

Ao sentir seu abraço minha vontade era de chorar, mas não podia. Era como se nunca tivesse passado mais de uma semana sem ver ela. Senti meus braços se arrepiarem da sensação de nostalgia.

– Saudades também. – Ela me solta e continua me olhando.

– Uau, você está lindo. Que homem hein. – Falava me deixando sem graça. – Espera, você vai estudar aqui? Sério isso? – falou parecendo estar surpresa, porém contente.

– Sim, vim cursar Engenharia Química. – Sorri um pouco. – E você também?

– Aí minha santa imaculada, não acredito que vamos estar na mesma turma. – Ela parecia bem animada com a notícia, e isso me confortou um pouco.

Ela não tinha mudado, era a mesma pessoa doce e extrovertida... E principalmente de bom coração. Eu sei que não fugiremos daquela conversa sobre ter sumido, mas no momento ela só estava feliz em me ver. E confesso que eu também estava feliz em vê-la. Era como uma irmã, e agora eu sei que vacilei muito em ter me afastado dela e permitido com que perdêssemos o contato um com o outro.

– Isso, parece que vai ser ótimo. – Fui sincero.

A moça do balcão chama por seu nome e ela pede para que eu a esperasse. E assim o fiz. Sentei-me em um banco fora da sala enquanto esperava que concluísse sua matrícula. Não demorou muito e ela logo vem ao meu encontro.

– E aí, para onde vamos agora? Precisamos colocar os assuntos em dia, não é mesmo? – falou piscando para mim.

– Verdade. – Sorri um pouco envergonhado. Ainda não tinha me acostumado com a presença dela novamente. – Podíamos ir naquele lugar retrô perto de minha casa.

– Concordo. Faz tempo que não passo ali. – disse ela caminhando e olhando para trás. – Você não vem?

O sorriso da Amy era aconchegante, era impossível não me sentir em casa e acolhido perto dela. Segui ela e seu sorriso como um marinheiro encantado com o canto de uma sereia. Nossa, assim parece que sou apaixonado por ela?

...

Estávamos sentados esperando nosso pedido. Ela já tinha me deixado por dentro de algumas coisas que havia acontecido enquanto eu estava fora. Como tinha sido continuar sem mim todo esse tempo, em como conseguiu ser aprovada no vestibular. Ela mal mencionou o Thomas. Queria perguntar por ele, mas o orgulho era maior e preferia deixar por isso mesmo. Afinal ele não tinha me procurado, porque eu deveria procurá-lo.

– Amy... – comecei falando. – Sei que eu errei feio, em ter deixado vocês dessa forma de uma hora para outra e nem procurado manter contato. Mas queria pedir desculpas por isso. – Falava de cabeça baixa. Estava tentando ser honesto com ela. Dentre todos eu sei que precisava ser muito honesto com ela. – Eu não espero que você entenda, sabe? Mas foi complicado passar por aquilo que me aconteceu. Eu era muito inocente, e além de ser enganado, minha vida foi colocada em jogo para servir de chacota pública. Não soube lidar com mais nada depois.

Ela ouvia com atenção tudo que eu falava. Não estava disposto a explicar nada a ninguém. Mas depois que a vi, senti que tinha que falar. E eu sei que vim disposto a ser diferente e fazer tudo diferente. Eu cresci e amadureci, mesmo tendo muito do velho Adam comigo ainda. Mas não é porque eu mudei que eu necessariamente preciso jogar certas amizades e costumes fora. Eu não farei isso. Não com ela.

– Eu entendo. Sua mãe me falou o quanto você ficou mal... – Dizia ela. – Esperava que depois de um tempo você nos procurasse, mas não fez. Fiquei magoada sim, mas é passado. – Ela disse "nos" procurasse? No plural?

– Desculpa por isso. Foi uma escolha minha manter distância, assim como também não criar vínculos lá, sabia que iria voltar hora ou outra. Então tudo bem se você ainda estiver chateada.

Depois que falei isso um silêncio percorreu o lugar, parecia que estávamos presente em um velório. Na verdade, não passou muito tempo, mas o pouco tempo parecia uma eternidade.

– Como disse é passado, fiquei magoada, mas você está me explicando o que houve. – Finalmente ela quebrou o silêncio. – Não seria sua amiga se não tentasse entender.

Isso que ela falou me deixou feliz, de verdade. Eu precisava ouvir aquelas palavras para me sentir um pouco melhor e ter mais gás para continuar firme. Claro que eu não esperava que tudo voltasse a ser como antes de uma hora para outra, mas isso era um ótimo começo.

– Mas você está bem agora? – perguntou ela.

– Sim, estou sim. – Respondi. – E você como está? – engraçado que só pensos em perguntar como estávamos agora.

– Eu estou bem, terminei meu relacionamento com o Guilherme a um tempo atrás. Confesso que ainda sinto pelo término, mas foi o melhor para ambos.

– Nossa, uma pena. Vocês se davam tão bem.

– Sim, mas é melhor terminar antes que acabássemos criando ranço um do outro. – Sorriu.

– É tão bom estar com você. – disse a olhando.

– Eu sinto o mesmo. – respondeu.

Passamos mais alguns minutos ali conversando até que o lanche chegou. E depois conversamos mais. Realmente parecia que nunca tínhamos nos distanciado. Tudo bem que as conversas eram um pouco diferentes, tinham outras pautas mais "adultas". Mas no geral era a mesma coisa.

Combinamos de fazer várias coisas, e estava ansioso para fazer todas elas. A início tentei não marcar nada, nem criar nenhuma expectativa. Mas era a Amy, eu não ia fazer jogo duro com ela. Não mais.

A noite voltei reorganizar algumas coisas no meu quarto. Estava sentado no chão arrumando alguns livros quando minha mãe bate na porta.

– Oi filho, como foi hoje lá na faculdade? – pergunta ela.

– Ah mãe, normal. Ocorreu tudo bem. – Sorri. – Sim, adivinha quem vai estudar comigo? – falei parecendo empolgado.

– Quem?

– A Amélia. – disse sorrindo,

– Sério? Que bom. E você a viu?

– Passamos a tarde conversando. – falei satisfeito. – Eu não queria me aproximar de ninguém tão cedo, mas é a Amy mãe... E como a senhora me falou uma vez: devemos manter perto as pessoas que amamos. – Ela sorriu quando eu falei isso.

– Fico feliz que tenha tomado essa decisão. Não é bom guardar mágoas no coração. – Me deu um beijo no topo da cabeça e saiu em seguida.

Não vou guardar mágoas... Pelo menos não completamente. Algumas coisas não se podem concertar totalmente, sempre haverá pedaços faltando ou uma rachadura para lembrar do porquê não podemos esquecer o que aconteceu.

O céu pode estar limpo agora após a tempestade, mas os rastros dela ainda não se foram. E talvez eu precise disso para lembrar do porquê, hoje, eu consigo enxergar o céu azul. Então conhecer a dor deve ser a verdadeira lição, só assim não caminharei mais por esse lugar perigoso.

enquanto houver razões (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora